sexta-feira, outubro 18, 2002

Há uma semana, estão me perguntando incessantemente porque eu não atualizo essa porra de blog. Poderia alegar "n" razões (falta de tempo, falta de saco, falta de criatividade), mas estou, na verdade, com um monte de idéias, ou melhor, a cada dia tenho um monte de idéias sobre posts inúteis e as famosas "elucubrações" do título. O problema é que quero exorcizar primeiro os fantasmas da viagem e contar tudo o que aconteceu no Festival, mas fico insistindo em me lembrar de cada passo que dei, quando as lembranças já não são tão frescas assim. Vou fazer o seguinte então: começar a contar da noite de quinta, quando cheguei à cidadezinha de Reading. Reading é tudo aquilo que eu esperava de uma cidade do interior da Inglaterra. Parece tipicamente com aqueles lugares lá na Puta que o Pariu, onde alugamos casas em 20 pessoas pra passar o Carnaval ou Semana Santa. Com a diferença de que os prediozinhos são mais novos e não há barraquinhas de cachorro-quente nas ruas. Da estação de trem, ainda deveríamos (eu e a galera do expresso das 6 h) fazer uma bela caminhada (uns 25 minutos) até o local do festival, um grande acampado ao lado de um Centro de Convenções. Com a mochilona nas costas (um peso incrível, contando com a barraca e o saco de dormir), segui a horda de adolescentes, em sua maioria, das mais variadas cores, ao nosso único destino. Exausto e cansado de espantar cambistas, adentrei o site e vi a imensa burrada que cometera: achava que não haveria muitas pessoas já no local, mas pelo número incrivelmente grande de barracas já montadas, percebi que deveria ter gente ali que chegou uma semana depois do festival do ano passado. O acampamento se perdia no horizonte e os trailers/stands de comida, bebida e outros artefatos à venda (desde camisetas de bandas até "bongs" de maconha) delineavam o caminho a percorrer até o stand de troca de ingressos por pulseirinhas, primeiro e essencial passo ao se chegar. Constatei, arrasado, que teria que pegar um ônibus, diariamente, do local onde minha barraca seria montada até o palco. Por todo o acampamento, já se começava a ingestão de bebidas alcóolicas, outras substâncias desconhecidas e, provavelmente, já tinha gente fudendo também, enquanto fogueiras mil eram acesas, everywhere. A fumaça já incomodava e eu pressentia uma estadia difícil pra este velho cansado. Entrei na fila pra pegar a tal da pulseira e, de cara, reparei nos avisos imensos sobre como as pulseirinhas não seriam trocadas se arrebentassem, sob hipótese alguma. No wristband, no fuckin’ festival... Ótimo!! Pra piorar a situação, a menina que prendeu a porra da pulseira do meu pulso colocou de uma maneira tão larga, que a pulseira chegava até a metade do meu braço antes de ficar justa. Era só o que me faltava!! Mais um motivo extra pra me estressar. Xingando, fui logo montar acampamento em qualquer canto. Andei um bom pedaço em meio à balbúrdia e só fui me lembrando das dicas colhidas na Internet, dias antes de partir: fique longe dos banheiros!! Eles fedem o dia inteiro e explodem na última noite!! Fique perto dos chuveiros!! Melhor pra tomar banho, se possível... Consegui um espacinho colado na trilha que levava à arena, longe dos banheiros, mas não muito perto do local de banhos. Armei a barraca em tempo recorde. Resolvi comprar água e mantimentos no mercadinho da rua perto do site, mesmo tendo que caminhar por uns 20 minutos. Tranquei a barraca com cadeado (nunca deixe-a aberta, nem com coisas de valor dentro) e lá fui eu. Fui pedindo informações pra achar de novo o portão principal. O tempo foi passando e eu não parava de andar entre barracas. Engraçado... não parecia tão longe na vinda. Depois de uns 25 minutos ainda rodeado de fumaça, gente estranha e lonas coloridas, percebi que tinha me perdido. Feio. Desviado do meu rumo por informações erradas ou incompreensíveis, acabei me encontrando depois de quase uma hora. Comprei o que precisava e retornei cansado e com os olhos ardendo de exposição a fumaça. Abri a lata de Dr. Pepper que havia comprado, tomei um gole e fui começar a arrumar meu saco de dormir. Antes de começar a contar o meu drama, uma salva de palmas, por favor, pra aquele que é o melhor refrigerante do mundo!!!!!!! Putz,é uma frustração só poder beber essa maravilha quando viajo pro exterior. Em compensação, não bebo outra coisa, uma vez lá... Nesta noite, entretanto, o pobre do Dr. Pepper foi meu primeiro algoz. Ao esticar o saco de dormir, senti uma coisa molhada no chão da barraca e notei que tinha, inadvertidamente, derrubado a caralha da latinha. Inteira. Desesperei-me e fui obrigado a desperdiçar um rolo de papel higiênico só pra limpar a sujeira toda. O chão ficou meio melado. Meus olhos ainda ardiam. Comecei a sentir um frio incômodo. Parecia que estavam tentando me sabotar ou me colocando à prova pra permanecer ali e encarar o festival. Mandei um foda-se bem alto e me aprontei pra dormir. Eu ainda iria enfrentar a pior provação. Mas apaguei rápido de cansaço. Frio. Muito frio. Um frio de doer. Foi o que acordei de madrugada sentindo, por mais casacos e calças de moletom que estivesse vestindo. A barraca da Paula havia ficado úmida por fora, com o sereno, ou de chuva, sei lá. Mas a umidade acabou se infiltrando, transformando meu pequeno iglu num frigobar de motel. A diferença é que eu era a garrafa de cidra vagabunda dentro. Tentei me concentrar, mas levei quase duas horas pra conseguir dormir de novo, ainda batendo o queixo. No dia seguinte, de manhã bem cedinho, fui tomar alguma coisa quente e dar um pulo no centro de Reading. O negócio é acordar bem cedo pra dar tempo de fazer um monte de coisas antes dos shows começarem, ao meio-dia. Dá pra caminhar até o centro, tomar café lá (em frente à igrejinha da rua principal, tem uma galera da Casa de Caridade local que dá café, biscoito e suco de graça), comprar mantimentos no supermercado e ainda usar algum banheiro decente. No final das contas, ou a Síndrome do Ventre Preso Fora de Casa, ou a boa e velha sorte, fizeram com que eu não precisasse usar nenhum dos banheiros podres e nojentos do acampamento ou da arena. Aproveitei também pra descolar uma lona e um cobertor. Frio e barraca molhada, nunca mais!!! Às 11 e meia, entrei na arena. Ainda estava razoavelmente vazia, mas a emoção que me acometeu foi indescritível. Meu primeiro Reading Festival!!!!! Havia o palco principal, o palco do Evening Session, onde bandas menos famosas tocariam, o Carling Stage, onde se apresentariam bandas estreantes, uma tenda de shows de comédia e a tenda onde se revezariam line-ups de música eletrônica (sexta), punk/emo (sábado) e hip-hop (domingo). Eis a programação das bandas, que, com raras exceções, foi cumprida mais ou menos à risca: Meu primeiro show eleito seria o do Pretty Girls Make Graves, uma banda de Seattle, que se apropriou do título de uma música dos Smiths. O Rafael Muito Indie tinha me dito, mais de um mês antes, que achava essa banda a minha cara. Eu queria descobrir o porquê... Mas só vou contar amanhã...

quinta-feira, outubro 03, 2002

Bom, pra quem acha que eu fico o dia inteiro coçando o saco e pensando em mulher (hummm, até que não é má idéia para amanhã...), saibam que eu finalmente criei um site para armazenar os meus Diários originais. Teve gente aí que não os leu porque não teve acesso a eles, teve gente que já leu, adorou e quer ler de novo (cerca de 99,99% dentre vocês de minha lista de e-mails) e uns míseros sacripantas que receberam, não leram, mas pretendem se redimir deste ato sacrílego e, finalmente, saborear meus divertidíssimos textos. O link pra página está na barra lateral, mas a ordenação lá não ficou lá essas coisas. Passável. Ainda estou terminando mais uma parte da minha jornada londrina, mas postarei aqui embaixo o que já escrevi, ou o parco tempo livre que me sobra não vai me deixar terminar. Ah, bem que dizem que sexo demais causa cegueira e dislexia... PARTE II: Na manhã seguinte, quando pude perceber, ao tocar do despertador que coloquei ao lado do travesseiro (7:30 h, despertar bem cedo para aproveitar mais, mandamento número um do viajante), que o australiano fazia, propositalmente, um barulho absurdo, de luzes acesas, talvez para descontar a minha entrada na noite anterior, fiz questão de demonstrar, com todos os gestos teatrais, que estava de protetores de ouvido e tapa-olhos. Se fudeu, malandro, dormi incrivelmente bem, apesar de pouco. O pior é que ele acordou os demais, que, por sua vez, devem ter ficado putos com ele. Albergue é foda. Quer paz e sossego? Vai pra um hotel. Meu grande dilema, naquele dia, era a que horas iria pegar o trem para Reading. O festival começaria na sexta, mas, se eu quisesse levar a cabo minha insana idéia de acampar lá, tinha que chegar no máximo na quinta à noite para armar a barraca (STP – Sem Trocadilhos, Please), pegar a pulseirinha para entrar na arena e fazer alguns planejamentos, sem confusão. A estação de Reading ficava a cerca de 35 minutos do terminal de London Waterloo. Vejam bem quais as questões a considerar em época de festival (e aí já vão as dicas para quem vai, assim como eu, novamente, no ano que vem): a) acomodação – o ingresso para o fim-de-semana já dá direito a estacionamento e acampamento, sem qualquer adicional. Indo para lá na quinta e voltando na segunda, você já economiza de cara as diárias do albergue (no meu caso, 15 x 4 = 60 libras). Hotelzinho em Reading, só se você reservar uns 6 meses antes e ainda vai pagar mais caro do que em Londres. Reading é do tamanho de um ovo. Já vi campi (plural de “campus”, seus burros) de universidades maiores do que aquela porra; b) transporte – a passagem de trem, ida e volta, custa em torno de 20 libras. Esse é inevitável, o mínimo que você vai gastar. Quem quiser ir e voltar todos os dias para Londres vai desembolsar mais 40 libras (considerando que só precisa ir na sexta, dia do início). E ainda corre o risco de perder ou o trem de volta ou um dos últimos shows. Os últimos trens são entre meia-noite e meia-noite e meia. Só no último dia tem trem de madrugada. Quem quis ver B.R.M.C. este ano, por exemplo, deve ter ficado a pé. São uns 20/25 minutos de caminhada do local do festival até o centro de Reading. c) Alimentação – bom, pra comer, é caro de qualquer jeito. Mas, com um lugar fixo (seja barraca ou hotel), você pode comprar mantimentos no supermercado do centro, pela manhã, alimentar-se bem antes dos shows e beliscar algo nas barraquinhas de vez em quando. A comida não é grande coisa, é mais cara do que deveria e nem passa perto de ser confiável quanto à higiene. Cerveja, forget about it. Não bebi uma só gota de álcool. O copo de 400 ml, lá dentro, era caríssimo e vinha quente. Como não fiz festa no acampamento, foi meu festival mais sóbrio até hoje. No final das contas, o que vai pesar mesmo é o conforto. Por tudo o que virei a narrar em posterior relato, acampar não foi exatamente a melhor idéia do mundo, longe disso, mas era a mais aceitável dentro das circunstâncias (falta de planejamento e pouca grana). No ano que vem, pretendo descolar algo em Reading mesmo, no conforto de uma caminha. Não tenho mais idade pra esses perrengues. Bom, decidi ir à estação de Waterloo a pé, pela margem Sul do Tâmisa, para apreciar a paisagem e conhecer os pontos turísticos de Southwark e South Bank. Comecei tirando fotos da London Bridge, bem na minha cara, e fui caminhando tranqüilamente, o que contrastava com o passo apressado dos executivos e secretárias que iam pro trabalho. Do outro lado do rio, a Catedral de St. Paul e a Torre de Londres despontavam no horizonte. Saí um pouco da margem para conferir a velha Clink Prison e o Rose, velho teatro que competia com o Globe, do Shakespeare, apresentando as peças do seu rival Christopher Marlowe. Voltando pra margem, deparei-me com o próprio Globe, ou melhor, uma fiel reconstituição, construída a poucos metros de onde ficava o original, que pegou fogo no Grande Incêndio de 1666, que destruiu boa parte da cidade. Impressionante, mas, como em todos os outros museus e atrações pagas de Londres, eu não iria pagar pra entrar. Fica pra próxima. SOBRE PRESENTES: Adoro dar presentes. Quem me conhece bem, sabe disso. Ganhar, é muito bom, mas tive experiências desagradáveis com presentes no passado, ainda fico meio ressabiado. O grande problema é que sou avesso a comemorações de aniversário. Minhas, é claro. Geralmente, fujo ou trato com indiferença, mesmo que finja me importar quando alguém se esquece. Na última vez em que dei um festão pra geral, churrascaço, 10 caixas de cerveja, aluguel de salão e tudo (foi em 1998), tomei uma porrada de graça no show do Prodigy do Metropolitan, 3 dias antes, abri a parede interna da minha boca e fiquei tomando antibiótico pra desinchar. Resultado: não pude beber álcool, nem comer direito na minha própria festa. Voltei a ter ojeriza a comemorações. Neste ano, passou quase em branco. No ano que vem, estarei na Europa. Pois bem, por mais de 2 anos, namorei o quadro abaixo: Chama-se "Kiss V" e é o quinto de uma série de gravuras de Roy Lichtenstein, americano, meu artista predileto da Pop Art. Era o que eu sempre quis pra sala do meu apê. Nunca consegui achar o formato retangular, que era o desejado, mas decidi, neste ano, finalmente, comprar o poster e emoldurá-lo. Não trouxe de Londres para não amassar. Pois é: sabem o que aconteceu? NO MEU PRIMEIRO DIA DE TRABALHO, MEUS COLEGAS MAIS PRÓXIMOS ME DERAM O QUADRO DE PRESENTE!!!! Haviam planejado isso (um grupo de 8 pessoas) mais de um mês antes, encomendado o poster do exterior e mandado enquadrar. Cara, eu nem acreditei!!! Fiquei incrivelmente emocionado...Gente, eu adoro vocês!!!!!!!! Mesmo!!!!!!!!!!!!!! putz, junto com os deliciosos brigadeiros de limão que a minha querida amiga Lilian me preparou (junto com uma cartinha de amizade pra lá de fofa), foi o único presente que ganhei de aniversário!! Agora lá está ele, onde sempre deveria estar: na parede da minha sala de estar... Juro que amanhã eu posto mais... depois da festa do Focka e do Tchelo na Funhouse... Ah, só pra lembrar:
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