E foi num átimo de segundo em que eu olhava pra menina ao lado, dançando Sebadoh sem pensar no amanhã, que o tempo parou. E eu me vi estranhamente preso num limbo temporal em que só eu me mexia, sob os olhares inertes e congelados da pista lotada, no silêncio repentino da música que não mais tocava. Um momento imensurável, já que o tempo não era mais tempo, o relógio não mais corria e nem o vento circulava mais. Mas com o mundo em animação suspensa, sumiram de imediato todas as razões de minha ansiedade. O trabalho do dia seguinte, o compromisso inadiável do fim-de-semana, a tensão em ver a pessoa amada com outro, a música ruim que não incitava à dança. Calou-se o bêbado que insistia em perturbar, parou de correr o sangue do dedo cortado pela lata de cerveja, desapareceu a menina que não me queria, cessou a fofoca a me difamar entre pseudo-amigos. Eu não era mais o ex-bêbado, o ex-fotologger, o ex-mulherengo, era tudo, menos o ex-qualquer coisa. Eu continuava, os outros é que pararam. Um momento imensurável, que passou logo em seguida. Ou teriam sido horas, meses, anos depois? Tudo o que sei é que a música voltou a tocar, as pessoas voltaram a dançar e circular, a ansiedade voltou a atacar.
Preciso de mais momentos assim, mesmo que eu envelheça ligeiramente mais rápido do que as outras pessoas congeladas no tempo.
Preciso de mais momentos assim, mesmo que eu envelheça ligeiramente mais rápido do que as outras pessoas congeladas no tempo.