quarta-feira, maio 09, 2007

FREAK MAGNET

Eu definitivamente não gosto de dirigir aos sábados. O que normalmente seria um ato prazeroso, conduzir meu carro (velho) pelas ruas da Zona Sul ou mesmo pelos quase 60 km que separam minha casa, em Botafogo, de Campo Grande, terra natal e de visita familiar obrigatória, torna-se um fardo. Não que a freqüente ressaca da noite de sexta incomode. Um pouco, na verdade, principalmente quando a claridade não me deixa esquecer de que tenho fotofobia. Mas o problema real é o resto dos motoristas.

Não, não tenho delírios de grandeza, achando que a rua só pertence a mim, mas é fato que a maior parte das pessoas que não dirige durante a semana escolhe fazê-lo no sábado. O mala que esbarra sem pedir licença no metrô e pisa no seu pé sem se desculpar transforma-se no dono do Celta à sua frente que não sinaliza pra virar à direita e ainda te dá uma fechada. E se eu tenho alguma doença mental facilmente diagnosticável e um tanto quanto agressiva, é "road rage".

Lembram-se do desenho do Pateta que passava vez ou outra na Disneylândia, aos sábados? Bom, se você tem menos de 30, nem ouse responder. Então, é mais ou menos como me sinto. Não que eu pratique a direção perigosa, mas perco a paciência muito fácil com maus motoristas, gente lerda ou apressadinha, e costumo gesticular e xingar pela janela quem me desagrada. É uma experiência e tanto sentar-se ao meu lado no banco de carona. Mas nada, nada mesmo, se compara aos motoristas de Jesus.

Chamo deste singelo nome aqueles que possuem em seu carro, na parte traseira, algum adesivo que traz o nome de Deus ou Jesus (principalmente este último) ou faz referência a algum dos dois, geralmente um carro velho. Não é nenhuma novidade que são os indivíduos que mais merdas fazem ao volante. Ou trancam a rua com a lerdeza. O que há com estas pessoas? Será que o adesivo lhes confere um ar de permissividade pra fazer o que quiserem? Ou estarão levando Jesus dentro do carro? "Sabe como é, o cara tá meio pregado, tenho que dirigir devagar, né? Quebra essa!"

Divindades e automóveis não deveriam se misturar. O quanto de humor negro havia naquela frase enorme pintada num muro da Av. Brasil, na altura de Vista Alegre, na curva mais perigosa do trajeto? Era parar pra ler "O Senhor é meu pastor, nada me faltaráaaaa...." POF! Batia o carro na mureta.

Voltando pela dita cuja, já é noite, pára uma lesma na minha frente. Não de verdade, mas a minha velocidade no momento em que ele entrou na pista de ultrapassagem foi reduzida tão drasticamente que em algum momento perdido nas aulas de Física alguma variável deve ter chegado a zero. Não deu outra. Estava lá colado: "DEUS ESTÁ NA DIREÇÃO". Balançava a cabeça de desgosto, quando notei outro adesivo, azul, ao lado: um bonequinho sentado numa cadeira de rodas. Indicativo de veículo de deficiente físico.

PUTAQUEOPARIU!!! DEUS É PARAPLÉGICO!!!

Bom, isso explicaria muita coisa. Teríamos que renomear "justiça divina" para "rolamentos lubrificados". Mas não explica a onisciência Dele funcionando se estava ali, lugar perigoso, àquela hora. A minha mente foi invadida por milhares de conexões. Deus. Jesus. Roberto Carlos. Perna Mecânica. Mas vou ficar quieto. Não quero que este site seja tirado do ar pelo Rei. Hmmm, Rei, Deus, vai saber, não?

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Seguindo a dica de amigas e movido por pura curiosidade mórbida, estou envolvido no momento em uma experiência antropológica que deve durar uns 3 meses. Depois que tirar as conclusões, conto tudo aqui. No mínimo, será divertido.


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Deus, sai dessa cadeira e dá pernas ao Mengão hoje pra meter 4 x 0!!!!

quinta-feira, maio 03, 2007

ENTÃO...

De uma hora pra outra, decidi atualizar esta joça. Procurei me convencer de que ainda existe alguém interessado em ler, formulei mentalmente frases completas e até comprei o Manual de Redação do Estadão. Se é pra escrever, que seja de forma contemporânea.

Não prometo nada. Não vou me esforçar para que as palavras soem interessantes, engraçadas ou mesmo contemplativas. Vão sair de maneira natural, à medida que escrevo, revisões à parte, claro.

Também não farei o mínimo esforço para alterar a aparência dele. Fundo branco, letras vermelhas (negras no Firefox), assim sempre foi, assim será. E continuem não esperando espaço para comentários. Não me interessa a opinião de vocês e não preciso de elogios para saber de minhas qualidades ou ofensas para o oposto, ou seja, vocês saberem dessas qualidades e me odiarem porque não as têm.

Eu tenho Transtorno Obsessivo-Compulsivo, popularmente conhecido como TOC. Ao sair de casa, dou uma checada em todos os cômodos, tirando plugues da tomada (exceto geladeira), fechando registros de gás, desligando coisas. Às vezes, mais de uma vez. Tenho a mais absoluta e inquestionável certeza de que um dia meu apartamento arderá em chamas, após um curto-circuito fulminante.

Este blog é a certeza de que, quando somente me restar a roupa do corpo e a carteira (o celular estará em casa carregando, provavelmente o responsável pelo curto), eu ainda terei hospedado na rede um pedaço de minhas memórias, conjecturações e outras nomenclaturas para “falta do que fazer”, que constituem este sítio.

“Sítio”, aliás, é tão mais agradável de se falar do que “site”, eu não entendo esses anglicismos desnecessários. Ok, uso assim mesmo, cansei de nadar contra a maré. Recuso-me terminantemente a dizer “uploadar”, assim como acho engraçadíssimo quem diz “realizar” no sentido de “perceber”. Nem vou entrar no mérito de “Me add aí”.

Analogamente, não me vejo contando a história a seguir com o prólogo “Segui rumo ao aeroporto de Congonhas, com um guépe razoável pra se fazer o chéquim e rezando pra não ter overbúqui”. Descartarei, portanto, toda a frase. Jamais me preocupei com overbúqui, seria uma mentira, ora.

Bastaria começar dizendo que não gosto de voar. Acho importante pela relação custo-benefício, particularmente no quesito “tempo”, mas jamais apreciei o ato em si. Encaro como útil em vôos domésticos e imprescindível em vôos internacionais. O que não me impede de ficar desconfortável do momento da decolagem ao da aterrissagem, incluindo aí, em especial, os próprios momentos.

Não chego a ter ataques de pânico e encaro com relativa calma áreas de turbulência e avisos como “não temos autorização para aterrissar, vamos sobrevoar a cidade por mais uns 30 minutos”, isso muito antes de descobrirmos que nossos controladores de vôo tupiniquins trabalham em condições precárias e têm que tomar conta de 374 aviões ao mesmo tempo, com uma mão só e assoviando o hino nacional. Mas não adianta me esfregar planilhas e estatísticas na cara dizendo o quanto voar é mais seguro do que andar de carro, isso pra mim é inaceitável, na condição de medroso.

Quem tem total e irrestrita ausência de medo de aviões e nunca pegou a Ponte Aérea, sentido SP-RJ, não colocou à prova essa bravata. Não há melhor experiência pra se testar a alegada coragem, principalmente à noite, quando a minúscula pista do Aeroporto Santos Dumont mal dá pra ser notada. Ver o avião dar diversas voltas na Baía de Guanabara, descendo e desacelerando, esquecer a vista esplendorosa, olhar pela janela e só ver água, água, mais água, ainda água, até que a pista aparece do nada, quase no nível do solo.

Acho que é o mais próximo a que consigo chegar de uma situação de pavor, se isso significa conter a respiração e apertar o cu. Incomparável.

O vôo da noite de terça, volta do feriadão, foi mais do que tranqüilo, atraso inferior a uma hora, boa decolagem, vôo mais rápido pra compensar a demora, nenhuma criança a bordo (uma dádiva) e aterrissagem suave. Até a minha mala foi a terceira a aparecer na esteira. Menos um motivo para tensão. Direto para a fila do táxi comum, ultrapassando a velhinha que andava lentamente à minha frente. Dona Mariana, Botafogo, entre a Mena Barreto e a General Polidoro, por favor.

O táxi começou a bater na carroceria, tal qual eu imaginaria uma fuselagem se partindo em despressurização. O motorista dirigia pelo Aterro a mais de 100 km/h, freando (bruscamente) só ao se aproximar dos pardais. Nos 10 minutos que levei pra chegar em casa, surpreendentemente inteiro, só me sobrou segurar firme no “putaquiupariu” e amaldiçoar o cara das planilhas e estatísticas pela risada que deveria estar dando. Ah, e jamais roubar o lugar de uma velhinha novamente.

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