terça-feira, dezembro 02, 2008

MALLU É O CACETE

Transitando por Copa hoje, de dentro do ônibus, avistei na parede de um prédio na esquina da Princesa Isabel com Barata Ribeiro um outdoor enorme com uma propaganda da Motorola (ou Vivo) com a Mallu Magalhães. Há mais de 3 meses escrevi um texto sobre a razão de não gostar dessa menina para o site do Bacana. Até hoje meu texto não foi utilizado, isso porque tinha sido encomendado. Como não ganhei porra nenhuma para escrevê-lo e as palavras são de minha autoria, utilizo do meu francês fluente para mandar um fodassê e posto aqui o meu texto. Claro, mais ultrapassado do que nunca, já que Sandy casou-se, Mallu resolveu escandalizar meio mundo ao se envolver com um camelo velho e mostrou-se efetivamente retardada mental na mais recente entrevista pra revista Época. Antes que a nossa paciência com o assunto recorrente se vá, ei-lo, finalmente, no ar.


POR QUE EU NÃO GOSTO DE MALLU MAGALHÃES


“Quem?” – pergunta a minha amiga cinéfila, ao meu lado, à menção da incumbência de escrever o presente texto. Tenho que explicar resumidamente o conto da menina de 15 anos, fã de Bob Dylan, que apareceu no MySpace tocando folk e foi parar na capa da Folha, em vinhetas da MTV, propaganda de celular e no Prêmio Multishow, no espaço de seis meses.

Sinal dos tempos que mesmo uma amiga antenada como a minha não tenha ouvido falar do suposto fenômeno pop brasileiro. O excesso de informação consegue efetivamente causar estas distorções, onde pop deixa de ser abreviatura de “popular” e passa a ser um evento localizado, dentro de um universo limitado e, na maior parte das vezes, umbiguista. Assim, entre o playboy lutador de jiu-jitsu da Zona Sul carioca que desconhece as novas bandas preferidas da semana no NME e o integrante do BBB que não sabe quem é Jack Nicholson encontram-se os ignorantes da existência de Mallu Magalhães. Claro, em algum ponto longe de qualquer interseção está gente como os meus pais, que sequer poderiam dizer o que significam siglas como MTV, NME e BBB.

Parte da minha tarefa ingrata, então, de ser o advogado do diabo e tentar enumerar as razões do título, decorre do fato de não ter tido o deleite de me encontrar fora do universo onde Mallu existe. Nessa condição, sou bombardeado de todos os lados pelo tipo mais pegajoso de adulação, geralmente dedicado a recém-nascidos, que não consigo mesmo achar fofos, já que todos têm cara de joelho. E quando a maioria dos elogios bajuladores vem de jornalistas já com tantos anos de estrada quanto de bagagem cultural e notoriedade, eu realmente preciso sentar e procurar com calma o ponto exato onde as pessoas ficaram tão babonas.

É crime no Brasil ser incensado na mídia e mesmo assim permanecer à margem dos parâmetros do mainstream? Claro que não. Já tínhamos o CSS (taí, mais uma sigla pra mamãe e papai) pra demonstrar o contrário. Não é argumento, logo, que se detone a menina porque ela canta em inglês e foi “descoberta” em um site estrangeiro. Não é esse o problema. Eu sou carioca da gema e odeio cachaça, samba, banana e feijão. Longe de mim com esse papo de “brasilidade”.

Mas, alô? Onde exatamente está a revelação do pop nesta menina? Concordo, ela parece fofa e encantadora como toda adolescente tímida com rostinho de criança. Mas não são assim pelo menos 50% das adolescentes de classe média com um pingo de senso de moda? E as músicas, então? Ora, resgate-se a teoria atribuída a Thomas Huxley, dos inúmeros macacos diante de inúmeras máquinas de escrever com potencial de eventualmente escreverem toda a obra de Shakespeare e em cada colégio de cada capital brasileira podem-se encontrar pelo menos 5 Mallus. Neste país, nivela-se tanto por baixo que às vezes parece não existir diferença entre o bem-feito e o fenômeno no mundo da música. O que de cara já é uma tremenda injustiça com gente como Ed Motta, por exemplo, que já era, este sim, um prodígio aos 16 anos.

Não consigo acompanhar esse inconsciente coletivo de fofura e admiração que se desenvolve nas pessoas de bom senso quando elas se deparam com uma aparente exceção ao estereótipo que esperavam encontrar em seu lugar. Assim, o crítico quarentão talvez veja ali a namorada que gostaria de ter tido na sua adolescência sofrida, recluso entre o quarto, onde ouvia bandas de que seus amigos não gostavam, e o banheiro, onde sublimava as frustrações amorosas. Ou a filha que adoraria embalar, ao som de artistas que ela já diz amar de coração, ele mesmo tendo levado décadas pra assumir em público o seu gosto musical. Oportunismo? Sim, talvez, uma necessidade de se ter a versão brasileira da heroína do filme “Juno”, coincidentemente (ou não) contemporâneo a Mallu.

Eu fico sem saber o que pensar dos jovens normais de 15 anos de hoje em dia. Por um lado, olho com muita desconfiança para adolescentes que só gostam de folk, Bob Dylan e Johnny Cash. Eu acho muito mais normal e saudável que eles se pareçam com a Miley Cyrus / Hannah Montana, capaz de fazer um programa infantil em uma semana, deitar no colo do namorado e mostrar o corpo semi-desnudo na outra, pedir desculpas ao público na terceira e voltar a mostrar a lingerie no MySpace na seguinte. Afinal, adolescência pra mim significa “hormônios”. E hormônios, Bob Dylan e Johnny Cash no mesmo encadeamento de idéias é quase doentio.

Por outro lado, e aí talvez se encontre o pior do que tem a mostrar, é essa imagem de menina querendo ser grandinha e criança ao mesmo tempo. Se eu não me engano, as meninas de 15 querem chegar logo aos 18 e fazem o possível pra se comportar como adultas. E se a tal exceção ao lugar-comum que tanto louvam é uma débil mental que vai ao programa do Jô dizer que “adora massinha”, canta refrões como “Tchubaruba” e demonstra ter dois neurônios apenas, com um passando o dia a dizer “calma, vai ficar tudo bem” ao outro, eu peço, por favor, que evitem falar nessa menina na minha presença a partir de agora.

E eu não gosto de folk, daí nem ao menos dar relevância para o tipo de som que MM, ou M&M, ou mesmo Eminem, tudo apropriado a título de produto, oferece. E se fosse para ser maldoso, eu utilizaria como (mau) exemplo gente como o Vinny, que precisou passar por “Heloísa, Mexe a Cadeira” e ser escorraçado pela crítica pra começar a tocar folk baseado em, adivinhem só, Dylan e Cash, segundo o próprio. Um primor de influência.

Nada contra a senhorita Maria Luisa de Arruda Botelho Pereira de Magalhães, esta adolescente com nome de ilustre colunável. Segundo ouvi falar, esta é esperta, um doce de menina, escreve bem e tem vários possíveis futuros promissores. Mas o produto criado por ela ou por quem quer que esteja por trás dela (sem trocadilhos, afinal, a moça é dimenor), a “retardada do folk”, como bem dizem meus amigos, é capaz de se incutir tão negativamente como imbecil no meu inconsciente que se tornará um verdadeiro axioma, assim como, obviamente, mulheres não fazem cocô e Sandy ainda é virgem aos 25 anos.

terça-feira, novembro 11, 2008

FESTA NO QUARTEIRÃO

Eu deveria agradecer aos céus por essa constante afirmação, embora espaçada, de que eu devo continuar vivendo do jeito que vivo, viajando pelo mundo anualmente, enquanto contemporâneos adquirem casa própria, e selecionando destinos pelos festivais de música a que posso comparecer em cada um deles, em detrimento de qualquer outro tipo de planejamento mais abrangente.

Deveria ajoelhar e rezar, principalmente, por ter feito coisas como subido no WTC antes das torres virem ao chão e visto Guided By Voices, At The Drive-In e McClusky ao vivo antes dos respectivos fins. Eu estou certo. Qualquer um que discorde de mim está errado. Simples assim.

Idêntica é a maneira como vejo a música, sinestesia inclusa. Uma canção independe de qualquer critério que não se refira, exclusivamente, ao modo como entra nos meus ouvidos. Vai direto daí ao coração, sequer transita pela razão. Algumas canções, de modo mais intenso do que outras. Mas todas seguem o mesmo trajeto. Da mesma forma, são rejeitadas sem maior análise.

A partir do momento em que me dei conta desse funcionamento, sabia que jamais poderia ser crítico ou jornalista musical. E desprezo a opinião de cada um deles. O que é bom é o que eu gosto, verdade irrefutável e absoluta. Imperfeito aos olhos de muitos, incoerente na opinião de vários, mas verdadeiro e absoluto em mim mesmo, sem a mínima necessidade de conserto ou complementação.

E assim foi a terceira afirmação de 2008. Ela me leva a querer agradecer a um ente superior e forçar uma religiosidade que eu nunca tive, mas é só mais um resultado empírico desta filosofia. Se ela tivesse vindo de outra maneira, eu jamais poderia sentir tamanha alegria e alma lavada ao ter voltado do Circo Voador e presenciado o que foi o melhor show do Bloc Party dentre sete diferentes que conferi, ao todo, entre 2004 e a noite desta segunda.

Lamento profundamente por cada mortal fã da banda, ou que gosta de música da mesma maneira que eu gosto, que não estava presente no caldeirão da Lapa a partir das 23h. E fodam-se de coração os detratores. Mas olhem só, este blog saiu da inatividade.

Set-list:

Hunting For Witches
Positive Tension
Blue Light
Trojan Horse
Song For Clay
Banquet
Letter To My Son
Talons
Mercury
This Modern Love
The Prayer
Like Eating Glass

Primeiro bis:

Ares
Ion Square
Flux
Helicopter

Segundo bis:

Price Of Gas
She's Hearing Voices


terça-feira, agosto 12, 2008

O SOLE MIO

Vejam só vocês, o gondoleiro cantando aqui embaixo do hotel, num dos pequenos canais de Veneza, e eu digitando estas tortas linhas, bebendo um Nero D'Avola, da Sicília, minha melhor descoberta de pseudo-connaisseur aqui, comendo um panino caseiro de grana padano com prosciutto crudo, prestes a rumar ao Café Blue, único bar na cidade com wi-fi, gratuito ainda por cima. Comunicação na região de Veneto não é lá essas coisas, a Internet é caríssima e a oferta é pouca. Talvez pra compensar a beleza a cada ponte e o excesso de turistas. Desde que cheguei, aliás, fico espantado com a quantidade destes. Sei que a época é ingrata, mas chego a duvidar se haverá algum mês do ano em que não infestem lugares como aqui e a Toscana. Já sei, de qualquer forma, que jamais retornarei nos meses entre junho e setembro.

Chego quase ao fim da minha turnê italiana, que amanhã continua em seu destino final, Milão, com passagem em Verona, terra de Romeu e Julieta. O saldo, até agora, é indescritível, entre obras de arte apreciadas a olho nu, paisagens paradisíacas, vinhos sorvidos e iguarias degustadas. Um milhão de anos mais sábio, uns 5 quilos mais gordo e incontestavelmente mais feliz, encontro-me na metade total da minha viagem (exatos 15 dias) um homem plenamente ciente de seu destino, conhecer o mundo, e bem mais seletivo em relação a várias coisas. Entre as mais banais, acho que jamais conseguirei comer uma lasanha de novo no Brasil. Ou um panino. Ou um spaghetti alla carbonara. Queria ter podido atualizar isto aqui melhor, mas é um trabalho hercúleo apreciar tudo e contar ao mesmo tempo com a rapidez da rede pra fazer upload das fotos e ter tempo e disposição pra colocar descrições em cada uma delas. Aos poucos vai, calma.

Enquanto isso, posto aqui embaixo o roteiro do segundo dia de viagem, ainda em Roma, aguardando que em Milão eu consiga postar bem mais antes de deixar o país. Eis, então, o diario de bordo:

ROMA - 29/07/2008

Deve ser difícil tentar criar uma metrópole numa cidade histórica onde as gerações vêm se auto-predando à guisa de progresso. Assim, quem está no poder quer impor sua própria idéia de renovação ao pé da letra: jogue-se fora o velho, reconstruamos tudo. Ou melhor, construamos em cima. Assim, quase tudo o que não sobrou em Roma a olhos vistos foi sendo descoberto em escavações e assim continua.

O metrô em Roma não é pequeno à toa. A cada buraco que se abre, o risco de se encontrar artefatos ou mesmo partes inteiras de civilizações antigas é grande. A linha C, ainda em fase de construção, pretende integrar as duas experiências, andar de metrô e admirar antiguidades e ruínas, através de vidraças nos carros. Assisti a um filme interessantíssimo no Museu Capitolini sobre as escavações do Forum Imperial, no começo do séc.XX. Dezenas de prédios e casas desapropriadas pelo Governo para demolição e escavação da área para descobrimento dos fóruns de Trajano, César, Nerva e Augusto.

Mas, como eu disse no primeiro parágrafo, essa noção da importância de se descobrir o passado e preservá-lo dependia muito de quem mandava, pelo menos até o fim da Segunda Guerra. Assim, tão logo o cristianismo deixou de ser proibido e o papado subiu ao poder, igrejas foram construídas com material retirado das ruínas dos templos romanos, mesmo os que ainda estavam em bom estado de conservação. Rei morto, rei posto. Devolva-se aos pagãos malditos o sofrimento que nos impuseram, diriam. O coliseu, já desativado, por um bom tempo foi considerado mero canteiro de matéria-prima.

Com o Renascimento, a coisa piorou. É fácil encontrar colunas romanas suportando igrejas cristãs, uma verdadeira pilhagem. Os papas e renascentistas conseguiram depredar o que invasores inimigos dos césares não tinham almejado. Depois desse período negro, a coisa melhorou, com as escavações cada vez mais voltadas para preservação e até as intervenção de milionários que compravam as antigas propriedades e as conservavam com cuidado. O único período mais recente que ousou retomar o processo foi o Governo de Il Duce (pra quem não sabe, Mussolini), que quase detonou o que sobrou das ruínas pra pavimentar o seu império fascista.

E é por isso, senhoras e senhores, que vemos tantas ruínas em Roma. Mais do que a ação do tempo, foi a ação (e omissão) do próprio homem que por pouco não apagou os traços da cultura antiga.

Agora, um pequeno sumário sobre os principais governantes da Roma Antiga:

1) A República terminou com Júlio César, "eterno aqui nessa Brasila", que se auto-proclamou ditador e foi assassinado em 44 a.C. por uma conspiração, causando uma disputa ferrenha e duradoura por seu posto, que acabou ocupado por seu herdeiro Otávio Augusto, derrotando o playboyzinho Marco Antônio e sua biatch Cleópatra.

2) Começou aí a era Júlio-Claudiana, de 27 a.C. a 68 d.C. que teve um crescimento acelerado de Roma como centro do Império mais poderoso e crescente do mundo. Otávio manteve a ordem e o crescimento na melhor fase imperial, que não foi atrapalhado nem pela loucura do pervertido Calígula ou do excêntrico Nero;

3) Depois que Nero morreu, veio a era Flaviana, que não fedeu nem cheirou e ficou de 69 a 96 d.C.;

4) Entrou aí Trajano, em 98 d.C. que ganhou várias rodadas de WAR e conquistou geral, aumentando o império e começando a dinastia Antonina, a era dos imperadores intelectuais. Em 117 d.C. entrou Adriano, responsável pela inauguração do Coliseu, e, em 130 d.C., Marco Aurélio. Severo, que entrou em 146 d.C., no meio do seu reinado, fundou a dinastia Severiana (ou seria Severina?)

5) A coisa começou a degringolar com um bando de governantes sem personalidade e a chapa esquentou, quando entrou o general Diocleciano em 284 d.C. e dividiu o império em 4 partes. Entrou Constantino em 272 d.C. e acabou com a graça. Foi a pessoa que mais mudou a religião no mundo depois de Cristo, já que lançou em 313 d.C. o Édito de Milão e liberou geral as religiões, principalmente o Cristianismo, que era clandestino até então.

6) Quando fundou Constantinopla e começou o Império Bizantino, acabou-se o que era doce pro Império Romano, que ainda seria invadido pelos visigodos e cairia de vez em 476 d.C.

Meu segundo dia começou bem cedo. Com a cidade invadida por hordas de turistas bárbaros, chegar cedo aos locais mais disputados era imperioso. O coliseu foi minha primeira parada. Abismado pela degradação imposta e mesmo assim admirando a restauração em curso lento (visível em algumas fotos no meu Flickr), percorri em uma hora suas diversas partes, até com um filminho bem infame, que você pode ver aqui (piadas referenciais não explicadas, vão estudar, seus animais). Hora de encarar a maior tarefa: o Fórum Romano, bem em frente.

Ao entrar, a Basílica Emilia, ao lado direito, de que se pode ver apenas os destroços de paredes e o que sobrou das colunas (só a base de mais de vinte delas). O lado esquerdo mostra o templo de Antoninus e Faustina, que tentaram inutilmente derrubar, construindo-se a Igreja de San Lorenzo de Miranda dentro dele. À frente, a pequena Regia, onde o Pontifex Maximus, ancestral do Papa, tinha seu escritório, também reduzida a alguns restos. Ao lado, mais erodido do que derrubado, o Templo do Divino Júlio, homenagem de Augusto ao finado Julio César, que ali mesmo foi cremado e onde a cada 12/07, dia do seu aniversário, as pessoas colocam flores no local da pira crematória.

Fiz o caminho da esquerda, passando pelo templo de Rômulo (filho do imperador Maxentius, não o fundador de Roma). O cadeado do séc. IV ainda funciona. Mais à frente, as ruínas gigantescas da Basílica de Maxentius e Constantino. Isso porque um começou e foi deposto pelo segundo, que terminou a obra. Sobre o Templo de Venus e Apolo, de Adriano, do qual só sobrou a parede de fundo, visível do Coliseu, foi construída a igreja de Santa Francesca Romana. No corredor ao lado, que sai no coliseu e também tem uma escada para o Monte Palatino, o templo de Júpiter Stator e o imponente Arco de Tito, construído por seu irmão Domiciano.

Voltando pelo corredor que passa a necrópolis (sepulturas), acabei na Casa das Virgens Vestais. As Vestais eram seis ou sete meninas escolhidas em famílias de renome, quando crianças, pra viver de regalias, conservar o Fogo Eterno, uma chama que ficava sempre acesa, e várias outras incumbências dotadas de poder, como perdoar presos e dar decisões importantes. Mas pra isso, tcharan... não podiam dar. Se perdessem a virgindade, eram enterradas vivas, pois o sangue delas era sagrado e não podia ser derrubado. Como elas deveriam servir por 30 anos e a expectativa de vida na época era de 35, não sobrava muito tempo pra tirar o atraso. Diz a lenda que muitas delas conseguiam dar um jeito de trepar pelas suas altas influências. Sabe-se que Calígula, por exemplo, dizia ter visões divinas que denunciavam algumas como não mais virgens, só pra que ele pudesse transar. E, claro, a maioria acabava virando lésbica.

Inclusive, teria sido uma das virgens vestais, conta a lenda, que foi impregnada pelo deus da guerra Marte e deu a luz a Rômulo e Remo, sendo o primeiro o fundador de Roma.

Descrever cada um dos templos é uma tarefa maçante e pouco interessante pra quem não está vendo. Assim, ressalto a importância da Cloaca Maxima, o sistema avançadíssimo de águas e esgotos, para a época; o Senado, em cujos degraus todo mundo acha que Júlio César foi esfaqueado, quando na verdade a conspiração (até tu, Brutus?) aconteceu num teatro perto do Campo Dei Fiori; e o Templo De Saturno, onde acontecia a Saturnalia, bacanal generalizado com putaria para todos os gostos.

Depois dessa jornada, era hora de pegar um arzinho mais fresco, dentro do Museu Capitolini, na praça do Campidoglio, no topo da Via Dei Fori Imperiali. Com uma impressionante coleção de esculturas romanas, entre as quais a estátua de Marco Aurélio, cujo projeto de restauração envolveu Michelangelo, a estátua da loba que teria amamentado Rômulo e seu irmão e a Medusa de Bernini, ainda tinha no subsolo vários epitáfios antigos, um deles até com buraco para as mãos de ladrões de sepulturas e esculturas romanas a rodo espalhadas pelos museus (são dois ligados pela passagem subterrânea). Para quem não sabe porra nenhuma de latim, qualquer coisa terminada em "i", geralmente, é plural. Foro = fori, panino = panini, biglietto = biglietti. Daí já atentar para o fato de que ao pedir um "panini" em qualquer lugar do mundo, você é analfabeto.

Descendo pelo antigo Teatro Marcello e passando pelos restos do Portico D'Ottavia, entro no antigo Gueto Judeu, onde tomo o melhor sorvete de pistache da minha vida. Vejo a Isola Tiberina, a ilhazinha ligada a Roma pela Ponte Fabrizio, a mais antiga da cidade. Diz a lenda que a ilha surgiu quando o corpo sem vida do tirano Tarquinius foi jogado pelos romanos irados no Rio Tibre e um monte de sujeira e folhagens acumulou-se nele, formando a ilha. Curiosamente, ela é associada a curas milagrosas. Trivia à parte, prossigo meu caminho em direção à praça da Bocca Della Veritá. Quem viu o clássico "A Princesa e o Plebeu", com Audrey Hepburn, deve se lembrar da cena dentro da Igreja Santa Maria in Cosmedin, onde ela desafia Cary Grant a colocar a mão dentro da Bocca Della Veritá, uma imagem de pedra na entrada da igreja com um buraco onde, desde os tempos medievais, acreditava-se que um mentiroso que enfiasse a mão lá dentro teria a mesma arrancada a mordida. Não tirei a clássica foto, havia uma fila imensa, mas dentro da igreja estava algo bem mais interessante: os ossos de São Valentim, o mesmo do Dia Dos Namorados.

Foi um dia propício, aliás, para ossos...

Saindo da igreja, com o sol ainda a pino, enchi a garrafinha na fonte da praça (sempre gelada) e atravessei o Circo Massimo, antigo palco das corridas de bigas, hoje um imenso descampado, um Autorama abandonado. Próxima parada: Monte Palatino.

NOTA DO TRADUTOR: Meu guia é em inglês e aqui é tudo é em italiano, logo, a tradução dos lugares, ruas, monumentos e pessoas é puramente palpite, se eu estiver errado, me corrijam, ou calem a boca.

Logo, de volta ao Monte Palatino. Foi o primeiro assentamento de Roma, onde viveram os etruscos, que desciam a colina para enterrar seus mortos no vale encharcado. Lá teria vivido Rômulo, cujas ruínas de casa determinam a idade do surgimento da cidade. Logo depois, virou espécie de moradia dos ricos romanos, com uma vista privilegiada do Fórum. Encontrei vários brasileiros na fila pra entrar na casa de Augusto, onde alguns afrescos na parede permaneciam quase intactos após milhares de anos.

A tarde avançava e o sol continuava firme e forte. A noite aqui chega por volta das 21h. Dava tempo de ver mais coisas ainda, tudo ainda no afã de inundar meu cérebro de informação. Seguindo a rua por trás do Coliseu, passamos pela Igreja de San Clemente. O mais curioso nela é que, em seu subterrâneo, escavações estão sendo realizadas e traços de um antigo culto pagão foram descobertos. Um altar sagrado, o Mithraeum, onde sacrifícios era realizados, inclusive de touros, pelo que li. Curioso estar sendo preservado por uma instituição cristã. Pena que não podia tirar fotos. E o título que li de "coolest church on Rome" não é à toa: a área climatizada produzia um frio dos infernos (sim, o inferno pra mim é frio) e adicionava ao clima sinistro, já criado pelo silêncio lá embaixo e o barulho de água correndo. Calafrio. Saí logo dali.

Seguindo pela mesma rua, fui parar na Igreja de San Giovanni Luterano, onde Pedro teria tido uma visão de Cristo, que lhe disse tê-lo abandonado, razão pela qual Pedro voltou para ter seu próprio martírio e ser crucificado de ponta-cabeça. Os crânios de São Pedro e São Paulo repousam numa estrutura elevada em cima do altar. Logo em frente à igreja, na praça, a Escadaria Santa, onde Jesus teria subido de joelhos para confrontar Pôncio Pilatus. A mesma escadaria serviu para Martinho Lutero desistir do catolicismo, uma vez que também subiu de joelhos, prática comum a peregrinos, e não sentiu nenhuma epifania. Que besta.

Perto dali, aquela que seria a igreja mais importante que eu veria em termos de relíquias (por relíquias, entenda-se "ossos de gente santa") ou então o maior engodo de todos: Santa Croce In Gerusalemme. Senhoras e senhores, a Igreja se gaba em ter pregos e pedaços da cruz de Jesus, uma boa parte da cruz do ladrão bom, o dedo de São Tomás (ver para crer?) que tocou os ferimentos de Jesus, parte da placa que teria apresentado Jesus ao povo com a coroa de espinhos, entre outras coisas. A autenticidade disso tudo é contestada, mas... fé é isso aí, não é? Como não acredito nessas coisas todas, pra mim é tudo antropologicamente muito interessante. Nada parecido com a mulher que caiu de joelhos ao meu lado ao ver as relíquias. Que, assim como todas as relíquias que vi, estavam em relicários luxuosos feitos de ouro, com detalhes encravados, enquanto o que interessava mesmo geralmente era um pequeno osso no meio de uma cúpula de vidro no meio.

O que tinha mesmo de bizarro nessa igreja era a ala toda dedicada a Nennolina, uma menina que fazia parte da paróquia nos anos 30 e sofreu de uma doença tão bizarra quanto incurável. Escreveu mais de 160 cartas ao menino Jesus descrevendo seu sofrimento, sua fé e pedindo por conforto a sua família e foi reconhecida até pelo Papa como heroina.

Dia cheio, não? pois é, depois disso tudo, paguei 8 euros numa garrafa de água de iceberg do Canadá na estação Termini. Caro, sei, mas quantas vezes na vida você vai beber água de iceberg? Fui dormir. Mais no dia seguinte.

Ciao!

terça-feira, agosto 05, 2008

I'M NOT WORTHY

Pois é, eu bem queria seguir o que manda meu TOC e digitar dia-a-dia da minha estada aqui, mas nao sei como isso vai ser possivel. O problema é que eu quero explicar detalhadamente a historia de cada coisa que vejo, como se fosse coerente mostrar uma foto, contar os detalhes e esquecer que nao é a mesma coisa se nao visto pessoalmente. Seria mais ou menos como descrever uma trepada para um virgem. Nao da. Por um lado, aqui em Florença, terra de Donatello, Michelangelo, Rafael, enfim, todas as Tartarugas Ninjas, a overdose de informaçao é premente, nao sei mais o quanto meu cérebro aguenta. é muita beleza junta, fico até constrangido de falar algo ou triste porque nao posso compartilhar pessoalmente isso com alguém, mesmo que fosse um mero conhecido, pra apontar uma obra como o Nascimento da Venus, de Botticelli, e dizer "Cara, ta vendo isso? Que foda!"

A sensaçao que tenho é a mesma de quando assisti ao primeiro filme com John Holmes: de que eu era pequeno, muito pequeno. é mais ou menos como as coisas sao aqui na Italia. Tudo é grande, imponente, parece querer afirmar o quao infimos somos nos diante da Historia. Vou fazer o que puder, logo, para aumentar as descriçoes das fotos no meu Flickr, mas manter aqui o mais sucinto possivel. Com paciencia de voces, afinal, o wi-fi dos albergues em que fico nao suporta o upload tao rapido. Sao mais de 100 fotos tiradas por dia.

Estou tentando virar local. Nao tomo capuccino depois das 11 da manha, bebo sempre um aperitivo ultra-gelado ao fim da tarde (de preferencia Aperol Soda, viciei nessa merda, bebida predileta pra quem acha Campari muito amargo), ja aprendi com perfeiçao o sotaque da frase " mi dispiacce, non parlo italiano" e quase nao estranho mais quando alguem me diz "pois nao" ou "nao ha de que". Antes, tinha vontade de devolver: "prego é a mae!!". Perdi a conta de quanto vinho ja bebi, tirei foto ate das comidas do mercado central e hoje, quem diria, andei de bicicleta pelas ruas.

Por essas e outras experiencias indescritiveis e inenarraveis, meu texto vai ser alterado amanha para o minimo de narraçao. Quero que voces vejam as fotos.

E as melhores frases eu acabei de ouvir no jantar, de um senhor de seus 65 anos: "Nao se preocupe em nao guardar tudo. Se voce esquecer, cada vez sera sempre a primeira. Quer coisa melhor do que se surpreender com a Italia o tempo todo?"

Nao, nao quero.

quarta-feira, julho 30, 2008

QUEM TEM BOCA...

Pois bem, por uma lei besta anti-terrorismo, os cybercafés e lan houses nao deixam acessar o HD ou pendrives, razao pela qual so posso fazer upload das minhas fotos quando chegar em Napoli, onde o albergue tem wi-fi. Até la, vai tudo ficar incompleto. Ah, sim, tudo bem? Pra quem nao sabe, estou em Roma, regiao da Lazio, no inicio de mais uma das minhas jornadas anuais em busca de aventuras e festivais. Meu terceiro dia aqui, sob um calor de rachar, de uns 37 graus, sol fortissimo, aguardando o horario de reabertura de tres igrejas aqui perto (ja sao 15h, 5 a mais do que no Brasil) e ja andei por todos os lugares possiveis, aprendendo mais Historia antiga em dois dias e meio do que em mais de 20 anos. Posso dizer, enfaticamente, que fica pau a pau com Paris como melhor cidade historica do mundo. Pau a pau, sim, qual o problema? A Roma Antiga era toda bissexual. E os franceses...

Esse texto vai sem revisao, afinal o tempo pra se gastar na Internet é curto. Ja afirmo logo que 4 dias e meio é muito pouco pra se ver tudo, sair a noite e descansar. Mau planejamento. Uma semana teria sido o ideal. Isso porque nao estou exatamente saindo a noite pra poder aproveitar o dia e ainda nem peguei a fila imensa do Vaticano, o que farei amanha bem cedinho. E, como todos os guias dizem "dress accordingly", que melhor traje entao do que o manto sagrado? Aguardem.

Bom, como começar? A viagem nao foi la essas coisas. Tive que pegar o voo da TAM às 6:15 da manha pra Cumbica, onde acabei ficando no hotel do aeroporto (estilo japones, um cubiculo com beliche) pra dormir por 3 horas. Em SP, a surpresa: passaram mal no aviao e vomitaram na minha poltrona. Lindo. Colocaram-me em outra, ao lado da porta de emergencia. Otimo espaço para os pés, mas ao lado de um gordinho tenso que nao parava de se mexer. Mas dormi bem pouco. E ao chegar em Fiumicino, uma cena bizarra dentro do aviao: um menino correndo em direçao ao banheiro, vomitando no saco, mas deixando escapar pelas bordas. Foi a Guerra do "Gorfo" aquele voo. Fora o jet-lag, pelo menos cheguei cedo ao hotel, que é bem perto da estaçao Termini.

Banho tomado, la vou eu pegar o metro e dar uma volta na cidade antiga: Coliseu, Foro Imperiali, Foro Romano, Piazza Veneza, Monumento a Vittorio Emanuelle... Nao entrei em nenhum, o que acabei fazendo no dia seguinte, mas so de contemplar aquilo, quase chorei. Sério. Um sentimento que viria a se confirmar ontem foi o de fazer uma vasectomia ou rezar pra ficar estéril. Jamais vou deixar nada atrapalhar o meu destino de conhecer o mundo inteiro e me afogar em conhecimento. Meu avo ficaria orgulhoso.

Dali voltei ao hotel pra almoçar o melhor spaghetti alla matriciana da minha vida e dormir umas duas horas. Comecei a andar entao. Termas de Diocleciano (fechadas na segunda), Piazza della Republica, Via Delle Quattro Fontane (com quatro fontes, duh), Palazzo Barberini e terminando (apos muitas subidas e descidas) na famosa Piazza di Spagna, com a escadaria e a fonte la embaixo, ao lado da casa de Keats, hoje museu Keats-Shelley. Ali a constataçao de que agua em Roma era de graça, espalhada por centenas de pequenas fontes e hidrantes pela cidade e completamente potavel. Nao passo meia hora sem entornar a agua ja morna da garrafinha e encher de novo. Pior que sai quase gelada. Genial. Louve-se os romanos pelos sistemas de aguas, esgotos e aquedutos.

Pela Via Condotti, com todas as marcas chiques, como Fendi, Gucci, etc., chega-se a Via Del Corso, onde os onibus pedem licença para os pedestres. E apesar de estar com meu cartao de turista e validar a passagem em cada viagem, pra evitar uma multa sinistra (bizarra), muita gente anda de graça, arriscando ser pego por uma fiscalizaçao aparentemente inexistente. Saida pela sinistra (esquerda). Piazza Del Popolo, imponente, compras de DVD (logico) e descida em direçao a Fontana Di Trevi, passando antes pelo Montecitorio e pelo Templo de Adriano, conservado por ter se integrado a uma igreja construida depois. O primeiro de muitos gelattos adquiridos nestes tres dias foi tomado com uma expressao de prazer, a mesma que eu repetiria ao provar pela primeira vez as massas al dente, os paninis, os capuccinos e as pizzas. Foi mal, França, mas a cozinha italiana é a melhor do Universo. Um orgasmo.

A Fontana é impressionante, mas deve ser fantastica à noite. A conferir. E com menos turistas, por favor. Joguei as duas moedinhas, pra me apaixonar aqui mesmo, quem sabe, e segui caminho. Uma passada no Pantheon, ja fechado (entrei so hoje), quase escurecendo (umas 8 e pouco da noite) e fui ao Largo di Torre Argentina, onde coincidentemente me encontro agora. Mais ruinas antigas e uma peculiaridade: o lugar é um antro de gatos. Centenas deles. Ha um abrigo onde cuidam, castram e esterilizam os bichanos, com doaçoes aceitas, obrigado. Acariciei um que se aproximou (only pussy I'll ever stroke here?), dei um pulo na suposta agitaçao noturna do Campo Dei Fiori, fui jantar no Insalatta Ricca, desfiando meu "italigues" imperfeito (capisce?) e de la fui apagar, quase 23h, como se adivinhando a maratona de ontem.

Amanha, ossos de santos, reliquias de Jesus, ruinas romanas e vidros quebrados.

Ciao!
UPDATE: Consegui um internet point Tabajara e aqui faço qualquer coisa, logo, subi as fotos do primeiro dia aqui. As descriçoes e detalhes eu coloco depois. Arrivederci!!

terça-feira, julho 08, 2008

INTERLÚDIO - PARTE II

Sim, senhores e senhoras, parece incrível, mas ainda aguardo a devolução dos meus guias de viagem de Buenos Aires. Aproveito o marasmo pra fazer três anúncios:

1) No ar minha nova mixtape, com o que venho ouvindo no momento;

2) Em breve, novo texto no ar no Bacana;

3) Aguardem por um novo blog além deste aqui.

domingo, junho 15, 2008

1 CASAMENTO E NENHUM FUNERAL

A primeira vez que eu tomei noção da existência da Alessandra, ela estava atrás das pernas do pai. Eu, atrás da minha mãe. A gente devia ter uns 5 anos e aparentemente já estudávamos juntos e nossos pais se conheciam de reuniões na escola. Foi um encontro casual na saída das Lojas Americanas de Campo Grande. Ela já era uma graça, morena, bochechuda, de olho verde. Mas o que entendia eu de meninas aos 5 anos?

Aos 10 anos, já na mesma turma, ela era a fim de mim. Eu, o autista (lembram????), jamais poderia me interessar por aquela menina, como por nenhuma outra. 10 anos!!! Nem me lembro se eu já tinha ereções nesta época. A única cena desse evento (ela a fim de mim) que registro na minha memória era ela de shortinho jeans MUITO curto, reclamando pra Nanda (outra amiga) porque eu não gostava dela, isso na hora do ensaio de alguma coisa (festa do folclore, talvez?). Límpido e cristalino.

Pouco tempo depois, ela começou a namorar o meu melhor amigo na época e durante muito tempo. Muito tempo de namoro dos dois, com vais-e-vens (ou seria "vão-e-vêm"?), e muito tempo que ele permaneceu meu melhor amigo. Eu não podia vislumbrá-la se casando com outra pessoa.

O tempo passa, as pessoas mudam. Alessandra continua a mesma. Por sermos os mais novos da turma (ela de 7 de agosto, eu de 19), tínhamos uma afinidade de leoninos que já sabíamos não ser possível de nos separar como amigos. Eu sempre achei que fosse vê-la a cada Natal, por mais distante que vivamos. Ela ainda acredita que esse blog aqui vai virar um livro.

Uma vez, eu a vi falar sobre o Tárique. Pra mim, era só mais um. Depois, percebi que não. Hoje, é o marido dela, neste momento. Tá eu sei, falei exatamente isso pra um cameraman (tô sendo bonzinho) na festa hoje, após ter ingerido diversas substâncias alcóolicas não-imiscíveis. Mas escrever é diferente. Escrever ainda com o jet-lag etílico das mesma substâncias, porque se um dia isto aqui realmente for publicado, como bem a Alessandra quer, o que eu penso da noite do casamento da minha melhor amiga de infância vai ser eternizado em alguma editora.

De dentro da minha alma de misantropo, não-quero-ser-pai, juro que me emocionei na igreja, 23 minutos depois de fazer uma expressão blasé pra mim mesmo e pensar que casamento é tudo igual, 12 minutos depois de mandar sms pra uma amiga dizendo que o padre falava muita merda, 8 minutos depois do microfone falhar e ninguém mais ouvir nada, 5 minutos depois de ter levantado/sentado pela terceira vez, 10 segundos depois de eu ver minha melhor amiga de infância deixar falhar a voz ao repetir as palavras pro noivo.

Ela merece ser feliz, ele acertou na loteria e talvez ainda não saiba, e eu posso continuar a achar o mundo ainda muito falso, mas talvez hoje tenha sido um pouco mais verdadeiro do que o uísque no meu copo.

Te amo, Alê. Parabéns.

segunda-feira, junho 09, 2008

INTERLÚDIO
Por incrível que pareça, ainda aguardo a Favi me devolver os guias de Buenos Aires emprestados e renovar as dicas para que eu continue a escrever o meu guia extra-oficial da cidade. Enquanto isso, eis a resenha que fiz para o site do Bacana sobre o show do B.R.M.C. lá:

Black Rebel Motorcycle Club

La Trastienda (Buenos Aires) – 04/04/2008

             As circunstâncias que envolvem a primeira visita do BRMC à América do Sul não deixam claro o porquê de o Brasil não ter sido incluído no roteiro. Inicialmente contratada como atração secundária do Quilmes Festival, que tomou o famoso Monumental de Nuñez, estádio do River Plate, por 4 dias, a banda abriu uma segunda data no clube La Trastienda, menor e, por isso, mais adequado ao clima intimista que eles gostam de criar em seus shows. Com o cancelamento da atração principal de domingo no Quilmes, Lenny Kravitz, por problemas de saúde, e a adição de duas incensadas bandas locais, Divididos e Catupecu Machu, no line-up, o BRMC viu seu status reduzido para a terceira posição, o que talvez tenha tornado o show de sexta potencialmente mais importante para os fãs e a própria banda.

          Quando surgiu na mídia em 2001, a banda de San Francisco (EUA) tinha os elementos necessários de apelo jovem pra embarcar de carona no sucesso dos Strokes: o nome tirado de gangue de cinema (O Selvagem, de 1953), o visual largado e dark e dois singles que concentravam em seus riffs a nata do rock: Red Eyes And Tears e Whatever Happened To My Rock n’ Roll. No entanto, por terem influências de bandas como The Jesus & Mary Chain, o som neopsicodélico em todo o resto do álbum de estréia acabou atraindo um público essencialmente mais velho e não tão suscetível ao hype. Os mesmos argumentos também foram utilizados pelos detratores, que preferiram enxergar nela uma falta de originalidade, o que soa injusto e desmedido nesta década que vem primando pela existência em massa de bandas derivativas.

          Desembarcando na Argentina ainda na turnê de “Baby 81”, seu mais recente e coeso álbum, em que conseguem sintetizar todas as influências dos três anteriores, tanto a lisergia do primeiro quanto o pop radiofônico do subestimado “Take Them On, On Your Own” e o lado mais-Dylan-do-que-Reid do criticamente aclamado “Howl”, o BRMC vem com fôlego renovado, com o baterista Nick Jago reintegrado à banda depois de uma temporada em clínicas de reabilitação e aptos a mostrar ao público portenho sua mistura empolgante de rock de garagem, blues, folk e gospel.

          Com o câmbio extremamente favorável ao real frente ao peso argentino (cerca de 1,80 a cotação peso/real), o ingresso de 150 pesos saiu quase de graça para um show deste calibre. A possibilidade de ver a banda de perto num clube pequeno tornou-se ainda mais palpável diante da lotação da casa, que, à primeira vista, ultrapassava pouco mais da metade de sua capacidade (700 pessoas). Este seria o meu terceiro show da banda e já tinha noção do quanto o Black Rebel tem mais força em lugares menores.

                 Com apenas 10 minutos de atraso, a banda pisou no palco. Os gritos que se seguiram e o acompanhamento em uníssono desde os primeiros acordes de Love Burns, música de abertura, já davam a crer que a platéia estava na mão. E foi exatamente com esse espírito de jogo ganho que o BRMC incendiou o La Trastienda. Em seguida, com a dançante Berlin, começaram a ditar o ritmo do que seriam as 24 músicas do setlist. O baixista e vocalista Robert Levon Been assume pela primeira vez a posição quase messiânica que repetirá à exaustão durante toda a apresentação, debruçado sobre o microfone como um legítimo crooner dos anos 50. Durante músicas mais introspectivas, como In Like The Rose e Awake, as luzes que se projetam do fundo do palco, varando a cortina de fumaça artificial e só lhe deixando a silhueta do corpo franzino e do topete, acusam uma imagem bem conhecida e dão voz aos detratores: The Jesus & Mary Chain, impossível não pensar em outra coisa. Já Peter Hayes prefere se recolher nas sombras com suas guitarras que passa o show trocando e a gaita que toca ocasionalmente, como em Shuffle Your Feet e Ain’t No Easy Way. Nick Jago... bom, Nick Jago tenta a todo custo acompanhar o ritmo acelerado que ambos impõem e o sustenta com competência todo o tempo, mesmo sendo visivelmente o único da banda sob efeito de alguma substância.

          Trocando de lugar e instrumentos, Robert e Peter executam American X, música do “Baby 81” que também dá nome ao recente EP com sobras de estúdio, em versão mais longa, como uma extensa jam session, o que também se repetiria por ainda mais tempo no show do Quilmes, dois dias depois. Na platéia, permaneço admirado ao lado de minhas duas companheiras do Brasil e observo o público misto. Há o casal de gays quarentões que têm um programa de rádio na Internet. Os namorados com figurino indie estereotipado que não conheciam a banda direito. O grupo que veio do Chile de caminhão, uma verdadeira jornada. Todos, sem exceção, maravilhados com a apresentação à sua frente, que pede a utilização dos mais variados clichês narrativos, adjetivos como “visceral” e substantivos como “catarse”. Não seria exagerado o seu uso. Tampouco seria impróprio o famoso grito de bêbado por “rock n’roooooll!!!!!”, já que é sua própria essência que vemos a banda destilar.

          Robert pega o violão e dedica Restless Sinner para os caminhoneiros chilenos e sua saga admirável. A essa altura, o show já virou uma confraternização entre amigos. Nem mesmo a repetitiva 666 Conducer consegue diminuir os ânimos. A seqüência final antes do bis, começando com Spread Your Love, fez com que Need Some Air, em seguida, refletisse o desejo do público já sem fôlego. Six-Barrel Shotgun teve versos de Leonard Cohen declamados no meio, naquela parte onde só o bumbo da bateria pede as palmas da platéia marcando o compasso. Ok, golpe sujo, mas sempre funciona. E como se questionando por que a boa música que temos a sorte de presenciar parece ter se escondido, encerram com Whatever Happened To My Rock ‘n Roll (Punk Song). Nick dirige-se à platéia com a mão apontando uma luva com um revólver desenhado, mas a brincadeira não surte efeito. As músicas nos alvejaram muito mais profundamente.

          Longos dez minutos se passam, quando a banda retorna com Took Out A Loan. Mais seis músicas, a mesma dedicação, a mesma resposta esfuziante. Lembro-me de quando eu conheci a banda, por meio de uma amiga paulistana, famosa blogueira. Ela me disse ter se deixado enamorar do BRMC pelo refrão “Eu me apaixonei pela doce sensação / Eu dei meu coração para um simples acorde / Eu dei minha alma para uma nova religião”. Pois se diga isto a cada um dos presentes no show do La Trastienda e com certeza se verá total anuência.

          A banda vive se debatendo com questões metafísicas e religiosas ao longo dos 4 álbuns, com o estado da alma e a possibilidade de salvação. Não à toa, terminam de vez o show com Salvation e Heart + Soul, após um total de 2:10h (!!!) no palco. Mais do que uma idéia fixa ou mera carolice cristã, os fãs do BRMC presentes podem compreender perfeitamente a preocupação da banda com suas almas, constatando o quanto fazem para deixar mais elevadas as nossas.


  SETLIST:

 

Love Burns

Berlin

Shuffle Your Feet

Stop

Ain't No Easy Way

Weapon Of Choice

In Like The Rose

Red Eyes And Tears

Awake

American X

Fault Line

Restless Sinner

Mercy

666 Conducer

Spread Yor Love

Need Some Air

Six Barrel Shotgun

Whatever Happened to my Rock 'n Roll (Punk Song)

 

BIS: 

Took Out A Loan

All You Do Is Talk

Rifles

Steal A Ride

Salvation

Heart + Soul

domingo, abril 27, 2008

RAPTURE - II

Sentado com amigos em Sampa, decidindo se rumamos aos últimos resquícios dos shows da Virada Cultural ou ruminamos os restos da festa de aniversário que teima em se estender desde o fim desta tarde de sábado, lembro-me de que prometi atualizar esta merda em breve e prometo cumprir a malfadada promessa tão logo chegue ao Rio, sob pena de pregar meu saco com tachinhas na mesa da sala. Ou então isto é produto da bebedeira ainda recente e eu estou relevando o fato de não haver leitores desta merda e fazendo promessas sem sentido.

terça-feira, abril 15, 2008

MI BUENOS AIRES QUERIDO - PARTE I - INSIGHT E PREPARAÇÃO

Foi uma decisão consciente em alerta máximo e tão óbvia que eu não sei como não tinha aparecido antes: para quê uma segunda viagem à Recife, no Abril Pro-Rock, se eu poderia viajar a BsAs por um pouco mais (em passagens) e gastando muito menos (em comida, frivolidades e hospedagem)? Desde o ano passado eu planejava conhecer a terra dos portenhos e já havia comprado guias a respeito e lido várias reportagens dizendo o quão barato era para nós no momento.

Porém, parecia que viagens internacionais sempre me traumatizavam no sentido financeiro, em que levo meses para me recuperar do efeito inefável de minha sanha consumista no estrangeiro. E desde o fim do ano passado não ando em condição de fazer muitas extravagâncias por conta de despesas de filho pequeno do meu velho carrinho. Foi preciso colocar no papel para ver que dar um pulo na Argentina continua, sim, muito barato, e assim permanecerá enquanto o dólar continuar baixo, já que é o lastro do peso. As piores previsões para nós, em notícias que li no Clarín, elevariam o dólar a R$ 1,85 ao fim de 2008, o que não é uma porrada tão grande.

Mas vamos ao que interessa. Tendo trocado a passagem na Gol de Recife para Ezeiza (aeroporto de BsAs), paguei apenas uns 120 reais de diferença. As tarifas de ida e volta ficam em torno dos 500 reais (com escala em SP), mas as taxas de Ezeiza são caras, uns 70 dólares, o que eleva o preço final. A Varig não era muito diferente. Eu diria que com uns 650 reais e uma boa antecedência, dá pra se comprar tranqüilo uma boa passagem de ida-e-volta, com taxas, em horários decentes e uma viagem total de no máximo 4 horas de duração.

Primeiro passo dado, restou-me procurar onde ficar. Viajar sozinho sempre foi tricky para mim. Preços de hotéis são caros para solteiros e só me restavam albergues ou hostels mais arrumadinhos, com talvez alguma opção razoável de quarto separado. Como eu não queria um pacote e estava disposto a ficar uns 5 dias na cidade, optei por seguir a (ótima) dica de uma revista de viagem: alugar um apê.

No site ByTArgentina você tem diversas opções de aluguel semanal, com preços que variam de pouco mais de 100 dólares até 600. Sim, os preços são cotados e cobrados na moeda americana. Com uma boa estudada do mapa da cidade e de repente um prévio conhecimento, você consegue uma ótima oferta. Coisas a considerar:

a) tempo de estada - para mim, 6 noites de hospedagem jamais sairiam por menos de 240 dólares num hostel decente, minha opção constante no exterior, tendo em vista a idade avançada e a falta de paciência com perrengues desnecessários. Se eu viajasse com mais 1 ou 2 pessoas, então, nem preciso argumentar, não?

b) região de preferência - sou alternativo, adoro estar cercado de ambientes descolados e com uma acessibilidade de trânsito de razoável a boa. Não havia dúvida nenhuma, desde antes de pisar o pé lá, de que eu iria querer ficar em Palermo Viejo. Os preços na região de apês disponíveis variavam de 230 a 500 dólares. Uma pechincha.

c) compras - sim, você vai comprar. Muito. Pelo menos mais do que poderá carregar na única mala que trouxe. O que transforma um albergue inseguro numa péssima opção. Com Ipod, laptop, câmera e outros apetrechos que levei, a segurança de se deixar tudo trancado em casa foi fundamental. E isso porque eu ainda não te contei sobre o cartão de débito. Aguarde.

d) Buenos Aires é plana - quase não há ladeiras e as rotas que interessam são facilmente cobertas a pé, metrô e, claro, o baratíssimo táxi portenho. Logo, visualizar no mapa onde está o apê pode não significar nada em termos de precisão de distâncias. No fundo, o preço e as condições dele (no site tem fotos bem honestas) vão ser cruciais.

Escolhido o lar, na esquina de Thames com Guatemala, duas ruas-chaves da região de Palermo Soho, subdivisão do Viejo, onde se concentram os designers e artistas, fiz a reserva pelo site. Primeira observação: o pagamente é em dólar e exige depósito, ou seja, você tem que levar o dobro da quantia. Este lhe será integralmente devolvido ao final do período, se não houver danos ao apê. No momento da reserva, uma taxa de US$ 35 debitada no cartão de crédito, pois, afinal, o site é um intermediário entre você e o dono do apê. Eles pedem que se leve o dinheiro do depósito em separado. Anote o número de série das notas para conferir depois se serão as mesmas devolvidas. Precaução nunca é demais.

O contato com Mariano, da ByTArgentina, foi rápido, a negociação fechada no mesmo dia e a reserva feita, com instruções dadas. No site também é possível se reservar táxi para levá-lo de Ezeiza para o apê, por 85 pesos. FAÇA ISSO!!! Uma falha de comunicação me fez acreditar que haveria um táxi me esperando e o engano e decisão de pegar um dos motoristas enganadores de Ezeiza quase me fez me fuder bonito (depois conto). Se não rolar pelo site, peça no e-mail para o Mariano (ou quem mais atender) arrumar um para você.

Uma observação: se você vai passar 2 ou 3 noites em BsAs, considere um pacote de viagem com seu agente preferido, pois não só a passagem pode sair mais barata como você vai pagar um preço só pela hospedagem em um hotel razoável. Todas as dicas que eu dei aqui em cima são, obviamente, mais em conta para viajantes independentes em estadas maiores.

Findas as preparações, restou aguardar o embarque.

Parte II em seguida.

segunda-feira, abril 14, 2008

BSAS

Em breve, uma espécie de guia de Buenos Aires, com dicas, relatos, furadas, fotos e conclusões. Mais tarde, a primeira parte.

terça-feira, abril 01, 2008

BORRACHO

O Fabrik resolveu não colaborar comigo hoje e, em tempo curto de finalização de trabalhos pra poder viajar em paz, não vai rolar de fazer a playlist da semana. Fiquem com a da semana anterior e com a mixtape do B.R.M.C do último post.

Agora só posto de Buenos Aires. O apê alugado supostamente tem wi-fi, então vai ser mais fácil. Minhas impressões sobre a cidade, dicas, desventuras e os relatos sobre os shows do B.R.M.C. você acompanha aqui.

Enquanto isso, em homenagem, meu blog traduzido para o portunhol.

Hasta luego.

domingo, março 30, 2008

NOT WHAT YOU WANTED


  • Rob Fleming, do Alta Fidelidade, pode ser um personagem cada vez mais ultrapassado em seu apego por hábitos antiquados, mas as suas fitinhas, que cada um de nós, com mais de 25 anos, já fez pra alguém, sobrevivem no mundo digital. A novidade do momento, pelo menos até semana que vem, é o Muxtape, um site que te permite fazer uploads de 12 músicas para compor uma mixtape, armazenada com interface bem prosaica em uma página com o nick que você escolher, para ofertar a quem quiser. Testei, funciona, desde o registro simples até o upload completo, a 512 kbps, leva mais ou menos meia hora. Não sei se por ainda ser relativamente novo e não-saturado, para se ouvir as músicas demora bem pouco como streaming, melhor até que o meu player do Fabrik do post anterior. O único senão é que deveriam fazer constar do produto final a imagem da fita-cassete que aparece no momento em que você sobe cada música. Pra que vocês testem e comecem a brincar, fiz uma seleção das melhores músicas que não saíram como singles dos 3 melhores álbuns do Black Rebel Motorcycle Club, que terei a oportunidade de conferir duas vezes ao vivo em Buenos Aires no próximo finde. Aqui.
  • Colocando os itálicos, percebi como num texto simples de poucos caracteres pode haver tantas palavras em inglês. Maldita globalização.



  • Gosta de toy art? Agora que está popularizando então, que tal fazer a sua? O site Paper Critters permite que você desenhe, coloque imagens e outras funções, para imprimir, recortar e colar depois. Ótima terapia e super-divertido.



  • E o recorta-e-cola não se resume à internet. A Puma fez uma parceria com os W Hotels em que, ao se hospedar em algum deles, você tem à disposição o serviço Mongolian Shoe BBQ. Só chamar a recepção e em pouco tempo alguém bate à sua porta com um kit de customização de tênis, em que você escolhe diversos ingredientes (materiais pré-cortados) e cores para montar o seu tênis Puma na hora. Tudo por apenas 100 doletas. E você acha que isso só é divertido para quem se hospeda? Dá um pulo aqui então e passe um bom tempo montando o seu tênis, à maneira de um legítimo restaurante oriental.

  • tão compre uma camiseta no site CineFile Video, onde nomes de diretores são escritos com logos de bandas de metal famosas, como Von Trier/Van Halen, Herzog/Danzig e Scorsese/Scorpions.
  • Até quarta, antes de viajar, eu posto a playlist da semana.

terça-feira, março 25, 2008

THE END IS THE BEGINNING IS THE END - PLAYLIST I

Como esta é minha primeira Playlist (e postagem) do ano, vou começar com coisas novas que acabei de baixar e outras que vêm tocando constantemente nos meus players há algum tempo:

Boy Kill Boy - "Rosie's On Fire" - Minha preferida do segundo álbum da subestimada banda inglesa, "Stars And The Sea". Continua melodiosa e intensa como em seu début, embora soe meio repetitiva. Merece uma segunda escutada, ainda mais se você gostar de Maximo Park.

Does It Offend You, Yeah? - "Let's Make Out" - A cidade de Reading é mais conhecida por sediar um dos mais famosos festivais de música pop do mundo (e ao qual comparecerei pela quarta vez em agosto próximo), mas de vez em quando produz alguns artistas, como o ótimo e já finado The Cooper Temple Clause, Morning Runner e clássicos como Mike Oldfield e Slowdive. Nova tentativa com o DIOYY, que bebe na fonte do Daft Punk e se junta a Justice e Alter Ego, entre outros, na mistura de eletro com elementos do rock. Mas chega de clichês. Pode ouvir o álbum inteiro, é garantia de remelexo.

Grande Ole Party - "Look Out, Young Son" - Comparados ao Yeah Yeah Yeahs pelos vocais karen-o-zísticos da baterista/vocalista Kristin Gundred, a banda de San Diego está mais para o blues-power dos White Stripes. Melhor, claro. E com o álbum produzido pelo Blake Sennet, do Rilo Kiley.

Big Boi - "Royal Flush (Feat. Andre 3000 & Raekwon)" - Pra não dizer que eu não falei de hip-hop, este novo e ridiculous (pra usar gíria nova) single do Outkast (tá, é um deles só, mas tem o outro ali ao lado) com participação do Raekwon (Wu-Tang Clan), é a melhor coisa do gênero a sair nas últimas semanas, junto com o Atmosphere novo.

Panic At The Disco - "Nine In The Afternoon" - A banda não perdeu apenas a exclamação no nome, mas também deixou pra trás tudo o que conhecia como influências emo e parece ter batido a cabeça e acordado em 1967 ao som de Sgt. Peppers'..., dos Beatles. Isso mesmo. Esqueça tudo o que você já ouviu (de ruim) sobre eles, perca seus preconceitos e escute o álbum "Pretty. Odd." do início ao fim. Pode começar com esta. A maior surpresa de 2008 até agora.

R.E.M. - "Supernatural Superserious" - Eu tinha desistido deles depois de "Automatic For The People", apesar de ter adorado o show do Rock In Rio 2001. Mas parece que Michael Stipe e cia. conseguiram fazer com o novo "Accelerate" o que tentaram (sem sucesso) em "Monster". Guitarras sujas, ecos de The Who e Hüsker Dü e o melhor que o produtor Jacknife Lee (Kasabian, Bloc Party) pôde fazer para reavivar o som então murcho.

B-52's - "Pump" - "Funplex" já saiu há algum tempo, demonstrando que os titios não perderam o pique pra diversão, ganhando até um remix esperto do normalmente-lixo CSS. O álbum de mesmo nome acabou de vazar e corre no mesmo ritmo. Aqui, a canção de abertura da festa.

The Duke Spirit - "The Step And The Walk" - Eu sempre fico de quatro por estas bandas que transitam entre o college dos 90 e o blues, principalmente com vocais suaves de lindas frontwomen. Assim é o Duke Spirit, que tive o prazer de conferir ao vivo no Reading 2004 e que volta com mais um ótimo álbum, "Neptune".

These New Puritans - "Elvis" - Música mais incendiária a tocar nas pistas de rock do RJ atualmente, sobrando pouco mais de interessante no álbum de estréia destes seguidores do The Fall. Muita pretensão para pouca música. Mas ouça também a batida à la Asian Dub Foundation de "Swords Of Truth".

We Are Scientists - "Chick Lit" - Chick Lit é a literatura feminina para mulheres independentes de 20 ou 30 e poucos anos, que ficou famosa com Bridget Jones e Sex And The City. Denomina também a melhor música de "Brain Thrust Mastery", novo e muito bom álbum do WAS (agora um duo, já que o batera Tapper caiu fora), mostrando que o melhor vem no final. Climão de tema oitentista de filme de 007, tipo "The Living Daylights" ou "A View To A Kill", é hit instantâneo de pista.

Pode ouvir tudo aqui embaixo:


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