terça-feira, dezembro 02, 2008

MALLU É O CACETE

Transitando por Copa hoje, de dentro do ônibus, avistei na parede de um prédio na esquina da Princesa Isabel com Barata Ribeiro um outdoor enorme com uma propaganda da Motorola (ou Vivo) com a Mallu Magalhães. Há mais de 3 meses escrevi um texto sobre a razão de não gostar dessa menina para o site do Bacana. Até hoje meu texto não foi utilizado, isso porque tinha sido encomendado. Como não ganhei porra nenhuma para escrevê-lo e as palavras são de minha autoria, utilizo do meu francês fluente para mandar um fodassê e posto aqui o meu texto. Claro, mais ultrapassado do que nunca, já que Sandy casou-se, Mallu resolveu escandalizar meio mundo ao se envolver com um camelo velho e mostrou-se efetivamente retardada mental na mais recente entrevista pra revista Época. Antes que a nossa paciência com o assunto recorrente se vá, ei-lo, finalmente, no ar.


POR QUE EU NÃO GOSTO DE MALLU MAGALHÃES


“Quem?” – pergunta a minha amiga cinéfila, ao meu lado, à menção da incumbência de escrever o presente texto. Tenho que explicar resumidamente o conto da menina de 15 anos, fã de Bob Dylan, que apareceu no MySpace tocando folk e foi parar na capa da Folha, em vinhetas da MTV, propaganda de celular e no Prêmio Multishow, no espaço de seis meses.

Sinal dos tempos que mesmo uma amiga antenada como a minha não tenha ouvido falar do suposto fenômeno pop brasileiro. O excesso de informação consegue efetivamente causar estas distorções, onde pop deixa de ser abreviatura de “popular” e passa a ser um evento localizado, dentro de um universo limitado e, na maior parte das vezes, umbiguista. Assim, entre o playboy lutador de jiu-jitsu da Zona Sul carioca que desconhece as novas bandas preferidas da semana no NME e o integrante do BBB que não sabe quem é Jack Nicholson encontram-se os ignorantes da existência de Mallu Magalhães. Claro, em algum ponto longe de qualquer interseção está gente como os meus pais, que sequer poderiam dizer o que significam siglas como MTV, NME e BBB.

Parte da minha tarefa ingrata, então, de ser o advogado do diabo e tentar enumerar as razões do título, decorre do fato de não ter tido o deleite de me encontrar fora do universo onde Mallu existe. Nessa condição, sou bombardeado de todos os lados pelo tipo mais pegajoso de adulação, geralmente dedicado a recém-nascidos, que não consigo mesmo achar fofos, já que todos têm cara de joelho. E quando a maioria dos elogios bajuladores vem de jornalistas já com tantos anos de estrada quanto de bagagem cultural e notoriedade, eu realmente preciso sentar e procurar com calma o ponto exato onde as pessoas ficaram tão babonas.

É crime no Brasil ser incensado na mídia e mesmo assim permanecer à margem dos parâmetros do mainstream? Claro que não. Já tínhamos o CSS (taí, mais uma sigla pra mamãe e papai) pra demonstrar o contrário. Não é argumento, logo, que se detone a menina porque ela canta em inglês e foi “descoberta” em um site estrangeiro. Não é esse o problema. Eu sou carioca da gema e odeio cachaça, samba, banana e feijão. Longe de mim com esse papo de “brasilidade”.

Mas, alô? Onde exatamente está a revelação do pop nesta menina? Concordo, ela parece fofa e encantadora como toda adolescente tímida com rostinho de criança. Mas não são assim pelo menos 50% das adolescentes de classe média com um pingo de senso de moda? E as músicas, então? Ora, resgate-se a teoria atribuída a Thomas Huxley, dos inúmeros macacos diante de inúmeras máquinas de escrever com potencial de eventualmente escreverem toda a obra de Shakespeare e em cada colégio de cada capital brasileira podem-se encontrar pelo menos 5 Mallus. Neste país, nivela-se tanto por baixo que às vezes parece não existir diferença entre o bem-feito e o fenômeno no mundo da música. O que de cara já é uma tremenda injustiça com gente como Ed Motta, por exemplo, que já era, este sim, um prodígio aos 16 anos.

Não consigo acompanhar esse inconsciente coletivo de fofura e admiração que se desenvolve nas pessoas de bom senso quando elas se deparam com uma aparente exceção ao estereótipo que esperavam encontrar em seu lugar. Assim, o crítico quarentão talvez veja ali a namorada que gostaria de ter tido na sua adolescência sofrida, recluso entre o quarto, onde ouvia bandas de que seus amigos não gostavam, e o banheiro, onde sublimava as frustrações amorosas. Ou a filha que adoraria embalar, ao som de artistas que ela já diz amar de coração, ele mesmo tendo levado décadas pra assumir em público o seu gosto musical. Oportunismo? Sim, talvez, uma necessidade de se ter a versão brasileira da heroína do filme “Juno”, coincidentemente (ou não) contemporâneo a Mallu.

Eu fico sem saber o que pensar dos jovens normais de 15 anos de hoje em dia. Por um lado, olho com muita desconfiança para adolescentes que só gostam de folk, Bob Dylan e Johnny Cash. Eu acho muito mais normal e saudável que eles se pareçam com a Miley Cyrus / Hannah Montana, capaz de fazer um programa infantil em uma semana, deitar no colo do namorado e mostrar o corpo semi-desnudo na outra, pedir desculpas ao público na terceira e voltar a mostrar a lingerie no MySpace na seguinte. Afinal, adolescência pra mim significa “hormônios”. E hormônios, Bob Dylan e Johnny Cash no mesmo encadeamento de idéias é quase doentio.

Por outro lado, e aí talvez se encontre o pior do que tem a mostrar, é essa imagem de menina querendo ser grandinha e criança ao mesmo tempo. Se eu não me engano, as meninas de 15 querem chegar logo aos 18 e fazem o possível pra se comportar como adultas. E se a tal exceção ao lugar-comum que tanto louvam é uma débil mental que vai ao programa do Jô dizer que “adora massinha”, canta refrões como “Tchubaruba” e demonstra ter dois neurônios apenas, com um passando o dia a dizer “calma, vai ficar tudo bem” ao outro, eu peço, por favor, que evitem falar nessa menina na minha presença a partir de agora.

E eu não gosto de folk, daí nem ao menos dar relevância para o tipo de som que MM, ou M&M, ou mesmo Eminem, tudo apropriado a título de produto, oferece. E se fosse para ser maldoso, eu utilizaria como (mau) exemplo gente como o Vinny, que precisou passar por “Heloísa, Mexe a Cadeira” e ser escorraçado pela crítica pra começar a tocar folk baseado em, adivinhem só, Dylan e Cash, segundo o próprio. Um primor de influência.

Nada contra a senhorita Maria Luisa de Arruda Botelho Pereira de Magalhães, esta adolescente com nome de ilustre colunável. Segundo ouvi falar, esta é esperta, um doce de menina, escreve bem e tem vários possíveis futuros promissores. Mas o produto criado por ela ou por quem quer que esteja por trás dela (sem trocadilhos, afinal, a moça é dimenor), a “retardada do folk”, como bem dizem meus amigos, é capaz de se incutir tão negativamente como imbecil no meu inconsciente que se tornará um verdadeiro axioma, assim como, obviamente, mulheres não fazem cocô e Sandy ainda é virgem aos 25 anos.
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