sábado, agosto 15, 2009

LOLLAPALOOZA 2009 - DIA II

Não fiz questão de chegar cedo no sábado. A chuva de sexta deu lugar a um sol e calor arrasadores e eu só queria mesmo ver o Atmosphere mais cedo, às 14:30. Até lá, compras na Quimby's, melhor livraria da cidade, e na Reckless Records. Cheguei bem na hora em que Slug e Ant entravam no palco, pra uma platéia bem maior do que a de sexta, resultado do tempo bom. Admito que o álbum novo deles é inferior ao meu preferido, "You Can't Imagine How Much Fun We're Having", mas este acabou sendo preterido no show, que concentrou os esforços principalmente no "God Loves Ugly", com algumas do álbum novo e do "Seven's Travels". Slug é um dos melhores rappers do mundo hip-hop indie. Quem não ouviu os dois álbuns dele com o Murs (o projeto "Felt"), corra atrás. Um bom exemplo é a ótima Early Mornin' Tony, do "Tribute to Lisa Bonet". O álbum novo tenta introduzir uma outra instrumentação ao vivo, em vez de samplers, mas o show mostra mais potência em músicas como "One Of a Kind" e "Modern Man's Hustle" do que nas novas. Ponto pro Slug, que conseguiu com seu carisma e habilidade levantar o público por uma hora sem precisar de quase nenhum recurso barato de interação, como os mencionados por mim no primeiro dia do festival. E ainda fecha com a viajandona pra cima "Sunshine", de um EP anterior.

Logo depois foi a vez do meu terceiro show do Gomez. Acho que eles são a banda inglesa mais americanizada de todas. O blues rock com elementos modernos da banda agrada a gregos e troianos. Abriram com o hit "Shot Shot" e emendaram com uma do álbum novo. Ainda teve "Love is better Than a warm Trombone", única do primeiro álbum, "Ruff Stuff", também do "In Your Gun", "Silence", de 2006, e algumas do álbum novo. Teve cover de "Bron-Y-Aur-Stomp", do Led Zeppelin, mas eu juro que não ouvi nenhuma do "Liquid Skin". Pena. Mas 12 músicas pra uma banda que já tem uns 5 ou 6 álbuns é sempre pouco.



Atmosphere



Gomez

De volta ao palco principal pra conferir a banda preferida de uma querida amiga. Mas não aguentei por muito tempo. O Coheed and Cambria soa exatamente como se o Rush fosse mais metal e tivesse um baterista ruim. Uma passadinha no palco menor pra ver por que falam tanto do No Age. Cinco minutos e percebi que neguinho deve estar louco. Uma banda que precisa melhorar muito pra ser considerada uma merda. Barulheira horrorosa, um insulto às boas bandas de garagem. Saí logo: a primeira ida ao Northpalooza pra tentar dar mais uma chance à Santigold, que vi no ano passado no Leeds e não gostei. Mas a multidão que lotava o palco Playstation não deixou ninguém chegar mais perto, ainda mais que a disposição da platéia era em forma de anfiteatro. Resignei-me a ficar ouvindo mais de longe. Parecia mais animado do que o anterior e ainda teve cover de "Killing An Arab", do Cure, mas ficou mesmo impossível de dizer. O álbum continua um petardo, entretanto.



Coheed And Cambria



Arquitetura de Chicago vista do Grant Park

Toca pro palco Citi, que a atração do dia estava pra subir: Lykke Li. Eu adoro essa menina desde que ouvi "I'm Good, I'm Gone" pela primeira vez, no ano passado. O show do APW foi ao mesmo tempo introspectivo e sacolejante, em momentos bem definidos. Este não foi diferente. A sueca sabe o que faz no palco, com sua voz ora fofa como uma menininha, ora grave e sexy como uma atriz pornô, suas dancinhas bizarras, sua roupa preta recatada demais pro seu sex-appeal, mas que de vez em quando deixava escapar uma coxa aqui, uma barriguinha lá. Empunhando uma baqueta com que socava ferozmente um prato de bateria colocado só pra ela ou um megafone, ela teve a platéia nas mãos, no hit supramencionado, em "Little Bit" e em "Breaking It Up", que começou com uma pequena cover de "A Milli", do Lil' Wayne, uma das melhores músicas do ano passado. Jóia.



Lykke Li

O dia encerrou pra mim com mais um espetáculo do Tool. Digo isto porque é a única definição possível pra um show da banda. Os telões apresentavam imagens selecionadas de acordo com as músicas, várias vindas dos clipes perturbadores da banda, que desde o "Lateralus" vêm sendo lançados em DVD's independentes. A banda tocava as músicas em versões ao vivo pouco diferentes do estúdio, alternando as imagens dos telões com um mis-en-scène de luzes, fumaça e um telão fixo no palco com outras imagens. O vocalista Maynard James Keenan cantou o tempo quase todo em silhueta no fundo, ora com suas roupas espalhafatosas, ora sem camisa e descalço, com um megafone pendurado na cintura, enquanto os outros integrantes vestiam roupas brancas como uniformes. Um verdadeiro teatro, do princípio ao fim, impecavelmente ensaiado. Uma experiência sensacional para os fãs e até para aqueles que, mesmo não conhecendo, apreciam seu metal cabeça e semi-progressivo, as composições intrincadas, riffs e batidas quebradas, letras sombrias e duração de 7 minutos pra cada canção. Do começo, com "Jambi", ao fim, com "Vicarious", ambas do álbum "10.000 days", de 2006 e o mais recente, que chegou a ganhar o Grammy de melhor embalagem de álbum (sim, isso mesmo), nove músicas, mais de uma hora e 10 de show, exatamente o mesmo setlist e ordem que vi no APW, mais uma prova de que é mesmo um espetáculo teatral. Meu preferido ainda é o "Lateralus", do qual "Schism" e a faixa-título também rolaram. Fui embora feliz.



Tool

terça-feira, agosto 11, 2009

LOLLAPALOOZA 2009 - DIA I

O tempo bom que fazia na minha chegada à cidade foi embora na sexta, e veio a chuva. Incessante. Irritante. Implacável. Depois de quase estragar minha diversão em NYC, desta vez ela não me pegou de surpresa. Não é moleza passar o dia com capa de chuva, mas ao menos não fiquei ensopado. E pude curtir meu primeiro Lollapalooza. Sempre foi um festival icônico pra mim, desde meus 20 anos. Minhas bandas prediletas em cada época tocaram lá (aqui), os bootlegs mais legais de se encontrar em tempos pré-internet eram do festival e foi nele que a "nação alternativa", expressão então cunhada pelo próprio Perry Farrell, patrono do festival e líder do Jane's Addiction, que criava o Lolla para a despedida da banda, se mostrou lucrativa, incorporando-se ao mainstream e inaugurando uma era de festivais itinerantes nos EUA, mesmo que já não mais o seja, uma vez que não sai de Chicago.

Com o cancelamento do show dos Beastie Boys, devido ao câncer de garganta do MCA, meu entusiasmo meio que brochou como uma bola de gás furada, mas pelo menos sobrou o Depeche Mode pra salvar a pátria. E ainda daria a oportunidade de ver o Tool mais uma vez, já que Yeah Yeah Yeahs ao vivo é uma bosta. O show dos B-Boys no Congress Theater um dia antes também havia sido cancelado, logo, tive a tarde de quinta livre pra aproveitar a cidade. O que não foi em vão, já que teve show de graça na loja da Apple no final de tarde. Chairlift e Passion Pit, para os primeiros 300 com pulseiras. Peguei a minha e fui dar uma volta na Barnes & Noble. Foi bom pra anotar de comprar depois o aparentemente impagável "I Hope They Serve Beer In Hell", de Tucker Max, e uns dois Moleskines pra tomar notas da viagem na Rota 66.

De volta à Apple para o primeiro show, do Chairlift. No All Points West, festival a que também fui em NYC, o som deles cresceu e envolveu o público. Gosto das melodias, especialmente da fofa "Bruises", mas dentro da loja a potência deles minguou. Parecia música de elevador. Nem mesmo a cover de "Sensual Seduction", do Snoop Dogg, serviu pra levantar o público. Deu vontade de chamar o garçom e pedir uma picanha mal-passada. Mal sabia eu que não ouviria aquela música de novo. Já o Passion Pit foi outra coisa. O apelo quase emo dos vocais, aliado a um som que fazia tremer os IPods pendurados nos stands ao longo da sala, levou o público ao delírio, que cantou em uníssono músicas como "Sleepyhead" e "The Reeling". Seria um show imperdível para o domingo no Lolla.

Passion Pit na Apple Store


O melhor do Lolla é que o Grant Park fica bem no centro de Chicago, logo, além da vista maravilhosa da arquitetura premiada da cidade, é fácil de chegar, tem metrô ao lado e ainda podemos nos dar ao luxo de dar uma saída do festival pra comer melhor na Michigan Ave. Vendo o mapa, eu achava que seria impossível se deslocar de um extremo do festival ao outro, pra alternar entre palcos, já que o parque dividiu-se em Norte e Sul. Mas felizmente a maior parte das atrações que eu queria estava concentrada no Southpalooza. E do palco maior para os dois menores era um simples pulo. Prático, porém frequentemente o som vazava de um palco pro outro. Para minimizar esse problema, os shows entre o Chicago 2016 (o maior) e o Vitamin Stage (o médio), de frente um pro outro, foram intercalados. Ir ao Northpalooza já era outra história, papo de 15 minutos de caminhada, mais trânsito do público. Isso influiu decisivamente em certas escolhas, e abandonei por completo a idéia de pegar 10 ou 15 minutos de alguma banda. Mas vamos aos shows.

O primeiro show de sexta já foi de cara uma grata surpresa: a banda local Hey Champ. Descobertos e apadrinhados pelo rapper Lupe Fiasco, fazem uma mistura de rock e eletro como deve ser: dançante, com batidas quebradas (e baterista de verdade) e moderna, apesar de calcada nos anos 80. O single "Cold Dust Girl" já é bombado nas pistas americanas, mas nem de longe é a melhor do repertório. Boa introdução pra esquecer a chuva e ver os rappers do The Knux. Eu já gostava de "Cappuccino", mas confesso que o álbum não me agradou muito. Os caras têm enfrentado problemas de credibilidade, algo muito significativo no mundo do hip-hop. Apesar de usarem guitarras em algumas músicas, como em "Fire", não consigo ver nada ali de realmente original. Existem vários clichês em shows de rap, como os famosos "put yo' hands in the air", "make some noise" e "when I say Oh, you say Shit! Oh! Shit! Oh! Shit!", por exemplo. O Knux abusa incrivelmente destes truques pra levantar a platéia, como um monte de rappers ao vivo, mas no final não sobra muita coisa de real talento. A habilidade deles é escassa, as batidas são fracas e sequer dá vontade de levantar a mão e balançar. Uma passadinha no Vitamin e deu ainda pra pegar as últimas duas músicas do Black Joe Lewis & The Honeybears, uma divertida banda de soul rock, com três nerds de óculos na cozinha e um vocalista que mais parecia um daqueles caras que pedem trocado na rua com um copo de papel. Vou tentar ver melhor no Outside Lands, no fim do mês.


Hey Champ


The Knux


Black Joe Lewis & The Honeybears


O Amazing Baby, que veio depois no palco Citi (o menor), é uma das bandinhas mais adoradas pelos hipsters nova-iorquinos, não só por serem amiguinhos do pessoal do MGMT, mas por fazerem aquele som psicodélico tão em voga no momento. Ainda bem então que eles fogem da hippiezada anos 60 e fazem ligação com o glam dos anos 70, especialmente Roxy Music, com um leve toque de shoegazer. Mais Stones (circa "Their Satanic...") do que Stone Roses, mas com vocais firmes em vez de preguiçosos, a música deles mostra ter mais poder de evoluir do que os camaradas do Management, porque o efeito da maconha uma hora passa.

Amazing Baby


Bandas que possuem raízes demais no rock tipicamente americano ou mergulham no country/folk ou navegam pelo blues. Dos primeiros eu abro mão, logo, não me venham falar de Neil Young, Patti Smith e congêneres. Daí a não ver muita graça no Heartless Bastards, a que fui assistir depois e fica no meio-termo entre os gêneros. Apesar de virem de Ohio e terem ligações íntimas com o Black Keys, nem de longe chega àquele blues sujo e potente. Quinze minutos daquela ladainha caipira e já deu no saco. Não quer dizer que sejam ruins, só não é a minha praia. Preferi ir curtir o som dos novaiorquinos do The Virgins. Na mesma linha de Strokes e uns 8 anos atrasados, ainda assim têm refrões pegajosos e energia punk o suficiente pra uma sobrevida maior no meio. Curti.


Heartless Bastards


The Virgins

A chuva continuava caindo, então fui passar o tempo vendo um pouco do instrumental do Sound Tribe Sector 9 (STS9) no palco principal. Definido como a maior jam band de todas, a mistura de eletrônico com dub, jazz, rock, funk e mais alguns ritmos caía bem como música de fundo, mas eu não conseguia desgrudar o olho da loira rebolando à minha frente com um bambolê. Corpo perfeito, calça comprida de cintura baixa, top justinho, a batida hipnótica da música e o movimento cadenciado da cintura da menina me fizeram abstrair do tempo e do espaço. Saindo do transe depois de alguns minutos, fui conferir o Asher Roth. Consagrado por ter feito um dos álbuns de hip-hop mais festeiros do ano, este rapper branquelo de classe média não tenta ser durão, não tenta ser malandro, é apenas o moleque da faculdade que conhece as melhores festas e quer se divertir com os amigos, fumar maconha e beber muita cerveja, ao lado das cheerleaders. E é sobre isso que ele compõe. Aliado ao descompromisso, uma boa habilidade como rapper, bons produtores e parceria e respeito de gente como Cee-lo (Gnarls Barkley) e DJ Drama. Comparações com Eminem o próprio Asher desfaz em uma música do álbum, que é melhor do que o novo do Marshall Mathers. Ao vivo, também é pura festa. O hit "I Love College" (que sampleia "Say It Ain't So", do Weezer) e outras como "Blunt Cruisin'" levantam o público que se espreme no palco Citi. O problema está justamente no público. Com tais músicas, ele atinge os frat boys e patricinhas, galera geralmente sem noção e que só quer putaria, ao invés dos fãs de hip-hop. Daí ele utilizar todos aqueles clichês de que o Knux se esbaldou. A diferença aqui é que o rapaz tem talento e vocais pra isso. O resultado é satisfatório, mesmo com gritos de "Boobies!!"

STS9 e a chuva incessante


Asher Roth


Uma saída pra um café decente na Michigan Ave. e, no momento em que a chuva dá uma trégua, volto a tempo do show do Of Montreal. Kevin Barnes e cia. são famosos por fazerem um verdadeiro carnaval no palco, com alegorias mil e gente de toda sorte passeando fantasiada. Não é diferente desta vez. De alguma maneira o cenário do dia me lembrava demais Bowie na época do Ziggy Stardust. As fantasias da banda, idem. Em meio a músicas que colocavam Beatles, psicodelia e eletro no mesmo saco, como "Id Engager" e "For Our Elegant Caste", aliens e ninjas passeando no palco, Kevin anuncia uma cover de "Moonage Daydream" do Bowie. Ha, sabia!! Ótimo show, de qualquer forma.


Of Montreal

Mais encenações e eu saio direto pro palco principal em frente, tentando pegar um lugar melhor pro Depeche Mode. Que eu não vou resenhar agora, pois seria uma injustiça eu falar deste antes do que presenciei no Madison Square Garden na segunda passada e que me causou muito mais emoção. Como o setlist foi basicamente o mesmo, com quatro músicas a menos (Little Soul, Master and Servant, Strangelove e Waiting For The Night), basta dizer que foi com a mesma energia e dedicação, pra mim o melhor show do Lollapalooza 2009, de que vocês podem conferir um momento logo abaixo:



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