domingo, dezembro 10, 2006

LARGADOÉ, por enquanto tô dando um tempo disso aqui, quem sabe no recesso?

Só pra postar o set-list da minha discotecagem na Paradiso ontem, 09/12, de hip-hop basicamente alternativo, mais alguns hits dos anos 90:

Danger Mouse & Jemini - Ghetto Pop Life
Atmosphere - The Arrival
Handsome Boy Modeling School - If It Wasn't For You
MF Doom & Nas - Shoot 'Em Up
Peeping Tom - Mojo (feat. Rahzel & Dan The Automator)
Lootpack - Whenimonthemic
Blackalicious - Side To Side
DangerDoom - El Chupa Nibre
Aceyalone & RJD2 - All For U
Delinquent Habits - Return Of The Tres
Lyrics Born - Hello (Remix)
Charizma & Peanut Butter Wolf - Red Light, Green Light
Wildchild - Wonder Years
Baby Huey - Hard Times
Ghostface Killah - Buck 50
Control Machete - Cheve

Chill Rob G - Ride The Rhythm
Boot Camp Clik - Hate All You Want
Jaylib - The Red
Beans - Shock City Maverick
Deltron 3030 - Positive Contact
The Roots - Don't Say Nuthin'
El-P - Dead Disnee
Prefuse 73 - Plastic (feat. Diverse)
Roots Manuva - Join The Dots
Talib Kweli - Broken Glass
Aesop Rock & Del Tha Funkee Homosapien - Preservation
A Tribe Called Quest - Electric Relaxation (Propellerheads mix)
J-Live - Mcee
Murs & Slug (Felt) - Early Mornin' Tony
9th Wonder & Buckshot - Money Makes The World Go Round
RJD2 - Ghostwriter-Ground Zero (Feat. Mass Influence)
Soul Position - Mic Control
Non Phixion - Futurama
Blackalicious - Sky Is Falling
Mr. Lif - Murs Iz My Manager (feat. Murs)
Aesop Rock - Rickety Rackety (feat. El-P & Camu-Tao)
Pharoahe Monch & Shabaam Sahdeeq - WWIII
Cage - Perfect World
Ugly Duckling - Let It Out (SDP Remix)
The Perceptionists - Black Dialogue
Atmosphere - One Of A Kind
Anticon - Martyr Theme Song
Coolio - Fantastic Voyage
Young Black Teenagers - Tap The Bottle
The Pharcyde - Oh Shit
Fu-Schnickens - Nervous Breakdown
Das Efx - The Want Efx
Digital Underground - The Humpty Dance
De La Soul - Ring Ring Ring
Rahzel - All I Know
Funkdoobiest - Freak Mode
Del Tha Funkee Homosapien - Mistadobalina
Senser - Switch
Asian Dub Foundation - Free Satpal Ram
Urban Dance Squad - Bureaucrat Of Flaccostreet
Disposable Heroes Of Hiphoprisy - California Über Alles
KRS-One - Sound Of Da Police
Paris - Bush Killa
Wu-Tang Clan - Shame On A Nigga
The Roots - Double Trouble
Bone Thugs N' Harmony - Thug Luv
Xis - Us Mano, As Mina
RZO & Sabotage - Piripac
De Leve - Eu Rimo Na Direita
Black Alien - Sua Cara Encontra A Mão
Evil Nine - Crooked (feat. Aesop Rock)
Method Man - Judgement Day
The Gray Kid - Lonely Love
Danger Mouse & Jay-Z - 99 Problems
Rhymefest - Devil's Pie
Mos Def - Zimzallabim
Mr. Lif - Collapse
Tha Alkaholiks - Soda Pop
Jeru The Damaja - D. Original
Pete Rock & CL Smooth - They Reminisce Over You
Quasimoto - Fatbacks
Delinquent Habits - The Kind
Ghostface Killah - 9 Milli Bros. (feat. Wu-Tang Clan)
Onyx - Throw Ya Guns
Black Star - Respiration

Digable Planets - Rebirth Of Slick (Cool Like Dat)
Tricky - Black SteelTé.

sábado, novembro 04, 2006

CURTAS E FINAS

Curtindo meu feriadão ainda, somente três dicas:

1) Já escutou a nova da M.I.A., "XR2"? Um petardo!!!! Confere aqui.

2) Já neste programa de rádio, uma apresentação semi-acústica de Beck e sua banda, com músicas do maravilhoso álbum novo. Ficou divertida a versão acelerada de "Cellphone's Dead".

3) Atendendo a pedidos, entre as minhas diversas fontes de pesquisa de notícias e fofocas, as que mais visito são o Pink Is The New Blog e o Stereogum.

Té.

segunda-feira, outubro 30, 2006

AWESOME... I FUCKIN' SHOT THAT!!

A quem interessar possa, coloquei um álbum das fotos do show dos Beasties de ontem bem aqui.

É, a maioria está bem tremida, mas uma mulher da organização e depois um segurança vieram me dizer para não usar flash. Tranqüilo, dá para se ter uma idéia do quão alucinado foi.

Amanhã, Curitiba. See ya.
HMMMMMMMMM..... DROP!

Sim, eu sobrevivi. Sim, foi o show da minha vida. Mas não, não foi perfeito como eu esperava.

Primeiro, cadê o resto da banda? Cadê Money Mark e Alfredo Ortiz?

Como assim eu vi um show dos Beastie-Fuckin'-Boys e não pude ouvir "Sabrosa" e "Something's Got To Give"? Será que eles sabem o que essas músicas significaram pra mim nos anos 90?

Foi culpa deles? Da produção?

E eu nem ligo de as músicas não serem emendadas como de praxe. É muita idéia de jerico mesmo fazer show de terno no Rio, os velhinhos não agüentam o calor! Daqui a pouco "Ricky's Theme" se realiza! No mais, é bom ver que Mike D continua incansável e Ad-Rock o MC mais carismático da face da Terra.

Segundo, se uma porra de banda de hip-hop só tem uma caralha de equipamento pra se preocupar se funciona ou não, como é que a buceta da merda da produção do festival consegue fuder exatamente com o instrumento principal (turntables)? Nunca vi ninguém tão puto num show quanto o Mixmaster Mike. Maldito Tim.

Terceiro, foi mal, companheiros, mas esse show tinha que ter sido em Sampa. Só assim pra não ir um monte de gente nada a ver que nem sabe do passado da banda (coitado do Adam ao esperar que todos cantassem "Paul Revere"), ganhou VIP pra ir e ficou perdido lá atrás.

Bom, é isso aí, fiquei na grade, pulei, gritei, vi meus ídolos de perto e estou feliz como uma criança.

Sabe o que é melhor? Vou ver em Curitiba na terça de novo. Niver do Ad-Rock. Foi mal.

SET-LIST (Ordem não-fiel):

Root Down
Triple Trouble
Sure Shot
Pass the Mic
Time to Get Ill
Do It
Egg Man
The Skills to Pay the Bills
Flute Loop
Posse in Effect
No Sleep Till' Brooklyn
Body Movin'
Paul Revere
Shake Your Rump
Brass Monkey
3 MC's and 1 DJ
Super Disco Breakin'
Ch-Check It Out
So What'cha Want
Intergalactic
Gratitude
Sabotage



domingo, outubro 29, 2006

RIGHT RIGHT NOW NOW

Chegou o dia. Após 17 anos de espera, dois shows escorrendo pelos dedos, em 1995 e 2000, eu vou ver a melhor banda da galáxia ao vivo.

Não importa o set-list, a duração do show ou o que quer que seja, já sei de antemão que será o show da minha vida.

Se eu não agüentar e morrer, tenham em mente que eu morri feliz.

quinta-feira, outubro 26, 2006

I FOUGHT THE WAR

Enquanto eu me recupero de ontem (e tento produzir algo no trabalho), fiquem com este pequeno vídeo que fiz do Metric tocando (a uma e meia da tarde!!!) no Reading 2006:



Até!

terça-feira, outubro 24, 2006

CHACAL @ CLUB HYPE - 25/10

Sim, é uma vergonha eu me utilizar de auto-propaganda barata aqui, quando os meus 12 leitores esperam um pouco de pseudo-literatura-de-blog, algum "causo" picante ou bizarro ou mesmo dicas que podem ou não ser levadas em consideração. Mas quarta-feira é um dia ingrato para se sair e o Rio de Janeiro é uma cidade ingrata para se fazer uma festa alternativa e esperar que bombe seriamente.

De qualquer forma, é uma delícia para os de bom gosto o repertório que estou bolando para hoje. Claro, nada de set-list de casa, isso é coisa de amador, mas tem umas 387 músicas que quero tocar, vamos ver quantas eu consigo encaixar na horinha, horinha e meia em que devo discotecar. Tudo novidade. Exceção para louvar a melhor banda do Universo, mesmo que eu ainda não tenha decidido qual será a música. Tem ainda The Automatic, Men, Women And Children, Klaxons, Loose Cannons, Boy Kill Boy, Howling Bells, entre várias outras.

Segue o anúncio completo:

CLUB HYPE - NEW RAVE 4 CLUB KIDS
Quarta 25 de outubro
DJ Luciano Vianna (Residente - London Burning)
DJ convidado: CHACAL
Show com COOPER COBRAS (pontualmente 01h)
Fosfobox - Rua Siqueira Campos 143 - Copacabana
R$ 5,00 (lista amiga) e-mails para carlos.andre@gmail.com até as 22h do dia 25/10.
R$ 10 c/ flyer até 1h
R$ 15 c/ flyer apos 1h
R$ 20 sem flyer
Info (21) 8721-0207

http://www.myspace.com/clubhype_rj
http://www.myspace.com/coopercobras


Vou dever também mais uma atualização e o exorcismo final da viagem, possivelmente brotando neste finde tumultuado, com TIM Festival e eleições. Mas antes, duas considerações importantes:

  • Quando na região da Prado Júnior, em Copa, use seu celular. É impossível fazer uma ligação de qualquer orelhão sem cair na gargalhada com anúncios como este:
OBS.: Telefones e partes à mostra airbrusheados, claro. Propaganda de sluts tem limite, já basta a minha própria.
  • Morte aos curadores do Festival do Rio por não terem trazido "Nossa, Eu Filmei Isso!" (Awesome... I Fuckin' Shot That!), enquanto a Mostra de SP trouxe. Foi ter assistido ao DVD e deu uma vontade incontrolável de ver essa maravilha no telão. Bom, ao menos domingo e terça tem ao vivo. Será que eu sobrevivo?
Até amanhã então. Na Fosfo, claro.

quinta-feira, outubro 19, 2006

UMA DÉCADA

Nostalgia é o prenúncio da crise dos 30. Atrasada, no meu caso. Mas é só alarme falso. A curiosidade de olhar para trás em uma década foi desencadeada pela capa da Bizz (10 anos sem Renato Russo) e pelo álbum novo do Beck (a última vez em que ele fez algo tão bom foi com o Odelay, também há 10 anos). Alguns fatos hoje emblemáticos para mim daquele ano longínquo de 1996:

1 - Foi o ano em que falhei, por 4 pontos apenas, no meu segundo e mais almejado concurso até então, para AFTN (Auditor-Fiscal da Receita), após ter estudado por um ano, numa onda que começou em abril de 1995, quando perdi os Beastie Boys no Imperator pra fazer concurso em Florianópolis;

2 - Foi a última vez em que segurei um par de baquetas, após tocar com meus amigos em Campo Grande na festa junina do clube local, com um repertório que tinha Black Hole Sun, do Soundgarden, Should I Stay Or Should I Go?, do Clash, e Have You Ever Seen The Rain?, do Creedence Clearwater Revival, entre outras;

3 - Tive meu primeiro (e persistente) amor platônico na idade adulta;

4 - Minhas incursões na noite alternativa carioca tornaram-se semanais: havia Edinho e Wilson no finzinho da Basement e na Bang! (o prédio da antiga Embaixada da China, na São Clemente); o Túlio incendiava com o hip-hop na Sinuca da Lapa com a Mary Jane Pra Prefeito e a Zoeira, a Alien Nation começou no Let It Be, depois na Bambina, antes de explodir de vez no ano seguinte, na Guetto;

5 - Assisti a White Zombie e Smashing Pumpkins na melhor e mais potente dobradinha do Hollywood Rock, dormi no interminável show do The Cure, sacudi com Supergrass, Black Crowes e Page & Plant e ainda vi neste ano: Cypress Hill, Bad Religion, Bosshog e Sex Pistols (Close-Up Planet). Por algum motivo bizarro, não consigo me lembrar dos outros shows deste ano;

6 - Uma de minhas bandas preferidas, o Soundgarden, decretou a morte definitiva do grunge com Down On The Upside. Fim de uma era.

7 - Volmar, dono da saudosa Spider (responsável por boa parte da minha educação musical nos anos 90), veio pra mim e disse "Ouve isso. Lembra The Fall e Gang Of Four". Era o House Of G*V*S*B*, do Girls Against Boys. Banda com dois baixistas, vocal arrastado e o rock de levada mais sexy que eu já ouvira até então. Tornou-se a partir daí, e até hoje, minha segunda banda favorita.

8 - Regular Urban Survivors, do Terrorvision, fez com que encabeçassem a minha lista de "prazeres pop proibidos";

9 - Alguns dos melhores álbuns, fora os já citados: Weezer - Pinkerton, Cake - Fashion Nugget, Ash - 1977, Stone Temple Pilots - Tiny Music..., Fun Lovin' Criminals - Come Find Yourself, Fugees - The Score, Ghostface Killah - Ironman, RATM - Evil Empire, Chico Science & Nação Zumbi - Afrociberdelia;

10 - Algumas das músicas isoladas que mais me fizeram dançar: Lush - Ladykillers, Luscious Jackson - Naked Eye, 2Pac - California Love, Marylin Manson - Beautiful People, Future Sound Of London - We Have Explosive, Superdrag - Sucked Out.

Foi o último ano em que aceitei que "quase" fizesse parte do meu vocabulário. No ano seguinte, a reviravolta. Mas isso é papo pra 2007.

sábado, outubro 14, 2006

CHIQUE NO ÚRTIMO

Ainda de Sampa, não vou realmente escrever nada, mas só dar dois toques:

1) Já ouviu o novo do Beck, "The Information"? Sensacional. Não consigo parar de escutar. "Cellphone's Dead", então, é genial.

2) Já viu Bost? Olhe então o que essa turma do Rio aprontou e dê boas risadas: http://www.youtube.com/watch?v=wkcs195P7TU

Té.

quarta-feira, outubro 11, 2006

SUPERZERO

Diários de Byron Parker, 10/2001:

"Minhas peregrinações pelo universo do misticismo e vudu remontam de longínquas épocas, em que conheci o mundo dos orixás mais profunda e dramaticamente do que Harry Angel em “Coração Satânico”. Desde criança fui assombrado por visões (e audições) perturbadoras (no, I don’t “see dead people”!!!), que iam de bolas de gude se chocando sozinhas até luvas que tomam vida e máquinas de escrever batendo durante a noite E eu não estava sempre sozinho em algumas dessas experiências sinistras, o que lhes garante fidelidade e a mim, no máximo, a fama de amaldiçoado, mais “cool” do que mentiroso. Após consultar espíritas e toda sorte de religiosos e constatar que o nome “Damien” não aparecia na minha certidão de nascimento, resolvi simplesmente esquecer (“desencanar”, em SP) e as visões sumiram. Anos mais tarde, no 2º Grau, fui finalmente visitar um terreiro de macumba. Tá bom, Centro de umbanda. Nosso Professor de História era freqüentador (tornar-se-ia, mais tarde, pai-de-santo) e levou a gente lá. Entendam como “a gente” os seis alunos que tiveram culhão de comparecer à sessão.

Cada noite, vários tipos de espíritos diferentes “desciam” nos participantes. Cada sessão diferente com espíritos comuns era chamada de “roda”. Para auxiliar a comunicação entre platéia e entidades incorporadoras, havia colaboradores, chamados de “cambonos”, que traduziam a linguagem dificílima dos espíritos para o público, ávido por participar através de perguntas. Primeiro vinha a roda dos caboclos, os espíritos dos índios, como Sete-Flechas, por exemplo. Depois, a roda dos pretos velhos. Nessa parte, as pessoas pediam conselhos e perguntavam sobre passado e futuro. O que eu achei extremamente intrigante era a forma como as entidades incorporavam: as pessoas cantavam e dançavam a música de cada espírito, que tinha já seu “recipiente” certo. O futuro hospedeiro começava a se sentir tonto, cambaleava e então seu corpo tremia e ele dava um salto. O espírito havia entrado (STP). E o então indivíduo “possuído” (STP) passava a se comportar tal e qual a entidade que havia incorporado. No caso dos pretos velhos, curvava-se como um ancião e fumava um cachimbo fedorento, andando com dificuldade e aparentando realmente ser tão jovem quanto Matusalém. Se era realmente incorporação de espíritos ou pura auto-sugestão, não sei até hoje e prefiro não especular, dando margem para qualquer coisa que possa existir fora deste plano terreno. Nunca fui cético ou crédulo demais.

Logo em seguida, vinha a roda das crianças e tudo virava festa. Pulavam, brincavam, mexiam com a platéia, falavam língua de criança (com Síndrome de Down) e era bolo e refrigerante pra todos, até pra nós. O clima meio soturno pareceu desanuviar-se em nossas cabeças, um pouco incomodadas com a experiência nova, mas respeitosas. Foi aí que veio então a roda dos exus. E meu drama começou. Como já disse, exus não são necessariamente malignos, mas sim amorais. Porém, apavoram assim mesmo, com suas caras feias, bebendo tigelas cheias de pimenta (os recipientes juram, depois, não sentir seqüela alguma, nem ardência (STP)) e fazendo olhares de mau. Com nomes como Zé Pelintra, Sete-Encruzilhadas e Tranca-Rua, não dá pra ser amigável, mesmo. Mas o mais temido era o Exu Caveira. E foi em determinada hora que o próprio parou na minha frente, apontou na minha direção e disse: “Você volta aqui semana que vem!!!” Meu sangue gelou. Olhei pro cambono dele com uma cara espantada e ele me disse que o Exu Caveira iria querer falar comigo na semana seguinte. A galera me encarava como se eu estivesse morto e enterrado. “Posso ficar com a matéria do seu caderno, se você não voltar mais?”, zoou um colega de classe. Nem prestei atenção na roda seguinte, a das pomba-giras. Tudo o que eu queria era sumir. E dormir de luz acesa.

A semana demorou um século pra passar. Só pensava em frases como “você vai morrer daqui a dois dias”, “vou te levar comigo pro Inferno” ou coisa parecida. Meu professor de História dizia pra ter calma, que provavelmente ele viu alguma coisa em mim e quer me contar em um momento propício. Eu só esperava que não fosse algo do tipo “Você vai tomar o meu lugar, gafanhoto”. Na sexta-feira, falei pra minha mãe que iria a uma festa na casa de amigos (como explicar ir pela segunda vez seguida a um terreiro?) e rumei para meu destino, acompanhado de uma testemunha (nem que fosse pra dizer depois: “é, seu Polícia, ele era um bom rapaz, meio maluco, mas um bom rapaz...”). Quando chegou a roda dos exus e o Caveira baixou, o cambono dele veio me chamar e me levou até um canto onde estava um banquinho. Se eu já tivesse assistido, naquela época, à “Bruxa de Blair” e ele me mandasse ficar de costas pra parede, já teria me borrado. Mas não foi nada disso.

O Exu chegou e falou um monte de coisas que eu não entendi, virou de costas e saiu de fininho. O cambono me explicou que ele havia dito que eu era médium. Disse que eu tinha uma sensibilidade muito grande com o mundo dos espíritos, um potencial enorme para explorar essas habilidades latentes, fosse num terreiro ou num centro espírita. Bom, dei-me por satisfeito em não ser nada de grave e refleti sobre a veracidade dessa afirmação, já que minhas experiências infantis inexplicadas poderiam nela encaixar-se perfeitamente, e tudo faria sentido. Se vocês querem saber, não vou dizer que acredito ou deixo de acreditar. Prefiro que tudo fique sem explicação e que meus “poderes”, caso existam, continuem latentes, só no potencial. É por isso que até hoje eu dou uma conferida debaixo da cama, de vez em quando, fico sem dormir direito após filmes como “O Sexto Sentido” e não deixo porta de armário aberta ao me deitar. Que saco!! Por que eu não posso ter a chance de possuir um poder legal, como visão de raio-X (pra ver a mulherada nua), invisibilidade (pra ver a mulherada tomar banho) ou invulnerabilidade (pra dar porrada em jiu-jiteiro)? "


Este trecho ressuscitado dos meus finados diários foi exatamente o que me veio à mente ontem, quando experimentei pela primeira vez a droga que vai me manter viciado pelos próximos meses. Estou falando de Heroes, claro, a nova série da NBC americana. Na cena inicial, vemos o que parece ser um anúncio de internet, globalização, essas coisas. Um jovem de 20 anos no topo de um prédio, de braços abertos, prestes a saltar do parapeito, enquanto um narrador em off discorre sobre os mistérios da existência humana e a inutilidade das pessoas buscarem respostas. Aí o jovem dá um passo à frente e... prepare-se para não desgrudar mais os olhos da tela por 50 minutos e esmurrar a parede porque o próximo episódio ainda não chegou. Dharma Initiative? Números místicos? Escotilhas? Pau no cu dessas séries enganadoras, a mais emocionante de todas no gênero mistério / ficção acabou de estrear!

A premissa é simples: ao redor do mundo, diversas pessoas normais como eu e você começam a descobrir que têm um passo a mais na escala evolutiva e desenvolver super-poderes. Enquanto isso, o filho de um professor morto que pesquisava e tentava localizar estas pessoas tenta buscar uma resposta para a morte do pai e continuar seu trabalho. Some isso a uma tragédia nuclear na iminência de acontecer, um serial killer à solta e a interligação inevitável entre as vidas dos nossos "heróis" e você tem o ingrediente certo para a próxima mania da TV a cabo.

Com uma temática que agrada tanto aos fãs de séries misteriosas e sombrias quanto aos nerds de quadrinhos (vocês estão lendo as palavras de alguém que se encaixa em ambas as classes), tem tudo pra ser um sucesso. E cada um dos personagens é tão interessante que poderia muito bem suscitar um spin-off, como bem disse o Nix . A cheerleader com fator de cura, o japa viajante do tempo, a webstripper com a metade má, o pintor vidente, todos personagens complexos e intrigantes, de que a gente quer saber muito mais do que um bando de bobocas preso numa ilha sem-graça.

Quer um teaser? Veja o trailer:



Bom, meus super-poderes não precisam estar ativos para eu adivinhar que tem gente fazendo confusão. Já me vieram três pessoas diferentes que ouviram dizer que eu odiei o show do Yeah Yeah Yeahs e que era uma merda. Pera lá, eu nunca disse isso. O que acontece é que eu mencionei decepção. Porque foi minha a princípio e porque tem gente demais hypando essa banda. Naquele show do Reading, eu já estava preparado para ouvir a Karen O cantando pra dentro e sem um pingo de voz decente. Isso quando vários vídeos ao vivo previamente assistidos me davam a mesma noção. Eu só não imaginava que, fora esse detalhe, o resto do show fosse tanta pose teatral e parecesse uma dancinha ensaiada pra mostrar a sua "presença de palco" (muitas aspas) e seu "carisma" (milhões de aspas). Ok, pode ser que num palco pequeno, como o do TIM Festival, funcione, mas eu não vou pagar pra ver.

Quando tive o prazer de ver o Kaiser Chiefs logo em seguida, aí mesmo é que esqueci o que tinha vindo antes. O álbum inteiro, quatro músicas novas (só uma delas com o "Whooooooah" característico e já enjoativo), um show de verdade, não um sarau de escola de arte. Seja bradando pelo corinho do público aqui e ali, fazendo dueto com Ryan Jarman (The Cribs) em "Modern Way" enquanto a chuva despencava ou encerrando com uma brilhante execução de "Oh My God" com "ola" mexicana e tudo, as imensas iniciais "KC" no fundo do palco resumem bem o que foi a grandiosidade do segundo melhor show do festival.

Toca pro palquinho pra pegar mais um showzinho dos Twilight Singers. Que foi exatamente o mesmo do Pukkelpop, mostrando que eu não perdi muita coisa por ter partido mais cedo. Única banda do festival que não aproveitou todo o tempo que tinha à disposição, encerrando o set em curtos 35 minutos. Pena. Entre ver o Franz debaixo de chuva e o Primal Scream na tenda coberta, não titubeei: chega de me molhar. Mal deu pra entrar na tenda lotada, no entanto, aos primeiros acordes de "Movin' On Up". E "move on" foi exatamente o que fiz após 5 minutos, quando a chuva deu um descanso. Toca é pra Londres agora.

Muita coisa sinistra hoje? Veja só este clipe então, com um "ator" meio familiar pra alguns de vocês:



Um dia eu conto sobre isso.

De amanhã até segunda estarei em Sampa. Funhouse na sexta, Belfiore no sábado. De resto, sei lá o que me aguarda. Hoje tem a estréia do Club Hype , a nova festa do Luciano na Fosfo, daqui a pouquinho, com o Lúcio tocando de convidado e show do John Candy. No dia 25, este que vos escreve estará lá de DJ, com show do Cooper Cobras. Até.

sexta-feira, outubro 06, 2006

A LIFE LESS ORDINARY

Quinta-feira, duas da manhã. Silêncio quase absoluto em Botafogo. Gotas de condensação do ar-condicionado do apartamento de cima pingam incessantemente no parapeito de minha janela, cuja vista para o Morro Dona Marta me permite ouvir os tiros esparsos que ecoam a cada 10 segundos. Mandíbulas doem de tanto rir com a primeira temporada de Robot Chicken.

Ok, o parágrafo é um amontoado de clichês de início de roteiro / texto / livro, mas a concentração de eventos no mesmo horário, quando comecei a escrever esta atualização tardia, é verídica. Cheguei hoje ao fim do Festival, fim da minha paciência para filmes, por enquanto. Saldo? Positivo, sempre. Decepções? Poucas. Um Top 5 dos filmes de que realmente gostei:

1 - EL LABERINTO DEL FAUNO - O genial filme do Guillermo Del Toro, de volta à Espanha franquista (mesmo período de A Espinha do Diabo, embora a Guerra Civil aqui já tenha terminado) depois de realizar Blade 2 e Hellboy, comprova que manda bem mesmo em sua língua natal (ele é mexicano). Misturando fantasia e suspense, com boas doses de violência, conta a história da menina Ofélia, que se vê obrigada a conviver com a mãe em meio a militares inescrupulosos e se refugia na aventura orientada por criaturas mágicas, com uma revelação surpreendente, que pode levá-la a uma outra vida. Impossível piscar os olhos.

2 - CLERKS II - Já falei aqui, não posso deixar de enfatizar: melhor filme de Kevin Smith desde Procura-se Amy. Vale mil risadas.

3 - THE HOST - Novo filme do coreano Joon-Ho Bong, que dirigiu o ótimo Memories Of Murder, com o mesmo ator principal (que também estreou o Sympathy For Mr. Vengeance, do Park Chan-Wook), conta a história de um monstro mutante surgido de dejetos químicos que habita as águas do Rio Han e aterroriza a população local. Efeitos visuais ótimos, uma fotografia e direção estilizadas ao extremo, prende do começo ao fim, misturando drama, ficção, suspense e comédia, um bom exemplo de como o cinema coreano vem se destacando com qualidade entre seus parceiros no Oriente. Várias sátiras políticas também à sociedade coreana e à visão da mídia (principalmente a americana) nas situações supostamente endêmicas. Assista ontem.

4 - C.R.A.Z.Y. - Tirando o momento Diários de Motocicleta na segunda metade do filme (tedioso e desnecessário), uma ótima "dramédia" familiar, focalizando na criação e amadurecimento do divertido Zac, um dentre 5 irmãos (as iniciais do título) que descobre ser diferente, no sentido de não se adaptar aos padrões que sua família tenta lhe impor. Trilha sonora pop vai agradar os fãs referenciais.

5 - PEQUENA MISS SUNSHINE - O final é bobo e mal-ajambrado, mas de resto, é um delicioso mini- "road movie" de uma família disfuncional tentando fazer com que a pequena Olive participe de um concurso de miss na Califórnia e lidando com mil problemas no caminho. Todos os atores estão ótimos, principalmente Alan Arkin e Steve Carell. Prepare-se para boas risadas.

Minha maior decepção no festival foi justamente o filme que eu mais aguardava: Dália Negra. É impressionante como De Palma conseguiu cagar com mais um livro que amo. Eu poderia passar três páginas apontando todos os erros do filme, mas há duas coisas imperdoáveis, que abalam toda a estrutura do roteiro:

a) FOCO - No livro, tudo gira em torno da Dália. Os personagens se vêem aprisionados na solução do caso, todos os detetives ficam obcecados emocional e profissionalmente com Betty Short (Bleichert chega a ter visões transando com ela) e ela assombra e fascina todos que a pesquisam, como fez com o autor James Ellroy e a mim, quando estive em L.A. No filme, ela é apenas um cadáver, mero fio condutor de uma história que passa à sua tangente;

b) COERÊNCIA - É impossível sintetizar em um filme de duas horas a quantidade de enredos e informações do romance, cheio de pistas falsas, sub-tramas e desdobramentos. A primeira metade do filme é apenas OK, tem o clima noir que o cinema pede e até elabora uma solução criativa (em uma seqüência de tirar o fôlego, com citação a Os Intocáveis, do próprio De Palma) para o núcleo de Tijuana do livro e o sumiço de Blanchard. Mas da metade pro fim, a tentativa do roteirista de ser fiel à obra cortando nas partes erradas, como alguém que tenta enfiar uma deliciosa torta de frango com cogumelos numa fôrma de empada, transformou o enredo na Casa Da Mãe Joana, numa conclusão teatral ridícula, um momento Carrie, A Estranha desnecessário e, nas palavras do próprio Ellroy, "deixou o filme incompreensível". Prepare-se para várias sobrancelhas levantadas. Lamentável.

Bons, dos demais, vale a pena conferir: Uma Verdade Inconveniente, A Scanner Darkly, Caminho Para Guantánamo, Fast Food Nation, Torres Gêmeas, The Wicker Man.

Passe longe: A Ponte, Destricted, Irmão Padre, Irmã Puta.

Peguei ingresso e acabei não vendo: Volver, TV Junkie, Um Bom Ano, Babel e Fonte da Vida.

Pensa que acabou? Mais tarde tem mais. Hoje mesmo.

terça-feira, setembro 26, 2006

AND THE SHOW GOES ON...

Esse festival já começa a me deixar de jet lag. Além da específica tarefa de assistir a filmes, tem as conversas de bar sobre os mesmos, as esperas nas filas, os papos de MSN, o Rio respira o hype cinéfilo. E eu durmo pouco. E será que a Rachel Weisz desta vez vem mesmo? Ano passado, o boato foi por conta de "O Jardineiro Fiel". Neste ano, seria para acompanhar o maridão Darren Aronofsky na sessão do Odeon de "The Fountain". Aguardemos ansiosamente para stalkear.

Quero escrever sobre música, mas os filmes não me deixam. Do besta "A Ponte" (o apelido extra-oficial é "Se Joga, Bi!"), passando pelo melodramático (mas bom) "Torres Gêmeas" e o pop e divertido "C.R.A.Z.Y.", tive ontem minha melhor sessão com o humor escrachado e doloroso (saí do cinema com as bolas doendo de tanto gargalhar) de Clerks II. Não vou estragar a graça aqui, mas é o melhor filme de Kevin Smith desde "Procura-se Amy". E nem precisava saber dos 8 minutos de ovação em Cannes, quem não morrer de rir ao assistir é porque já está morto. A cena da comparação entre "Star Wars" e "O Senhor dos Anéis" mereceu palmas dos espectadores e a homenagem a "A Última Festa de Solteiro" com o jumento foi sublime. Tá, não tem os "quotes" geniais do primeiro, mas não importa, tem outros de sobra pra usar e abusar.

Assista ontem. Quem perdeu, baixe já na internet. Como era legenda eletrônica, acho que não estréia tão cedo.

Quer testar seu humor? Veja então se consegue ficar sério assistindo a isso:



Clássico. Melhor do que toda a filmografia do Kiarostami, não? É, também acho. Até.

sexta-feira, setembro 22, 2006

A MAGIA DO CINEMA

Pois é, foi dada a largada. Começa hoje de verdade o Festival do Rio e, como sempre, me vejo levado pela turba de amigos entusiasmados a comprar um passaporte de 20 filmes. Distribuídos em duas semanas, não chega a ser um exagero, mas vamos aos fatos:
a) não chego nem perto de dar conta dos DVD's que comprei antes de viajar, somados aos que trouxe de viagem e das coisas que baixo diariamente ("Find Me Guilty" e "100 Escovadas...", por exemplo, que estão no festival, descansam no meu HD há dois meses);
b) não tenho o mínimo interesse em cinema iraniano, ficção científica mexicana tosca e velha ou em filmes brasileiros (salvo a curiosidade de ver o novo do Ivan Cardoso, o "Wood & Stock" e o "1972", pela temática);
c) dos orientais, vieram poucos que me atiçam a vontade;
d) vários filmes óbvios que poderiam ter vindo, como o "Brick" (FODA!), o "Art School Confidential" (novo do Terry Zwigoff e Daniel Clowes, mesma dupla do "Ghost World") , o "Maria Antonieta" da Sofia, o novo do Gondry e o "Awesome...", dos Beastie Boys, foram esnobados.

Assim sendo, acabei escolhendo aqueles de gente que já conheço, umas duas indicações da Rapha, minha consultora oficial cinematográfica, umas sessões de meia-noite, onde tem sempre bastante putaria, e estou cagando se vão entrar no circuito amanhã ou se nunca serão lançados. Meu tempo é precioso demais, se já vou gastá-lo com 20 filmes, que sejam cartas certas ou boas indicações (e nenhuma sinopse mala). Claro, se eu tivesse que escolher apenas um filme para assistir, seria o Dália Negra. Quem acompanhava meus diários internéticos pré-blog em 2001 pode se lembrar o porquê. Para quem não tinha esse privilégio (tortura??) , colarei aqui embaixo parte do texto da época. Eis então os escolhidos:

DÁLIA NEGRA - Diário de bordo Cali 2001: "... desde que cheguei, tenho ficado muito intrigado com este ambiente hollywoodiano, em que fama, sucesso, sexo, tragédia e morte têm fronteiras muito tênues e freqüentemente se interligam. Um exemplo notório foi o Crime da Black Dahlia, de mais de 50 anos atrás, o mais grotesco e famoso de L.A., nunca resolvido até hoje e do qual eu nunca tinha ouvido muitos detalhes, mas que me fascinou tremendamente nestes últimos dias. Os requintes de crueldade à la Jack , O Estripador aos quais a pobre vítima foi submetida são de apavorar, nao dá pra imaginar que alguém seja tão doente ou tenha tanto ódio de outrem para ter feito aquilo a uma pobre moca (entre outras coisas, ela foi cortada ao meio). Fotos, livros, artigos, estão espalhados em vários lugares da cidade, inclusive em uma salinha própria do já famoso Museu da Morte. E as investigações, conclusões erradas, suspeitos e detalhes da história da moça e seus namorados (como em quase toda história trágica em Hollywood) são dignos de filme de mistério. Inclusive, quem escreveu um livro a respeito foi o James Ellroy, um de meus escritores prediletos, que também escreveu "L.A. Confidential".

Pois é, eu visitei todos os lugares que tinham a ver com o crime, desde o terreno onde o corpo foi achado até o hotelzinho onde Liz Short morava. O fato de saber que Ellroy ficou obcecado com o caso, pois sua mãe também fôra morta em condições cruéis e sem solução até o presente dia, só incensou minha gana pela história. Trouxe um livro dos EUA no ano passado, "Black Dahlia Avenger", escrito pelo filho de um dos suspeitos, em que este confessa ter sido o pai o autor do crime. Detalhe que apesar de não haver reabertura do caso, o prefácio é do próprio Ellroy, que diz estar satisfeito com o que acha ser a resolução do assassinato.

Brian De Palma já conseguiu estragar um de meus livros preferidos, "A Fogueira das Vaidades". Vamos ver se ele não repete o erro e transforma este em mais um crime sem punição.

VOLVER - É Almodóvar, que não tem errado em seus últimos filmes. Nem precisa dizer nada, né?

A SCANNER DARKLY - Linklater, Philip K. Dick, rotoscopia. Mais chamativo, impossível.

TV JUNKIE - sessão de meia-noite e a sinopse me parece interessante.Vamos ver se ele consegue fazer algo no estilo de "Tarnation" (sem os dramas todos) ou se vai ser um saco.

A PONTE - Sim, eu quero ver gente se jogando da Golden Gate.

C.R.A.Z.Y. - Esse filme estava passando em Madri logo quando cheguei lá e já tive curiosidade de assistir a ele. Tem temática pop, faz gozação no título (cada letra é a inicial de um dos moleques protagonistas) e vem bem-cotado pelo Berna, outra das minhas fontes cinematográficas.

FONTE DA VIDA - Duas palavras: Rachel. Weisz.

THE HOST - É do Joon-Ho Bong, que dirigiu o ótimo "Memories Of Murder". O cinema coreano anda surpreendendo pela estilização e roteiros fascinantes. E é sobre um monstro mutante vindo de dejetos, quase um Spectreman 2006!!!

UM BOM ANO - Ridley Scott e Russell Crowe, vale conferir.

AS TORRES GÊMEAS - A grandiosidade dos efeitos no trailer e a premissa parecem extasiantes. Vamos ver se Oliver Stone conseguiu evitar a pieguice.

PEQUENA MISS SUNSHINE - Só com o trailer já dá pra sorrir neste filme-família, que estava anunciado em todos os países que visitei no mês passado. Parece ser um daqueles feel-good movies imperdíveis. E é do Jonathan Dayton e Valerie Farris, que dirigiram vários clipes fodas, como "Freak On A Leash", do Korn.

O CAMINHO PARA GUANTÁNAMO - Novo do Winterbottom (24-Hour Party People, Nine Songs), é sempre uma incógnita. O tema político parece atraente. Ganhou o Urso de Prata em Berlim 2006.

IRMÃO PADRE, IRMÃ PUTA - Mais uma sessão de meia-noite. Como não assistir com um título desses?

CLERKS II - Porque é Kevin Smith, porque são Randall e Dante novamente e porque eu quero mais 1.840 citações pro meu estoque de frases sensacionais.

BABEL - Só porque é o novo do Alejandro Iñárritu (Amores Perros e 21 Gramas), já que Brad Pitt e Cate Blanchett não me tiram de casa.

UMA VERDADE INCONVENIENTE - Muito bem-falado lá fora este documentário do Al Gore sobre o aquecimento global. E adoro documentários-denúncia. É um crime que tanta gente não tenha assistido a "The Corporation".

EL LABERINTO DEL FAUNO - Primeiro filme espanhol do Guillermo Del Toro depois da incursão hollywoodiana. Será que presta?

DESTRICTED - A Bizarre falou bem mal desta mistura de cinema e arte. Seriam "instalações" cinematográficas feitas por diretores semi-conhecidos. Tem o Gaspar Noé, tem Larry Clark, um cara batendo punheta no deserto em referência a Onan, outro se esfregando entre uma árvore e um trator até gozar, outro descabelando o palhaço com uma arma na boca de uma boneca inflável e vários jovens entrevistando uma puta. Claro, só escolhi por uma curiosidade mórbida de possivelmente ver outra merda à la "Johanna" (do último festival).

FAST FOOD NATION - Baseado naquele best-seller de sucesso, você sabe. Linklater de novo e mais denúncia.

OS INFILTRADOS - Scorsese, Jack Nicholson e DiCaprio. Policial. Tem que se ver.

Então é isso. Amanhã, se o cinema deixar, volto a falar do Reading.

quarta-feira, setembro 20, 2006

ALT.BINARIES.INTERLÚDIO

Uma pequena pausa nos relatos para discorrer sobre a última maravilha que fui descobrir tão tarde. Às vezes a gente passa dias tentando baixar arquivos em programas diferentes ou um tempo consideravelmente maior em busca de softwares que melhor se adaptem às nossas conexões e computadores tão díspares (comigo funcionam melhor o Soulseek para músicas, o E-Mule para vídeos e o Bit Torrent para filmes, shows e textos) e não aproveitamos opções mais rápidas, com um acervo infinitamente maior e sem restrições, só porque o uso e a interface são um pouco mais complicados. Eu tinha começado a considerar a EFNET e o mIrc, mas a quantidade de vírus disfarçados me assustou e era a linguagem mais feia de todas. O Direct Connect (DC) sempre foi coisa de nerd, o sistema de hubs é difícil, cheio de restrições (você é expulso de alguns se possuir arquivos temporários do Soulseek, por exemplo) e há muita panelinha.

Aderi então, há cerca de dois meses, à Usenet e suas centenas de newsgroups, principalmente os binaries. Bom, quem quiser saber detalhes e definições, tente na Wikipedia ou aqui.

Há grupos como o alt.binaries.mpeg.video.music onde passei a noite de ontem baixando vários shows dos festivais europeus do verão (Reading/Leeds, Lowlands, V2006, Pinkpop), alguns inteiros, como Muse, Dresden Dolls, Maximo Park, The Rakes, Boy Kill Boy, Feeder, Dead 60's, Pearl Jam, Kaiser Chiefs, The Cribs e muito mais, todos em formato de DVD. Isso sem contar os vídeos, especiais de TV e raridades. Há filmes raros em outros grupos de binários, de outros países, enfim, uma gama de opções que até pode existir na base de dados de outros sistemas, mas não com a velocidade e facilidade de acesso que consigo (minha conexão é de 4Mb, chego a 430 KBps).

Claro, não é de graça. É preciso se contratar um site para acessar os servidores (newsservers) e ter um software (newsreader) para se ler os arquivos de notícias ou acessar os binários. Do primeiro, eu escolhi o Giganews . Para o segundo, existem opções grátis na rede, mas eu preferi o NewsBin especial para Giganews, que você baixa no próprio site e pode utilizar por 10 dias sem limitações. Aí é só desinstalar, apagar os registros dele nos Dados de Aplicativos do Windows e reinstalar zerado.

Bom, mais tarde eu continuo essa pausa falando do Festival do Rio. Vou ali trabalhar, já volto.

terça-feira, setembro 19, 2006

SEM FALTA - PARTE 1

A caminhada da estação de Reading para o site do festival não é exatamente um pulo, leva de 15 a 30 minutos, dependendo do passo e da horda de festival-goers, campistas e desocupados indo, voltando ou simplesmente zanzando sem rumo. Mas é uma das mais divertidas. Depois de algum tempo, você consegue visualizá-la metro a metro. E fazer as mesmas paradas. As coisas nunca mudam ano após ano. As mesmas casinhas, os mesmos pubs e bares vendendo de latas de cerveja quente e galochas ao café da manhã nojento e gorduroso dos britânicos, os mesmos vendedores de camisetas de bandas Tabajaras nos mesmos pontos de venda. A fila enorme nos caixas eletrônicos do único posto de gasolina no caminho, os jovens fazendo bicos em entrega de promos (Cd’s de banda que jamais farão sucesso, adesivos, buttons e panfletos), sai da frente, já é quase meio-dia, quero chegar logo.


Não adianta, no primeiro dia, salvo quando se acampa lá ou se programa pra chegar BEM cedo, nunca dá pra se ver a primeira banda, até mesmo porque é imprevisível o tempo a se dispender na troca do ingresso pela pulseirinha. Razão pela qual nosso Reading 2006 começou à uma da tarde. Sem grandes expectativas, fui conferir a indicação do Luciano, os anglo-islandeses do Fields. É, não consegui ouvir o show inteiro, não ouvi o álbum e só conheço 2 músicas do MySpace, portanto, tudo o que posso dizer é que soou “fofo” demais pra uma da tarde. E qualquer auto-definição de banda que comece com “folk” já me dá comichão. Permaneci na tenda, queria ver o Long Blondes. Curioso, quando a mídia tenta forçar a barra pra criar uma "cena" em certa cidade ou região, tipo Seattle, espera-se que ao menos as bandas soem parecidas ou tenham as mesmas influências. Porra, os LB não têm nada a ver com os Arctic Monkeys, que também são de Sheffield. New Wave e pop nova-iorquino contra pós-punk britânico. Gostei. Vestem-se melhor do que tocam, mas o resultado é agradável.


Uma passadinha no Carling Stage pra ver o motivo de terem dito que o Scissors For Lefty era enjoadinho e, após 10 minutos, a constatação de que "enjoadinho" era bondade, eles eram um saco mesmo! De repente me vi no palco principal pra conferir porque o Panic! At The Disco fazia tanto sucesso. Achei o álbum um cu e só uma música era mais ou menos, aquela com o título enorme, vocês sabem. The Only Difference alguma coisa. Que foi justamente a que começou o show. Ainda estava tentando descobrir o que tinha me dado na cabeça quando o vocalista da banda também teve a mesma dúvida, já que foi atingido por uma garrafada e desmaiou na metade da música. Comoção geral, mas ele se levantou e continuou o show. Segundo alguns, chorando. Nada de mais, Belle & Sebastian vem baseando toda a sua ridícula carreira mala na filosofia "mamãe, acabou o meu Quik" (copyright by Allan Sieber). Não repetiu a música, no entanto. Mais 5 minutos e eu deduzi que o sucesso deles se devia a lobotomia adolescente.

Um pulo no Field Music, banda de Sunderland (terra dos Futureheads), mais uma dica do Luciano, com o adendo "você não vai gostar, a Uncut descreveu-os como uma mistura de Wire com Beach Boys". Duas músicas show adentro e eu implorava por um arame (wire) pra enfiar nos ouvidos. Fui ver o Gogol Bordello então, que soava mais divertido. Nossa, confusão total, enquanto o público se espremia. E eu achava que seria o Mamonas Assassinas ucraniano, mesmo tendo dado boas risadas com o "Gipsy Punks" e o "Uma Vida Iluminada" e Sammy Davis Jr.Jr. Que nada, puta presença de palco e fúria punk. Vi-me no meio do mosh pit em "Sally" e decidi vazar dali e assistir mais do canto, ainda mais depois da música seguinte. Vai que eles levam a sério o "In ze old times, it was not a crrrime"...

Continuando a energia punk descerebrada, nada como assistir a mais um pseudo-Nirvana como o The Vines, o The Subways. Legal, tem umas três músicas grudentas que botam o público pra pular, mas eu acho que não sobrevivem a mais um álbum. Esticar "Rock n' Roll Queen" por quase 10 minutos é típico sinal de "não temos mais hits". Mas foi o antídoto perfeito ir em seguida assistir em seqüência a duas bandas em processo de ebulição, do underground ao mainstream, no palco menor: Little Man Tate e The Sunshine Underground. A primeira soa idêntica aos Arctic Monkeys, mas parece mais segura de si. "House Party At Boothy's" e mais tantas outras foram urradas pela platéia ensandecida, num claro aviso de que eles vão estourar em breve. Mas eu prefiro o Sunshine. Pelo som mais dançante, por soar como o Rapture menos esganiçado e por terem cometido "Put You In Your Place", uma música que tem tudo pra ser hit das pistas e foi também levada em uníssono com o público, como vocês podem conferir em um pedaço aqui:



Fui descansar um pouco da suadeira, comprar um picture-disc lindíssimo do single de "Supermassive Black Hole" na barraquinha de Cd's e tentar assistir aos Secret Machines sem dormir. Eu juro que realmente tentei, mas dei umas três pescadas depois de quase 20 minutos. E eles estavam na segunda música. Muito prog pro meu gosto.

Tá indo rápido pro fim do dia, né? por isso eu dou um intervalo aqui. Amanhã eu conto o quão nojento é um Yorkshire Pudding e porque muita gente vai se decepcionar com os Yeah Yeah Yeahs no TIM Festival.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Eu juro que não esqueci isto aqui. Semana difícil. Trabalho bombando, ingressos do TIM e passagens de avião pra comprar (Beastie Boys duas vezes!!!!!), show do Franz, visitas de amigos. Escrever ficou para segundo plano, afinal, ainda não consegui honrar a camisa de Drummond, funcionário público com louvor e poeta / cronista talentoso. Não sou nem um, nem outro. Por isso a demora. Bom, de volta à vaca fria hoje à noite, sem falta. O texto já está na metade, mas eu tenho T.O.C., sabe como é. Tsc.

segunda-feira, setembro 11, 2006

I THINK WE'RE GONNA MAKE IT

Domingão de sol e calor, espantando esse frio maldito que parecia me perseguir desde Dublin. Dia ótimo para praia, não? Er... não. Muito melhor ficar recluso, deliciando-me com a coletânea de singles do Feeder, com DVD. Feeder é um daqueles prazeres proibidos, aquela banda ultra-pop comercial com músicas grudentas e melodias decenais (o primeiro EP que tenho deles, lançado no Brasil pela Sum, "Swim", é de 1996) que seus amigos jamais acharão cool e os jornalistas nunca farão (como nunca fizeram) hype. Pergunte à banda se eles se importam. Com a legião de fãs leal e ardorosa, impossível.

Quando comprei o "Polythene" (97) na Galeria do Rock, era apenas mais uma banda dentre tantas outras a fazer o tipo de som que eu mais curtia nos anos 90, aquele rock americano com grandes riffs e refrões cantáveis. Tipo Smashing Pumpkins, Foo Fighters e Fountains of Wayne. A banda inglesa (com vocalista galês e baixista japonês) nunca fez britpop como seus conterrâneos, estava mais pra cartilha Hüsker Du - Pixies. Motivo do não-hype. Ouvi o "Yesterday Went Too Soon" e estavam se aprimorando. Mas quando o "Echo Park" saiu em 2001, como ignorar "Buck Rogers", esta gema pop-chiclete de 3 minutos que, não surpreendentemente, os fez estourar (e de que já falei aqui)? E ainda com músicas como "Seven Days In The Sun", cujo b-side, "Just A Day", acabou virando hit e teve que ser relançado como single (!!!). Daí pra figurar no grupo seleto entre as bandas que eu admirava foi um pulo.

Antes de continuar, 3:11 minutos para um dos melhores singles de power-pop ever:

Feeder - Buck Rogers


Não é uma banda que eu indicaria a qualquer um. Não é poseur, não é estilosa, faz o mesmo tipo de som há 10 anos, nem mesmo é original, mas é difícil explicar, você teria que gostar desde o começo pra ser da mesma forma. Teria que ter se chocado quando o baterista Jon Lee se enforcou em sua garagem com a corrente do cachorro. Teria que ter se emocionado em algum momento com o drama da banda então, como eu ao assistir a eles no Reading 2002, o primeiro show em festival após a morte de Jon. Teria que ter sorrido ao ver a volta por cima triunfal com "Comfort In Sound" (2003) e o clip entusiasmado de "Come Back Around", com as quatro meninas bateristas e as imagens que são a capa desta coletânea de singles. Teria que continuar gostando até hoje, mesmo com o tom mais meloso das músicas novas desses quase quarentões, a partir do "Pushing The Senses".

Eu ouço "Machina", dos Pumpkins, e vejo Feeder ali. Ouço "We Used To Be Friends", do Dandy Warhols, e rio com o plágio de "Day In Day Out", que a precede em 4 anos (veja aqui). Fico surpreso ao assistir a um filme russo (Nightwatch) e ver Feeder na trilha sonora. Foi pra vê-los pela segunda vez neste verão (a primeira foi no Pukkelpop, como já narrado) que abandonei o (péssimo) show do The Fall e ignorei solenemente o Clap Your Hands Say Yeah. Gratificante, rapazes.

Amanhã, sem falta: Reading. Enquanto isso, já te falei pra ouvir a nova "Lost And Found"? Já, eu sei. Não custa repetir.

sexta-feira, setembro 08, 2006

O SONHO ACABOU

Assim dizia o padeiro da esquina, às cinco da tarde. De volta à realidade, de volta ao trabalho (para o espanto de muitos, um servidor público que não enforcou o dia de hoje), mas ainda mantendo a promessa de continuar este diário até o último ocorrido na viagem, pelo menos. Depois, bom, vamos ver se sobra inspiração. Desde terça, malas desfeitas, compras arrumadas, caixinhas de CD e DVD compradas para repor as descartadas no trajeto e uma triste constatação: a minha idiotice amadora de gravar apenas um CD para cada conjunto de fotos salvo e deletado do cartão de memória (o que nunca havia feito antes, sempre queimei dois) me fez perder, por erro de leitura do CD, cerca de 100 fotos do Reading Festival, a maior parte do segundo dia. The Automatic, The Fall, The Cribs, Wolfmother, Futureheads, Feeder, Streets, Arctic Monkeys, Serena Maneesh, The Like, Giant Drag, tudo pro espaço. Na verdade, incialmente foram 240, mas a maioria eu consegui resgatar do cartão de memória com um software que recupera fotos deletadas. Estas, no entanto, não rolaram. Junte-se a isto mais 60 fotos diversas de niver de amiga minha e algumas de Barcelona que estavam no meu pen-drive inexplicavelmente defeituoso. Se alguém for a Dublin em breve, me avise, elas continuam no cybercafé, os caras não apagam.

Revendo algumas fotos, lembrei-me de um incidente patético que presenciei no V2006, em plena luz do dia, quando ia da tenda Union para a JJB/Puma. Obviamente, rolou aquela parada providencial no cantinho do cercado pra uma mijada básica. Atrás dos containers, no mesmo canto, as meninas também faziam seu banheiro improvisado, ao menos aquelas sem pudores de dividir espaço com rapazes ou acobertadas por seus namorados ou amigas. Eis que me viro, ainda em pleno ato mictório, e vejo uma cena singular: uma menina agachada na grama, obviamente mijando ou acabando de, com uma capa de chuva verde-musgo cobrindo o seu corpo e segurando em uma das mãos um balão em forma de cachorro. É isso mesmo que vocês leram. Bom, ela não se equilibrava direito, o que denunciava seu estado bastante alcoolizado. Em determinado momento, tentava subir sua calça com a única mão livre e o inesperado aconteceu: tombou para a frente, fazendo subir a capa de chuva pelas suas costas, o que cobriu sua cabeça e deixou expostos ao mundo seu traseiro não-bronzeado e suas partes pudendas, numa situação literalmente cabeluda. E assim travou. Não soltou o cachorrinho flutuante, e sua outra mão, presa pela capa, impediu-a de retornar à posição anterior. Ficou aquela bunda branca e tudo o mais pra cima, como se oferecidos a qualquer transeunte que quisesse ali fazer o que bem entendesse (e ainda leve um balão em formato de cachorro de brinde!). Já havia terminado e fiquei ali, atônito, perplexo, um pouco constrangido, sem saber se ria ou se oferecia ajuda. Mas como me dirigir a uma bunda sem rosto? Vazei. Não sei o que ocorreu depois, pobre criatura. Aliás, em outra ocasião, no Reading, eu juro que vi uma menina mijando de pé. E não era traveco.

Antes de prosseguir no relato, assistam ao We Are Scientists detonando "Nobody Move" no Pukkelpop. Só um minutinho, mas vale o tempo:



Bom, fim do V e o dia seguinte estava reservado para o que eu achava ser o começo de um período de descanso de 3 dias, após 4 seguidos de shows, em Amsterdam. Voltei calmamente de Wolverhampton para Londres, passei a tarde surfando na net e fui pra Luton pegar meu aviãozinho. Infelizmente, as medidas de segurança implantadas desde a prisão dos terroristas no começo do mês eram mais severas para aviões saindo de Londres do que chegando. Um só item de bagagem de mão, sem líquidos ou afins (nem mesmo pasta de dente, protetor labial ou desodorante) e outras restrições que me tomaram duas horas no check-in e quase me fizeram perder o avião, que, por sua vez, atrasou uma hora. Cheguei na Centraal Station às 23h, sem conhecer a cidade. No Flying Pig mesmo, ao lado do Vondelpark, só meia-noite. Só restava tomar um pint no bar do albergue e dormir.

Foi acordar cedo pra ir aos museus (a cidade é cheia deles) e ver a fila já enorme do Rijkmuseum e ler a notícia de que os dois principais (o Rijk e o Stedelijk) estavam em obras e só exibiriam parte selecionada de suas obras principais pra desistir de todos eles (só entrei no do Sexo e na Casa de Anne Frank) e passar minha curta estada lá passeando em lugares abertos. O que não é nada desagradável, já que a cidade é uma graça, mesmo com o frio, tempo meio ruim e o fato de que os canais são TODOS iguais e o centro fede à maconha. Além disso, Amsterdam inteira é uma loja. À exceção da margem dos canais, em qualquer canto tem comércio, seja comum ou loja de turistas (que infestavam tudo que é canto), eu não agüentava mais. Valeu pelo passeio de bicicleta, pelas paisagens, pelo simpático e trendy bairro de Jordaan, pela bizarrice das putas nas vitrines no Red Light District, pelo clima de permissividade em todos os lugares. Não me diverti muito à noite, não tinha nada de bom na Paradiso ou na Melkweg, as duas casas de show rock de lá, mas tudo bem, descansar era o principal.

Preparados para os relatos do Reading? Ah, sim. Mas antes, mais um videozinho, desta vez dos Editors tocando "Munich" no V2006:



A volta para Londres, na quinta, foi tumultuada pelo atraso da Easyjet que me fez perder quase duas horas de compras na Oxford Street, mas ao menos não houve tumulto no aeroporto. Fiquei num albergue lá perto mesmo para comprar bastante coisa na HMV e Virgin. E haja olho grande pra agüentar tanta oferta de singles em vinil. Como já dito, ainda vi o pocket-show do Hot Chip (bom, porque acabaria perdendo o show deles no Reading e não indo ao Electric Picnic) e marquei com o Luciano e a Clarisse de encontrá-los em West Kensington na manhã seguinte, quando iria me juntar a eles no Holiday Inn e partir rumo ao Reading. Foi o Lu que comprou os nossos ingressos. Para vocês terem noção, isso foi uma operação, lá pelos idos de março, que envolveu nós dois simultaneamente conectados na rede, tentando abrir o site (o servidor caía toda hora) e comprar 3 ingressos. Quem conseguisse avisava o outro. Ele deu sorte. O festival esgotou-se em uma hora. É, tem que ser assim.

Ah, tá. Amanhã eu continuo. Foi mal. Sou mau.


domingo, setembro 03, 2006

AMARGO REGRESSO

Eis que me encontro no ultimo dia de minha jornada, triste porque ja comeco a trabalhar no dia seguinte ao da minha chegada (terca-feira em terras cariocas, gracas a Deus), radiante pelo ultimo mes que parece ter sido um ano, de tanta coisa que fiz (e que mostra o quanto meu tempo eh mal-aproveitado no Brasil), ansioso pra ler, escutar, mostrar tudo o que comprei. Mais um longo dia a partir das 5:30 da manha, quando ja tenho que pegar o onibus para o aeroporto, depois Londres - Madri - Rio. Assim, eh uma incognita saber se este sera meu ultimo post em solo europeu. Vai depender das linhas aereas e seus costumeiros atrasos.

Depender da Ryanair eh mais ou menos como pedir pra um trombadinha dar uma olhada na sua carteira enquanto voce vai mijar. Acho que jamais comprarei uma passagem nela novamente. Tem a Easyjet, ne? Eh como o Insetisan, um pouco mais caro, ahhhhhhhh, mas eh muito melhor!!! Na minha viagem a Bruxelas, o pesadelo ja se pronunciou no embarque: a fila de pais com criancas pequenas, a entrar primeiro no aviao, tinha mais de trinta pessoas! Nao so isso, como as poltronas nao tinham bolsa na frente para documentos e nao reclinavam!!!!!! E o voo entao? Alem dos atrasos que chegaram a uma hora e meia (de Londres pra ca), o trajeto ate a aterrissagem (ou seja, voo manual e nao automatico) eh uma especie de bem-me-quer/mal-me-quer: asa esquerda, trem de aterrissagem, asa direita, trem, asa esquerda.. e por ai vai. Com sorte, aterrissa no trem.

Domingo de sol em Dublin, apesar do frio ainda constante. Junte-se o ocio e tedio de fim de viagem e minha vontade inexistente de percorrer o interior da Irlanda (fodam-se castelos e verde, eu nao quero mais tirar foto ou gastar), dia perfeito para descanso, ler algumas revistas que serao deixadas para tras e fazer piquenique no St. Stephen's Green. Brie, bagels, chips e mais experimentos com refrigerantes bizarros locais. Desta vez, um de maca, Cidona (nada a ver com o Muse). O ritual de preparacao para encarar essas misturas eh o mesmo do velho comercial do Teen. Teen era um refrigerante de limao que fazia time com o Crush (laranja) e o Mineirinho (xarope) e passava na TV, nos anos 80, um comercial em que um cauboi entrava no saloon em meio a uma tempestade de areia no deserto e pedia no balcao, para o espanto geral, um saco de batatas-fritas. Comecava a comer e a camera focalizava seus labios ja rachados e o sal voando das batatas mordidas. Realmente angustiante, dava secura so de pensar. Ai ele pedia um Teen e vinha aquela garrafa com gotas molhando a superficie, ultra-gelada, que ele virava de uma vez. Boa publicidade, sempre dava vontade de tomar um. Assim, eis-me a encarar um saco inteiro de salt and vinegar chips antes de tomar a maldita bebida. Porra, e nao eh que o negocio eh bom? Uma cidra sem alcool, mesmo depois que o sal se diluiu, continuou o gosto bom. Aprovado.

Ainda agora, um guarda de transito (a Garda local) encarnava o finado Margarida ao dar pulinhos de bicha louca quando um carro parou em cima da faixa. Eu, hein, mona, relaxa. Comprei mais tres numeros da Specialten, uma aparentemente otima revista britanica em forma de DVD, com entrevistas, videos musicais (Hot Chip, Zero 7, Beck, Test Icicles, Cat Power, entre outros) e curta-metragens. So vou saber mesmo quando chegar em casa, no entanto. E haja mala pra trazer isso tudo.

Essa sensacao de dia livre com tempo de sobra eh muito boa, e foi assim que acordei ha dois domingos, 20/08, para o segundo dia do V2006. Cheguei cedo ao site e ainda dei uma circulada para ver as camisetas das bandas. Hora de comecar a loteria pra ver quais bandas desconhecidas assistir. O programa do festival ajudou, evitei tudo o que dizia "lembra Coldplay". Ai fui conferir o Rushmore. Duas musicas de folk-rock e vazei. Nao fode. Cheguei a tempo de pegar umas tres musicas do The Milk Teeth. Legal, power-pop com influencia dos anos 50. Tem futuro. A banda seguinte, Director, foi otima tambem. Daqui de Dublin, pos-punk, soa um pouco como Interpol, mas como se fosse os Smiths, e nao Joy Division, a principal influencia. Eles vao abrir pro Maximo Park mes que vem, aqui.

Dei um pulo na tenda JJB/Puma pra conferir o Phoenix, boa banda francesa. Mas quem ouviu o remix "25 Hours a Day" para "Long Distance Call" viu que eh melhor do que a original. O Pure Reason Revolution ainda estava tocando, deu pra pegar duas musicas do final. Dificil definir o som da banda, tem elementos de prog e psicodelia, com uma pegada grunge na guitarra. E fiquei sabendo que o Phoenix cancelou a apresentacao. Merda. Voltei pro palco do meio para ver o fim do Biffy Clyro. Ja os tinha visto no Reading 2002 e o som nao mudou nada, um hardcore melodico (nao confundir com emo) eficiente e pegajoso. Meia hora para comer um kebab e me preparar para a primeira grande espera do dia.

Claro, estou falando do Kula Shaker. Nao que eles sejam exatamente relevantes agora, mas eh algo curioso ver uma banda sobre a qual voce costumava ler muito ha 10 anos, antes de sequer imaginar que estaria vendo festivais no estrangeiro no futuro. E esta banda sumiu sem voce te-la visto e eis que volta do fundo do poco (frase utilizada pelo Crispin Mills ao abrir o show). Se sumiu pela fraca presenca do "Peasant, Pigs and Astronauts" ou se pelas declaracoes infelizes de cunho nazista de Crispian, nao se sabe, mas quando o show comeca com "Hey Dude", perdoa-se o ostracismo e todo mundo comeca a pular. A banda mostra seu rock setentista com pitadas de musica indiana por apenas 45 minutos, mas a nova "Dictator of The Free World" e "Tattva", cantada em coro, demonstram que a banda ainda mantem seu publico e bota muito estreante no saco. Valeu, valeu. Mas eu queria ter ouvido "Smart Dogs".

Um pequeno descanso e comeca o show do Orson. Curioso, em estudio eu tinha achado a banda legal, mas ao vivo parece coisa de mulherzinha, tipo Keane ou The Kooks. Nao sei o que pensar, mas eu comecei a encher o saco daquele som. Parti pra tenda Union pra esperar os Young Knives. O sucesso repentino do single da banda eh tao grande que pouco apos sentar no chao pra esperar o show, os segurancas fecharam a tenda, proibindo a entrada de mais gente. Quando comecou, no entanto, apesar dos aplausos, pouca gente comprou o pos-punk esquisito e estridente do trio de verdade. "Weekends And Bleak Days" eh uma daquelas musicas que sobressaem tanto num album que o resto chega a ser meia-boca. E salvo quando eles a tocaram, para urros gerais, a recepcao foi morna na execucao das musicas, com aplausos e gritos de reconhecimento ao final de cada uma, mas sem a mesma empolgacao. Banda pra palco pequeno.

Corrida para o palco principal, pois em dez minutos, comecaria o show do Bloc Party. Espremido no meio da galera, acabei pegando um pouco da unica chuva que cairia naquele dia (felizmente). Mas um pouco a toa, ja que, tirando a primeira musica, "Welcome To The 718", eles basearam o show no primeiro album. Fiquei um pouco desapontado. Festival eh faca de dois gumes: ou a banda joga pro publico ou mostra material novo. Eles resolveram agradar as massas. Ja tinha visto dois shows deles, queria ouvir as novas ao vivo. Mas nao se pode reclamar muito quando a energia de "Two More Years" e "Helicopter" coloca todo mundo pra tirar os pes do chao. Preferia um palco menor, no entanto.

De volta ao palco do Channel 4 pra ver de novo o We Are Scientists. Os Cardigans estavam terminado de tocar e foi anunciado que um dos integrantes dos Ordinary Boys tinha sido hospitalizado e a banda nao se apresentaria mais. A principio, nao gostei, porque queria dar uma conferida no show e ver ate que ponto o sucesso do Preston na Casa dos Artistas local afetou a banda. Mas este cancelamento acabou por dar mais tempo para as duas bandas seguintes, o W.A.S. e o Editors. A primeira faria um show maior e a segunda teria mais tempo para arrumar o palco. Acabaria por influenciar e muito na diversao do publico.

Barulho de motos e entram Keith, Chris e Michael de capacete, "pilotando" tres pequenos triciclos, com casacos iguais, meio que um uniforme (Beastie Boys, alguem?) . Comecam de novo com "Lousy Reputation", mas a agitacao e empurra-empurra aqui sao bem maiores do que no Pukkelpop. Desta vez tocam todo o album, tres musicas novas e"This Means War" de novo (o Keith zoa a plateia porque eles acabaram de vibrar com um lado-B e da risada). O show alongado da margem a piadas por parte de todos, espirituosos que sao. Nao acredita? Veja o website deles. E os videos, principalmente a primeira versao de "It's a Hit". Chris sugere que cada um suba no ombro da pessoa a sua frente, assim se formara uma grande parede e todo mundo vera o show da primeira fila. Duh. Keith agradece aos Editors por terem emprestado as guitarras e diz que por isso o show sera 25% melhor. E diz em seguida que o palco em que estao seria o melhor do festival se o Bloc Party nao estivesse no palco principal. Ai emenda dizendo que vai corrigir isso e chama Russell do BP pra tocar guitarra em "Nobody Move". A multidao vai ao delirio. Depois eu coloco o videozinho aqui. A banda encerra com "The Great Escape" e sai de novo em seus triciclos, ao som de motos possantes. Otimo show, melhor do que o do Pukkelpop, mostra que a banda vai longe com esse carisma.

O ceu ja esta completamente azul, espantando de vez a chuva, mas vai anoitecendo e alguns DJ`s colocam som para preencher o resto do tempo deixado pelos Ordinary Boys, enquanto arruma-se o palco para o proximo show. Um painel enorme com lampadas incandescentes gigantescas ocupa o fundo do palco, o prenuncio do que seria o melhor espetaculo do festival, o dos Editors. Talvez influenciado pelo fato de a banda ser da regiao (Birmingham eh ao lado de Staffordshire), o publico eh feroz na reacao as musicas. Comecando com "Someone Says" e desfiando todo o conteudo do "The Back Room", foi a primeira apresentacao do V em que vi uma banda dar tudo de si, como se a musica nao fosse o suficiente, principalmente nas caras, bocas e contorcionismos de seu vocalista Tom Smith, numa performance que beira o emo. Foge do caricato somente porque passa a impressao de que a banda realmente acredita no proprio talento, aqui justificado do primeiro ao ultimo urro da plateia. Eh nesse ponto que uma banda se supera e foi isso o que o Editors fez. No momento final do show, convidou os caras do W.A.S. para fazerem o corinho de "follow me, don't follow me" na cover de "Orange Crush", do R.E.M.. E encerraram gloriosamente com "Fingers In The Factories", uma das melhores do album. Memoravel.

Como ja havia dito, ver o Radiohead mais uma vez, dois dias depois, estava longe dos meus planos. Quem sabe da proxima vez. Ficou com o Kasabian entao a responsabilidade de fechar bem a minha noite. Seria o quarto show deles a que assistiria, o primeiro com as musicas do novo album, "Empire". Desde quando baixei os primeiros singles e os vi abrindo o V2004, ao meio-dia (isso mesmo!!), sabia que eles seriam grandes, como ate disse no meu finado flog. E eis que, com toda a pompa e auto-confianca que colocariam o Oasis no jardim de infancia, vem mostrar porque sao headliners e, ao mesmo tempo, amados por muitos e odiado por tantos. Pra terem uma ideia de como algumas pessoas veem mal o Kasabian, durante o show do Art Brut, quando Eddie Argos cita nomes de bandas em "Top Of The Pops", eh depois do nome deles que vem as vaias.

Tom Meighan aparentemente esta cagando para os detratores, como prova ao entrar empunhando o microfone como um rei e seu cetro, na abertura com a nova "Shoot The Runner". Em seguida, "Reason Is Treason". Nao preciso dizer que fui esmagado de todas as formas possiveis, na minha insistencia em assistir da frente. Paciencia, fiquei de cara vendo a banda detonar seus principais hits, junto com as otimas musicas do novo album, assumindo de vez que querem ser o Primal Scream circa "XTRMNTR". Fodaco. Quem duvida ainda que eles vao dominar as paradas deveria ouvir o publico saindo feliz depois do show, ainda a cantarolar o "laaaaa la la" do fim de "L.S.F.", que fechou o bis. Na saida, ainda tive a felicidade, so pra fechar o circulo, de presenciar, no palco principal, o Radiohead tocando "Creep", que tinha ficado de fora no Pukkelpop. Final perfeito.

Viagem perfeita, apesar dos importunos e imprevistos. Posso estar enganado, mas acho que so posto do Rio.

See ya then. Vou dormir cedo. Nada de balada.

sábado, setembro 02, 2006

NO BATTERY POWER REMAINS. PLEASE CONNECT BYRON TO POWER.

A preguica e o cansaco imperam. A molecada emo-gothz povoa os arredores aqui da area neste final de tarde de sabado, enquanto eu luto pra manter os olhos abertos. Nao esta dando pra me concentrar. A noite de ontem foi sinistra e a visita a fabrica da Guinness hoje, com degustacao, nao ajudou. Mais tarde eu atualizo isto aqui decentemente.

Por enquanto, mais dois videos curtos e toscos da minha camera:

a) Hot Chip tocando "Over And Over" no pocket-show da HMV Oxford St.:



b) Kaiser Chiefs fazendo o segundo melhor show do Reading Festival, numa turbulenta (perceba o tremor das imagens) execucao de "I Predict A Riot". And they were right!:



De hoje nao passa. Prometo.

sexta-feira, setembro 01, 2006

VIDEO II

Mais um do Reading, o Maximo Park encerrando o festival com "Postcard Of a Painting". Quase morri esmagado na grade, mas foi fantastico tambem:



Bom, hoje nao tem atualizacao de texto. Fica pra amanha o segundo dia do V2006. Fui assistir ao Severance no cinema, thriller ingles com pitadas de humor negro, tipo o Shaun Of The Dead. Bom como suspense, da pra tirar umas risadas tambem. Nao sei se estreia no Brasil, por isso preferi assisti-lo ao Snakes... ou The Wicker Man.

Amanha eu escrevo. Palavra de zumbi.
VIDEO

Uma parte de Supermassive Black Hole, do Muse, no Reading Festival. Melhor show do festival, melhor banda de rock ao vivo do Universo.

Perdoem minhas imagens de cinegrafista amador.

quinta-feira, agosto 31, 2006

WORDS ON A T-SHIRT A piada do titulo eh a frase que eu vi numa camiseta no Reading, uma obvia sacanagem com o ja hypado filme das cobras a bordo. Um comeco de post com comical relief, ja que ainda estou um pouco chateado por perder o Electric Picnic e tambem por ser tao conformado. Um tanto mais chateado ainda porque o Franz Ferdinand esta tocando literalmente aqui ao lado do cybercafe, num show secreto (so divulgaram o local agora) para clientes da Vodafone e eu escrevo estas linhas enquanto ouco "Walk Away". Isso eh Europa. Obvio que apareci na porta, mas nada feito. Acabei de vender meu ingresso no Temple Bar. A visao da grana de volta no meu bolso aplacou um pouco a minha tristeza. A nocao de que ha livros comprados quando da viagem ao Coachella em abril do ano passado e ainda nao-lidos na minha estante aplacou o meu instinto consumista que poderia piorar com dinheiro inesperado na minha carteira. Dublin parece nao querer que permanecamos no mesmo lugar por muito tempo. O japa aqui do cyber vive me olhando de cara feia quando eu passo mais de duas horas ao computador, mesmo eu tendo pago por uma franquia de dez. Todas as lojas de comida, sejam bagels, sanduiches, paninis ou as de conveniencia da Spar (rede que toma o lugar da Tesco aqui) nao te deixam comprar e comer la mesmo. Os sinais piscantes de "Take away" ou "buy a nice sandwich.. .TO GO!!!!" sao bem claros no sentido "compra essa merda e vaza, vagabundo, nao quero te ver sujando a porra do meu chao!" Pena, o que eu fiz de piquenique em parque hoje nao ta no gibi. Inclusive, mereceriam um capitulo a parte os refrigerantes bizarros mundo afora. Depois da Vanilla Coke, Mr. Brown's Soda e a maldita root beer, as coisas mais nojentas que ja bebi, hoje o bizarrometro estourou o ponteiro: PEPSI MAX CAPUCCINO!!!!! Nao to zoando, levo o rotulo pra provar. Pra variar, uma merda. Gosto de caramelo. Alguem importa o Dr. Pepper pro Brasil, por favor? Lembro-me de que assim que cheguei na Belgica, meio perdido, entrei num jornaleiro e la estava a latinha vermelha reluzindo na prateleira. Comprei com as maos tremendo essa ambrosia terrena e, estampada na lata, li a seguinte frase: "Solves all your problems!" Mas claro!!! Como nao? Dr. Pepper forever! Meus amigos sabem bem que sou provador oficial de Mc Donald's, sempre como pelo menos uma vez la em cada pais que visito, pra ver as diferencas. Ainda sou apaixonado pelas batatas Deluxe de Paris e Madri. Na Inglaterra, ja vendem sanduiches em baguetes com peito de frango e onion rings, ou seja, Titio Ronald quer tomar o lugar da Subway e do Burger King. Tolinho. Daqui a pouco ta vendendo kebabs, falafel e shoarma. Hoje finalmente, com a aparicao do sol, visitei meu primeiro cemiterio da viagem, em Glasnevin, onde estao enterrados os pais do James Joyce e tambem o Michael Collins. Tambem fui ao museu dos escritores. Mais sobre isso daqui a alguns dias, estou atrasado nos relatos. Vamos retornar entao aquela manha fria e chuvosa de 19/08, data em que completei 34 aninhos e empreendi uma jornada e tanto para chegar ao V2006. A empreitada nao era pra amador. Qualquer atraso e o dia inteiro iria pro cacete. Eis o roteiro: pegar o metro para a estacao Brussels-Midi, pegar o primeiro Eurostar pra London Waterloo as 7:10 da manha, pegar outro metro de Waterloo para a estacao de Euston e de la outro trem para Wolverhampton, no interior da Inglaterra. Fazer check-in no hotel, deixar malas e voltar para a estacao de onibus no Centro para pegar o coach pro V2006. Acredita que consegui fazer tudo conforme previsto? Mesmo morrendo e suado de carregar mochilao, sem ter mapa de Staffordshire e o horario das bandas, acabei chegando no site do festival as 3 da tarde. Ok, ja estava rolando show desde meio-dia, mas eu so acabei perdendo de marcantes o The Rifles (album bem legal, "Peace and Quiet" eh minha preferida), Lily Allen (superestimada, acho meio fraca, tambem nao curtia o Fat Les, do pai dela e do Alex James e quem ja ouviu Luscious Jackson nao ve nada de mais ali) e os Dandy Warhols (ja os vi em 2002 e acho o album novo um porre). Dias depois fui ouvir o The Grates e percebi que tambem queria ter visto o show. O frio e a chuva tambem me deixaram de baixo-astral. Pena, Murphy ja me ajudou ate demais nesse dia, mas nao adianta dar murro em ponta de faca. Quando eu me vi sozinho, em pleno aniversario, longe dos amigos e da familia, parado no ponto de onibus a esperar a conducao pro Centro da cidade, ponderando sobre a vida, idade avancada, casamento, filhos, essas coisas (tudo isso num espaco de 10 minutos), pensei em como as coisas nem sempre acontecem como a gente deseja, mesmo que tenhamos planejado e cumprido a risca o passo-a-passo. Depois conclui que eu eh que poderia ter feito tudo muito mais bem-planejado: ter acordado no horario certo pra comprar o ingresso em Chelmsford (eh pertinho de Londres e supostamente faz sempre tempo bom, como constatei em 2004), ao inves de confundir o fuso horario, ter alugado logo o hotel, mais barato, ter verificado o ultimo dia do Pukkelpop pra ver se nao era mais vantagem ficar na Belgica, ter alugado um carro, enfim... muita grana gasta a toa, mas era meu dia, nao iria reclamar. O que eh um peido pra quem ja esta cagado?
Resolvi dar uma descansada da correria na tenda Bacardi e ouvir a discotecagem dos Loose Cannons (autores da deliciosa "La La La I'm Not Listening", de que ja falei aqui). Curioso como bandas em DJ sets tentam mostrar que gostam de musica bem diferente da que tocam. Nao foi o caso deles. Nem deu pra descansar, ja que o povo pulando com a performance explosiva do duo nao dava espaco. Misturou com Live P.A.. Legal, mas estava na hora do Hard-Fi no palco principal.
A chuva ja caia gelada na multidao que se espremia quando a banda entrou, sob urros e palmas. Sim, eles sao enormes aqui. O V2006 eh o medidor perfeito de popularidade, um festival "familia", com publico menos adolescente e alternativo do que o Reading. Snow Patrol e Hard-Fi, pra eles, sao Jota Quest e Skank. Sendo que os alternativos tambem curtem. Eh bizarro ouvir no intervalo o carinha playboy ao seu lado cantando a letra inteira de "I Am The Ressurection", do Stone Roses, mas rock eh assim no Reino Unido. Eh tipo futebol pra gente. Explica muito sobre a incapacidade da maioria das bandas brasileiras de rock em fazer algo decente. Vao jogar bola e tocar pandeiro, vao!
Enfim, Richard Archer, o vocalista, nao parecia num bom dia. Sua voz estava inconfundivelmente fudida. Garganta, talvez. O que nao o impediu de levantar o astral combalido da galera molhada. "Tied Up Too Tight", "Cash Machine", "Hard To Beat", cantadas empolgadamente pelo publico em meio ao rocar (leia-se "rossar") das capas de chuva de plastico (quando todos pulavam). Mesmo quem torce o nariz pro lado dancante e pop da banda nao pode deixar de reconhecer que eles tem carisma, competencia e as musicas SAO boas. Desde as criticas sociais (o CCTV, Big Brother britanico, que da nome ao album e que proporciona o momento mais legal do telao: a tela dividida em 4 e os integrantes aparecendo nas imagens em preto e branco das camerazinhas) ate as irritacoes banais (caixa eletronico nao, ne?), tudo eh pretexto pra algum refrao pegajoso. E o auge do show veio no final, com Richard dirigindo-se a plateia e reconhecendo que o tempo estava uma merda, que todo mundo deveria estar irritado, ainda mais com Chelmsford ensolarado, pra emendar num "Foda-se!! O negocio eh viver pro seu fim-de-semana, da maneira que puder!", seguindo com a derradeira "Living For The Weekend". Foda, nao eh toda banda que consegue segurar um palco principal.
A chuva piora, eh hora de pegar um cafe pra espantar o frio e ir pro outro palco ver o James Dean Bradfield. Esperanca que ele tocasse alguma musica dos Manics, o que acabou acontecendo, com "Ocean Spray" e "No Surface All Feeling". Ironico, com as gotas insistindo em entrar na minha capa pela parte de cima. Ainda me manda uma cover de "Raindrops Keep Falling On My Head", com a alteracao de letra dizendo "wish I was in Chelmsford instead", sob vaias gerais. Claro, brincou dizendo que provavelmente estaria dizendo o mesmo no dia seguinte la. Show curto pra avaliar o trabalho solo dele, achei bem parecido com as musicas do "This Is My Truth...". Mais dificil ainda pelas condicoes nada agradaveis.
Dei um pulo no palco Union, que parecia ter o line-up mais constante da noite: so coisas boas. Hora do The Crimea. Nao conhecia a banda, mas gostei do que vi. Terei que ouvir direito em estudio pra dar a minha opiniao, mas fazem o que chamo de "pop estranho", algo no estilo do Super Furry Animals ou Flaming Lips. Como disse, nao tem show exatamente ruim por aqui. O que ha sao sons pop ou easy-listening demais, mesmo bem tocados. Como o The Beautiful South, por exemplo, que fui ver em seguida. Em que pese sua popularidade com o publico ingles em mais de uma decada, nao me segurou la por mais de duas musicas. De volta ao Union para o BellX1. Mais uma surpresa. A banda daqui da Irlanda que teve boa divulgacao com a inclusao na trilha de The O.C. na verdade tinha o nome de Juniper e era a banda de apoio do Damien Rice. Gostei mesmo, parece um Coldplay um pouco mais psicodelico, quase um Radiohead, menos intrspectivo. Assim, eu odeio essas comparacoes esdruxulas, mas categorizar som de banda eh complicado, ainda mais quando voce ve um monte de uma vez so.
A noite que comecava a cair, o calorzinho da tenda Union e a vontade diretamente proporcional de fugir do frio me fizeram decidir assistir novamente ao show das Pipettes. Ta, novidade zero, o show eh identico, as roupas tambem, perde um pouco do frescor, mas a moreninha fofa merece. Your kisses are wasted on me. E pelo menos o cinto dela nao arrebentou, como aconteceu em algum show europeu destes ultimos dias, acertando o rosto de um fa incauto. A chuva deu um descanso (ja estava tudo enlameado mesmo) e fui conferir os ultimos 15 minutos dos Charlatans. "Blackened Blue Eyes" , o bom single novo, "How High" e outra que desconheco. Sei la, aquele show do Olympia em 2002 foi bem fraquinho, perdi um pouco o tesao que tinha pela banda. Mas foi bom como musica de fundo.
De volta ao quentinho pra assistir aos canadenses do The Dears. Achava bom, nada espetacular, mas tava valendo pra nao bater queixo. Qual nao foi o meu espanto ao ver um dos melhores shows do festival inteiro e o melhor daquele dia. Amplificado pelo fato de nao ter apenas uma, mas sim DUAS tecladistas gatas (que tambem cantavam), perdoem-me a pseudo-misoginia, o vocalista/guitarrista Murray Lightburn parecia receber o espirito de algum crooner desencarnado dos clubes de musica negra do Mississipi dos anos 50, com roupagem college-emo (aquela coisa chorosa, mas que soa bela, sabe o que eu digo? Tipo um Arcade Fire nao-chato). Uma apresentacao cheia de emocao por parte da banda e presenciada com a mesma sensacao de "abra seu coracao" por parte do publico. OK, estou esgotando meus adjetivos aqui. Vou passar a utilizar abreviaturas, algo como TBES = Tocam Bem, E So ou FOSQVDN = Fudido O Show, Quero Ver De Novo.
Ainda sobrou folego pra ver o Razorlight. Ja os vi 3 vezes, todas otimas, sabia bem o que esperar. O album novo eh muito bom, pelo que ouvi, e Johnny Borrell pode ser egocentrico, mas comanda o publico do jeito que quer. E "Golden Touch" ao vivo eh fantastica. Bom, 25 minutinhos bastaram pra eu constatar que eles continuam os mesmos. Impecaveis. Uma forca sonora. Por falar em Razorlight e Sonora... Bom, abafa o caso... Vamos entao ao meu ultimo show da noite, algo que eu ja queria ter feito ha 4 anos, ver um show decente do Cooper Temple Clause. No Reading 2002, mal deu pra entrar na tenda lotada. Eles eram a unica banda local, dai o prestigio com o publico presente na epoca. Mas eh claro que este prestigio nao morreu, afinal, que outra banda que nao esta com album lancado ou nas paradas estaria fechando um palco destes num festival de renome? So os caras do CTC pra ter essa moral e um publico que ainda resiste fielmente.
Com um membro a menos (Didz esta no Dirty Pretty Things), o Cooper nao esmoece frente ao desafio e detona 45 minutos da sua explosiva mistura de guitar rock e eletronica. Bom, a parte eletronica foi prejudicada ao longo de todo o show por problemas tecnicos, mas isso nao os deteve de levar a plateia ao delirio (Gente, quantos cliches narrativos, alguem me salva!!!!) com "Been Training Dogs", "Film-maker" e "Who Needs Enemies?" (com corinho), fechando com "Panzer Attack". A nova, "Damage", eh muito boa. So faltou "Promises Promises", do segundo album.
Foi isso, saldo positivo, fiquei mais velhinho, curti o que pude, ainda deu tempo de comer um doner kebab ao chegar no centro de Wolverhampton e, finalmente, dormir numa cama decente de hotel. Melhor ainda, depois de assistir a varias musicas dos shows de Chelmsford pela TV, no Channel 4, com Zane Lowe e Jo Whiley apresentando. Sweeeet!!!!!!
Ate amanha. Cansei, porra.
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