quinta-feira, agosto 31, 2006

WORDS ON A T-SHIRT A piada do titulo eh a frase que eu vi numa camiseta no Reading, uma obvia sacanagem com o ja hypado filme das cobras a bordo. Um comeco de post com comical relief, ja que ainda estou um pouco chateado por perder o Electric Picnic e tambem por ser tao conformado. Um tanto mais chateado ainda porque o Franz Ferdinand esta tocando literalmente aqui ao lado do cybercafe, num show secreto (so divulgaram o local agora) para clientes da Vodafone e eu escrevo estas linhas enquanto ouco "Walk Away". Isso eh Europa. Obvio que apareci na porta, mas nada feito. Acabei de vender meu ingresso no Temple Bar. A visao da grana de volta no meu bolso aplacou um pouco a minha tristeza. A nocao de que ha livros comprados quando da viagem ao Coachella em abril do ano passado e ainda nao-lidos na minha estante aplacou o meu instinto consumista que poderia piorar com dinheiro inesperado na minha carteira. Dublin parece nao querer que permanecamos no mesmo lugar por muito tempo. O japa aqui do cyber vive me olhando de cara feia quando eu passo mais de duas horas ao computador, mesmo eu tendo pago por uma franquia de dez. Todas as lojas de comida, sejam bagels, sanduiches, paninis ou as de conveniencia da Spar (rede que toma o lugar da Tesco aqui) nao te deixam comprar e comer la mesmo. Os sinais piscantes de "Take away" ou "buy a nice sandwich.. .TO GO!!!!" sao bem claros no sentido "compra essa merda e vaza, vagabundo, nao quero te ver sujando a porra do meu chao!" Pena, o que eu fiz de piquenique em parque hoje nao ta no gibi. Inclusive, mereceriam um capitulo a parte os refrigerantes bizarros mundo afora. Depois da Vanilla Coke, Mr. Brown's Soda e a maldita root beer, as coisas mais nojentas que ja bebi, hoje o bizarrometro estourou o ponteiro: PEPSI MAX CAPUCCINO!!!!! Nao to zoando, levo o rotulo pra provar. Pra variar, uma merda. Gosto de caramelo. Alguem importa o Dr. Pepper pro Brasil, por favor? Lembro-me de que assim que cheguei na Belgica, meio perdido, entrei num jornaleiro e la estava a latinha vermelha reluzindo na prateleira. Comprei com as maos tremendo essa ambrosia terrena e, estampada na lata, li a seguinte frase: "Solves all your problems!" Mas claro!!! Como nao? Dr. Pepper forever! Meus amigos sabem bem que sou provador oficial de Mc Donald's, sempre como pelo menos uma vez la em cada pais que visito, pra ver as diferencas. Ainda sou apaixonado pelas batatas Deluxe de Paris e Madri. Na Inglaterra, ja vendem sanduiches em baguetes com peito de frango e onion rings, ou seja, Titio Ronald quer tomar o lugar da Subway e do Burger King. Tolinho. Daqui a pouco ta vendendo kebabs, falafel e shoarma. Hoje finalmente, com a aparicao do sol, visitei meu primeiro cemiterio da viagem, em Glasnevin, onde estao enterrados os pais do James Joyce e tambem o Michael Collins. Tambem fui ao museu dos escritores. Mais sobre isso daqui a alguns dias, estou atrasado nos relatos. Vamos retornar entao aquela manha fria e chuvosa de 19/08, data em que completei 34 aninhos e empreendi uma jornada e tanto para chegar ao V2006. A empreitada nao era pra amador. Qualquer atraso e o dia inteiro iria pro cacete. Eis o roteiro: pegar o metro para a estacao Brussels-Midi, pegar o primeiro Eurostar pra London Waterloo as 7:10 da manha, pegar outro metro de Waterloo para a estacao de Euston e de la outro trem para Wolverhampton, no interior da Inglaterra. Fazer check-in no hotel, deixar malas e voltar para a estacao de onibus no Centro para pegar o coach pro V2006. Acredita que consegui fazer tudo conforme previsto? Mesmo morrendo e suado de carregar mochilao, sem ter mapa de Staffordshire e o horario das bandas, acabei chegando no site do festival as 3 da tarde. Ok, ja estava rolando show desde meio-dia, mas eu so acabei perdendo de marcantes o The Rifles (album bem legal, "Peace and Quiet" eh minha preferida), Lily Allen (superestimada, acho meio fraca, tambem nao curtia o Fat Les, do pai dela e do Alex James e quem ja ouviu Luscious Jackson nao ve nada de mais ali) e os Dandy Warhols (ja os vi em 2002 e acho o album novo um porre). Dias depois fui ouvir o The Grates e percebi que tambem queria ter visto o show. O frio e a chuva tambem me deixaram de baixo-astral. Pena, Murphy ja me ajudou ate demais nesse dia, mas nao adianta dar murro em ponta de faca. Quando eu me vi sozinho, em pleno aniversario, longe dos amigos e da familia, parado no ponto de onibus a esperar a conducao pro Centro da cidade, ponderando sobre a vida, idade avancada, casamento, filhos, essas coisas (tudo isso num espaco de 10 minutos), pensei em como as coisas nem sempre acontecem como a gente deseja, mesmo que tenhamos planejado e cumprido a risca o passo-a-passo. Depois conclui que eu eh que poderia ter feito tudo muito mais bem-planejado: ter acordado no horario certo pra comprar o ingresso em Chelmsford (eh pertinho de Londres e supostamente faz sempre tempo bom, como constatei em 2004), ao inves de confundir o fuso horario, ter alugado logo o hotel, mais barato, ter verificado o ultimo dia do Pukkelpop pra ver se nao era mais vantagem ficar na Belgica, ter alugado um carro, enfim... muita grana gasta a toa, mas era meu dia, nao iria reclamar. O que eh um peido pra quem ja esta cagado?
Resolvi dar uma descansada da correria na tenda Bacardi e ouvir a discotecagem dos Loose Cannons (autores da deliciosa "La La La I'm Not Listening", de que ja falei aqui). Curioso como bandas em DJ sets tentam mostrar que gostam de musica bem diferente da que tocam. Nao foi o caso deles. Nem deu pra descansar, ja que o povo pulando com a performance explosiva do duo nao dava espaco. Misturou com Live P.A.. Legal, mas estava na hora do Hard-Fi no palco principal.
A chuva ja caia gelada na multidao que se espremia quando a banda entrou, sob urros e palmas. Sim, eles sao enormes aqui. O V2006 eh o medidor perfeito de popularidade, um festival "familia", com publico menos adolescente e alternativo do que o Reading. Snow Patrol e Hard-Fi, pra eles, sao Jota Quest e Skank. Sendo que os alternativos tambem curtem. Eh bizarro ouvir no intervalo o carinha playboy ao seu lado cantando a letra inteira de "I Am The Ressurection", do Stone Roses, mas rock eh assim no Reino Unido. Eh tipo futebol pra gente. Explica muito sobre a incapacidade da maioria das bandas brasileiras de rock em fazer algo decente. Vao jogar bola e tocar pandeiro, vao!
Enfim, Richard Archer, o vocalista, nao parecia num bom dia. Sua voz estava inconfundivelmente fudida. Garganta, talvez. O que nao o impediu de levantar o astral combalido da galera molhada. "Tied Up Too Tight", "Cash Machine", "Hard To Beat", cantadas empolgadamente pelo publico em meio ao rocar (leia-se "rossar") das capas de chuva de plastico (quando todos pulavam). Mesmo quem torce o nariz pro lado dancante e pop da banda nao pode deixar de reconhecer que eles tem carisma, competencia e as musicas SAO boas. Desde as criticas sociais (o CCTV, Big Brother britanico, que da nome ao album e que proporciona o momento mais legal do telao: a tela dividida em 4 e os integrantes aparecendo nas imagens em preto e branco das camerazinhas) ate as irritacoes banais (caixa eletronico nao, ne?), tudo eh pretexto pra algum refrao pegajoso. E o auge do show veio no final, com Richard dirigindo-se a plateia e reconhecendo que o tempo estava uma merda, que todo mundo deveria estar irritado, ainda mais com Chelmsford ensolarado, pra emendar num "Foda-se!! O negocio eh viver pro seu fim-de-semana, da maneira que puder!", seguindo com a derradeira "Living For The Weekend". Foda, nao eh toda banda que consegue segurar um palco principal.
A chuva piora, eh hora de pegar um cafe pra espantar o frio e ir pro outro palco ver o James Dean Bradfield. Esperanca que ele tocasse alguma musica dos Manics, o que acabou acontecendo, com "Ocean Spray" e "No Surface All Feeling". Ironico, com as gotas insistindo em entrar na minha capa pela parte de cima. Ainda me manda uma cover de "Raindrops Keep Falling On My Head", com a alteracao de letra dizendo "wish I was in Chelmsford instead", sob vaias gerais. Claro, brincou dizendo que provavelmente estaria dizendo o mesmo no dia seguinte la. Show curto pra avaliar o trabalho solo dele, achei bem parecido com as musicas do "This Is My Truth...". Mais dificil ainda pelas condicoes nada agradaveis.
Dei um pulo no palco Union, que parecia ter o line-up mais constante da noite: so coisas boas. Hora do The Crimea. Nao conhecia a banda, mas gostei do que vi. Terei que ouvir direito em estudio pra dar a minha opiniao, mas fazem o que chamo de "pop estranho", algo no estilo do Super Furry Animals ou Flaming Lips. Como disse, nao tem show exatamente ruim por aqui. O que ha sao sons pop ou easy-listening demais, mesmo bem tocados. Como o The Beautiful South, por exemplo, que fui ver em seguida. Em que pese sua popularidade com o publico ingles em mais de uma decada, nao me segurou la por mais de duas musicas. De volta ao Union para o BellX1. Mais uma surpresa. A banda daqui da Irlanda que teve boa divulgacao com a inclusao na trilha de The O.C. na verdade tinha o nome de Juniper e era a banda de apoio do Damien Rice. Gostei mesmo, parece um Coldplay um pouco mais psicodelico, quase um Radiohead, menos intrspectivo. Assim, eu odeio essas comparacoes esdruxulas, mas categorizar som de banda eh complicado, ainda mais quando voce ve um monte de uma vez so.
A noite que comecava a cair, o calorzinho da tenda Union e a vontade diretamente proporcional de fugir do frio me fizeram decidir assistir novamente ao show das Pipettes. Ta, novidade zero, o show eh identico, as roupas tambem, perde um pouco do frescor, mas a moreninha fofa merece. Your kisses are wasted on me. E pelo menos o cinto dela nao arrebentou, como aconteceu em algum show europeu destes ultimos dias, acertando o rosto de um fa incauto. A chuva deu um descanso (ja estava tudo enlameado mesmo) e fui conferir os ultimos 15 minutos dos Charlatans. "Blackened Blue Eyes" , o bom single novo, "How High" e outra que desconheco. Sei la, aquele show do Olympia em 2002 foi bem fraquinho, perdi um pouco o tesao que tinha pela banda. Mas foi bom como musica de fundo.
De volta ao quentinho pra assistir aos canadenses do The Dears. Achava bom, nada espetacular, mas tava valendo pra nao bater queixo. Qual nao foi o meu espanto ao ver um dos melhores shows do festival inteiro e o melhor daquele dia. Amplificado pelo fato de nao ter apenas uma, mas sim DUAS tecladistas gatas (que tambem cantavam), perdoem-me a pseudo-misoginia, o vocalista/guitarrista Murray Lightburn parecia receber o espirito de algum crooner desencarnado dos clubes de musica negra do Mississipi dos anos 50, com roupagem college-emo (aquela coisa chorosa, mas que soa bela, sabe o que eu digo? Tipo um Arcade Fire nao-chato). Uma apresentacao cheia de emocao por parte da banda e presenciada com a mesma sensacao de "abra seu coracao" por parte do publico. OK, estou esgotando meus adjetivos aqui. Vou passar a utilizar abreviaturas, algo como TBES = Tocam Bem, E So ou FOSQVDN = Fudido O Show, Quero Ver De Novo.
Ainda sobrou folego pra ver o Razorlight. Ja os vi 3 vezes, todas otimas, sabia bem o que esperar. O album novo eh muito bom, pelo que ouvi, e Johnny Borrell pode ser egocentrico, mas comanda o publico do jeito que quer. E "Golden Touch" ao vivo eh fantastica. Bom, 25 minutinhos bastaram pra eu constatar que eles continuam os mesmos. Impecaveis. Uma forca sonora. Por falar em Razorlight e Sonora... Bom, abafa o caso... Vamos entao ao meu ultimo show da noite, algo que eu ja queria ter feito ha 4 anos, ver um show decente do Cooper Temple Clause. No Reading 2002, mal deu pra entrar na tenda lotada. Eles eram a unica banda local, dai o prestigio com o publico presente na epoca. Mas eh claro que este prestigio nao morreu, afinal, que outra banda que nao esta com album lancado ou nas paradas estaria fechando um palco destes num festival de renome? So os caras do CTC pra ter essa moral e um publico que ainda resiste fielmente.
Com um membro a menos (Didz esta no Dirty Pretty Things), o Cooper nao esmoece frente ao desafio e detona 45 minutos da sua explosiva mistura de guitar rock e eletronica. Bom, a parte eletronica foi prejudicada ao longo de todo o show por problemas tecnicos, mas isso nao os deteve de levar a plateia ao delirio (Gente, quantos cliches narrativos, alguem me salva!!!!) com "Been Training Dogs", "Film-maker" e "Who Needs Enemies?" (com corinho), fechando com "Panzer Attack". A nova, "Damage", eh muito boa. So faltou "Promises Promises", do segundo album.
Foi isso, saldo positivo, fiquei mais velhinho, curti o que pude, ainda deu tempo de comer um doner kebab ao chegar no centro de Wolverhampton e, finalmente, dormir numa cama decente de hotel. Melhor ainda, depois de assistir a varias musicas dos shows de Chelmsford pela TV, no Channel 4, com Zane Lowe e Jo Whiley apresentando. Sweeeet!!!!!!
Ate amanha. Cansei, porra.

quarta-feira, agosto 30, 2006

POG MO THOIN*

Sao 9 da noite em Dublin e chego a etapa final de minha viagem de um mes, entre turistagem (perdoem-me o neologismo) e andancas por festivais. Queria ter postado ontem, mas o Blogger estava dando pau, nao rolou. Alias, o Google tambem comprou o Blogger. Daqui a pouco estaremos escovando o dente com pasta Google. Essa frase nao eh minha, mas juro que nao me lembro do autor.

Cidadezinha estranha essa aqui. Por um lado, bonita, animada, extremamente musical (lojas de CD pipocam aqui na area do Temple Bar e musica regional ou rock nao param de tocar pelas ruas) e com os souvenirs mais fodas da Europa. Da vontade de encher a mala de besteira, desde chapeu de leprechaun ate os trocentos utensilios da Guinness. Por outro, alem do maldito frio e chuva, nao tem muita coisa pra se ver. O esforco herculeo pra se transformar Dublin em cidade turistica fez surgirem uns lugares que so interessam a eles. E tudo aqui cobra entrada! Se o Michael Collins largou um barro numa igreja durante uma missa, pronto, virou ponto turistico. E o pior eh que orgulho irlandes eh aquela coisa, eh quase uma pessoa a parte, um pequeno Finnegan. Mas quase nao se encontra irlandeses na balada. Parece que fogem dos turistas. Alias, fiz a tour da destilaria do Old Jameson ainda agora, com degustacao ao final. Nao reparem nos erros de portugues, logo.

Bom, a atualizacao com o V2006 vai ficar pra mais tarde ou amanha de manha. Hoje aconteceu uma reviravolta inesperada nos meus planos. Imprevisto lamentavel, mas ja estou conformado. Se tivesse ocorrido no comeco de minha viagem, eu com certeza daria um jeito, mas o cansaco que me acomete e as circunstancias (ultima parada, 85 shows ja assistidos, grana obscena dispendida) me levaram a aceitar o caminho mais comodo e dar por encerrado o assunto.

Entao, eh assim: nao vou mais ao Electric Picnic.

Bom, pra comeco de conversa, quando eu comecei a me animar pra ir a todos esses festivais, la em marco (por insistencia do Luciano, meu vizinho ploqueiro e agitador cultural), o Pukkelpop ainda nao era uma realidade e as atracoes do EP ja estavam anunciadas. Acontece que elas nao evoluiram muito, ou seja, os principais continuaram sendo os principais e raras outras boas (Hot Chip e Gary Numan, por exemplo) foram adicionadas. Porra, tem um palco novo la que esta sendo curado pelo Damien Rice e so vai ter banda Haribo (antiga giria de um amigo meu pra designar "hippie", baseada naquele sucesso insuportavel do Homem de Bem, quem se lembra?). Uma delas eh a banda de apoio do Devendra Banhart, pra voces verem. Prefiro enfiar um arame na minha vista (Audition-style) a presenciar isso. Recebi os timetables por e-mail e fiquei decepcionado: alem de perder alguns shows por estarem em horarios conflitantes, a maioria na sexta so comeca seis da tarde, no sabado as quatro e no domingo quase isso. E to falando de coisa boa, nao venham me dizer que eu deveria ir cedo por causa de The Rumours e Liam Frost.

Mas, na verdade, o principal fator que impede a minha ida eh: nao tenho como voltar pra Dublin. Ao contrario dos outros festivais, nao tem onibus, trem ou outro meio que nao seja carro pra voltar todos os dias de Stradbally (a duas horas e meia daqui) pra ca. E eu nao estou em nenhum esquema jornalistico nem conheco ninguem. A maioria vai acampar. E disso eu desisti desde o Reading 2002, prometi nunca mais acampar em festival, assim como Scarlett O'Hara nunca mais passara fome em "E O Vento Levou". E nem precisei prometer isso mordendo uma mandioca.

Ai comecou o processo de se conformar com a ideia. Marquei de vender meu ingresso amanha pra uma menina aqui no Temple Bar. Vou recuperar meus 180 euros e ja vi New Order, Bloc Party, Gary Numan, PJ Harvey, Broken Social Scene, Massive Attack, Hot Chip, Gang Of Four, Yeah Yeah Yeahs, Elbow, Cut Chemist, Super Furry Animals e 2 Many DJ's em outras ocasioes mesmo, nao vou sentir tanto. Lamento pelo Graham Coxon, pelo Saul Williams, pelo Melle Mel, Metro Area e Tiefschwarz, mas, na boa, nao vale esse trabalho todo.

Agora alguem me diz o que eu faco em Dublin ate segunda de manha. Ontem ja fui a uma festa indie aqui, no The Hub, pertinho do albergue. Pint de Guinness a 3 euros!!!!!! O DJ (sic) mandou um bom set-list, de Rakes a new Order, de Kaiser Chiefs a Peter, Bjorn & John, de Arctic Monkeys a Peaches. E ainda ouvi uma musica genial, a "Melo do DJ Emo": "Nobody Likes The Records That I Play". O nome do cara? DJ Tocadisco!!!!! Hahahahahahaha!

Hoje vou catar outra balada indie. Ate amanha.

* - "Kiss My Ass" em irlandes.

segunda-feira, agosto 28, 2006

THERE'S A HOLE IN MY POCKET, MY POCKET, MY POCKET...
Segundo post seguido com citacao de letra de musica. A de cima eh um trecho de "Cash Machine", do Hard-Fi, e diz bem o que significa pra mim gastar em libras. Como se em euros ja nao fosse o suficiente pra me falir. Ah, foda-se, to comprando horrores mesmo. Pra que comer em restaurante bom se posso comprar 3 DVD's e comer na Tesco? Raciocinio perfeito tambem para se aproveitar as promocoes, afinal, sao dezenas de camisetas de bandas no festival e livros. Alias, eu fico absolutamente indignado com o preco de livros no Brasil depois que eu vejo as promocoes de paperback aqui em Londres. Nao se paga mais do que 6 libras (cerca de 25 reais) num best-seller e, inclusive, ha livros como Trainspotting e Fight Club por 3 libras!!!! Infelizmente, o peso do papel na bagagem eh proibitivo, nao da pra comprar muito. Fiquei sem postar um bom tempo, mas foi por forca do destino. Depois de 40 minutos perdidos na imigracao, cheguei aqui na quinta, para compras, tarde demais, acabei perdendo a hora. Sexta ja era o Reading Festival, ai voces ja viram... Na quinta, tambem assisti a um show de graca do Hot Chip na HMV da Oxford Street. Meia horinha so, 6 musicas, mas eles sao foda ao vivo. Ainda bati papo com os caras e autografei single novo. Quarta o Kasabian toca na loja, no lancamento do "Empire". Promete ser bombastico. O album ja comprei hoje. Depois do show no V2006 e pelo que ouvi, candidato serio a album do ano. Veremos. Mas antes, de volta ao Pukkelpop, retomando. Over and Over.
Continuando de onde parei, resolvi comer algo antes do show seguinte, que era do The Veils. Nao queria nada muito pesado ou gorduroso e, portanto, a palavra "vegetariano" me soava como algo natural, que nao pudesse me fazer mal. Um yakisoba bem volumoso. Pois eh. Como eu poderia ter esquecido que esse tipo de comida leva os piores temperos do mundo? Quando comecei a soltar fogo, suar e lacrimejar, achei que fosse passar mal ali mesmo. Felizmente, nao me impediu de ver o show. Quisera eu no entanto que a banda me tivesse causado tanta emocao quanto o yakisoba. Acho que essa historia toda do vocalista ser filho do cara do XTC meio que pesa em cima dele de fazer musica "seria". Por isso o segundo album me parece um pouco mais chatinho. E acabou sendo a base do show. "Advice For Young Mothers To Be" eh legal, a banda toca bem, mas eh isso. Bom, assisti a umas cinco musicas do Magic Numbers sentado na grama, como bem pede uma banda hippie. Incluindo ai "Forever Lost". Mas ouvir o vocalista dedicando a proxima ("I See You, You See Me") para um fulano e uma fulana qualquer que disseram haver se casado ao som dela me deu vontade de vomitar. Serio. E nao foi a comida. Resolvi sair dali pra pegar um bom lugar para o We Are Scientists no Marquee.
Antes de comecar, o DJ da radio belga que apresentava as bandas anunciou que o Babyshambles nao tocaria mais (ou algo como jkiuyiruaaark Pete Doherty drom jaardvark hsifooeiitl, ja que a regiao so falava o flamengo, derivado do holandes), seguido de uma ruidosa vaia. Keith Murray, do W.A.S., entrou dizendo "Nao faco ideia do que esse cara falou, mas acho que o Pete se deu mal nessa". E mandou os primeiros acordes de "Lousy Reputation", bem apropriado. Porra, finalmente um show fodastico. Tocaram o album inteiro, exceto "What's The Word?", mais "This Means War" e uma nova (algo como "You Gotta Wanna Be Good"). "Nobody Move" estava desacelerada, parecia um remix dance, bem legal. Alias, eh o Michael na bateria que marca o ritmo dancante das musicas. Impossivel nao tirar os pes do chao.
Quis descansar do tumulto assistindo ao Zero 7 e suas musicas calminhas, mas acho que a tenda dance era so de dj sets, porque tava rolando um tuntz tuntz enlouquecedor. Vazei. Fui sentar na grama do palco principal mais uma vez pra assistir a mais um show do Snow Patrol. Adoro a banda, mas este show parecia ser diferente. No palco, so o vocalista e outro cara (que nao era da banda) de violoes, fazendo show acustico. Segundo ele, a banda e os instrumentos ficaram presos em algum lugar e nao puderam vir. Como o Luciano depois me disse que eles mandaram o mesmo cao no show da Noruega, acho que a banda acabou e ninguem avisou ainda. Sacanagem. Mas foi legal, meia hora de hits no violao.
Fui ver entao porque tanta gente gosta do Mew. Ta, a banda tem suas qualidades, isso eh inegavel, uma tendencia pra melodias, voz aguda e um ritmo meio prog que me soaram como uma mistura de Secret Machines com JJ72, mas cansou depois de 5 musicas. Assisti ao resto sentado, descansando pro Beck. Descobri entao que o WAS daria autografos. E a fila estava bem pequena. Fui correndo pra la, tirei foto, peguei autografos pra Sarah e o Chris, baixista, me falou que eles ainda tem uma chance de tocar no Brasil em dezembro. Bom, bom.
E com essa boa noticia, estava mais do que preparado para o grande show do Pukkelpop: Mr. Beck Hansen. Tai, esse show (com o mesmo setlist, o do V foi diferente) PRECISA vir pro Brasil!! Eu desconhecia como era a nova turne. A banda toca num palco que possui em seu centro um mini-palco identico ao maior, com marionetes para cada um dos integrantes da banda, manipulados pelos puppeteers. Todos os movimentos e momentos do show sao imitados pelos bonecos, a perfeicao. Ha ate um interludio com um mini-documentario dos bonequinhos passeando pelo site do festival e fazendo gracinhas. Hilario. E voltam com o Beck tocando uma acustica do "Sea Change", enquanto a banda, ironicamente, fica sentada numa mesa, jantando, com um garcom servindo, esperando o Beck acabar. Terminam de comer e comecam a batucar com garfos, pratos e ate frutas da mesa, acompanhando-o no violao. Ai voltam os bonequinhos a fazer a mesma coisa no palquinho. Cara, eh indescritivel. E o setlist? Comecam com "Loser", emendam com "Devil's Haircut" e "Black Tambourine", seguindo por uma mistura de hits, musicas do "Guero" e ate do album novo ("Cell Phones Dead" eh genial). Sensacional.
O que ele conseguiu fazer em 55 minutos, o Radiohead nao fez em quase duas horas. Eh uma experiencia unica assistir finalmente a uma banda tao endeusada e dei a eles o segundo lugar porque a Historia assim o quis. E eles tocam o "OK Computer" quase inteiro, alem dos demais hits (exceto por "Creep", que eu ouviria ao ir embora, no V2006, todos estao la). Vale principalmente por isso. Mas chega uma hora em que o saco se arrasta pelo chao. Ainda mais com as musicas dos dois albuns sonolentos, o "Kid A" e o "Amnesiac". Show pra se ver sentado. Serio. Tanto que desisti deles no domingo, preferi ver o Kasabian.
Bom, show terminando as duas da manha, sem trem pra voltar pra casa. Foi pegar um onibus pra Hasselt (a estacao de Kiewit nao tem nada), tomar um cafe e esperar o primeiro de volta pra Bruxelas, as 4:20. Chegar no hotel e dormir umas 4 horinhas pra voltar no dia seguinte. Haja folego. Pelo menos pude passar pelo centro da cidade e ver que a noite de la eh ate animada em epoca de turismo. Voltarei um dia para conferir. Alias, o Pukkelpop merece primazia na escolha de festivais para se ir, provou isto pela organizacao.
Na sexta, acabei perdendo o trem das 10:30 e, consequentemente, o show do Psapp. Pena, estava ouvindo bastante no Ipod, uma boa banda para se relaxar. Mas consegui chegar nos primeiros acordes do Feeder. Mais uma banda que adoro incondicionalmente. Sim, sao power-pop ate a alma, tem seus altos e baixos, mas sao responsaveis por uma das musicas mais fodas dos anos 00, "Buck Rogers", que me admira nao ter virado um daqueles hits eternos das pistas rock no Brasil. Alias, so ouvi tocar mesmo nas festas do programa Garagem, em SP. O show aqui foi recheado de singles (o Feeder acabou de lancar coletanea de singles em CD e DVD, devidamente comprada), desde a propria ate "Come Back Around", "Just The Way I'm Feeling" e a novissima e otima "Lost And Found". Ja ouviu? Nao? Vai la entao.
Fui direto ao Club assistir ao show das Pipettes. Fiquei apaixonado. Nao pelas musicas, essas sao muito divertidas, um show empolgante, mas esqueci depois de 15 minutos. Mas sim pela moreninha fofinha. Uma das loiras parece uma ex-perua, coroa tentando escolher a idade. A outra eh aquela professora de ginasio que nao sabe se vestir e eh desengoncada. Mas a moreninha eh a coisa mais fofa de todas. As carinhas que ela faz, os gestos, o sorriso... Quem manda clamar pela fofura tambem nas musicas? Acaba que o principal atributo da banda fica sendo o visual mesmo, porque o som é mais derivativo e descartável. Pena dos caras da banda de apoio, ninguem olha pra eles. Poderiam ate tocar pelados, ninguem repararia.
Voltei ao palco principal para matar a vontade de mais de uma decada de ver o Urban Dance Squad ao vivo. Ouvi o "Life And Perspectives..." ate gastar, sabia cada musica de cor. Decepcao. Ah, a musica ainda eh a mesma, eles se esforcam, mesmo mais coroas e enferrujados (Rude Boy esta bem inchado), nao se esquecem de tocar "Bureaucrat of Flacostreet", "Fast Lane" e encerram ate com "Deeper Shade Of Soul", mas acho que o tipo de musica nao resiste ao tempo. Pena.
Vamos ao novo velho entao, com o bom resgate dos anos 80 do White Rose Movement. Mais uma tecladista linda pra se ficar olhando e um otimo show pra se pular e dancar. Boa presenca de palco, boas musicas ("Alsatian" ao vivo eh muito foda), garantia de credibilidade, mesmo com os cliches. Nao eh poseur ruim como o Bravery, por exemplo. Merecem um palco maior. E acho que, junto com os Editors, superam o filtro dessa leva de bandas 80`s revival.
Depois, hora do Dirty Pretty Things. De cara eu ja os acho melhores do que o Libertines. A musica muda exatamente no que o Libertines tinha de chato, aquela coisa de bebado. Ironia entao que o Carl Barat e o Didz (ex-Cooper Temple Clause) tenham entrado no palco completamente alcoolizados. Quase caindo, murmurando besteiras e rindo a toa, isso nao os impediu de fazer um otimo e energico show. O publico nao eh ingles, mas "Bang Bang You're Dead" foi cantada a perfeicao. Ta vendo, Pete Doherty? Morre logo!
Hora do lanche (pizza massuda pra encher o bucho) e ver o Scissor Sisters da grama. Eh show pra palco grande, mas com o sol na cara, tava foda. Mesmo "Laura" pareceu demais em plena luz do dia. Dancante, mas nao pra esse horario. Foi bom, no entanto, pra me preparar para o segundo melhor show do festival: Dresden Dolls. Nunca tinha achado nada de mais, mas ao vivo eh outra coisa. O carisma de ambos os integrantes eh inegavel, eles dominam o publico. Claro, eh tudo ensaiado como um teatro assim o pede, mas o charme esta mais no talento deles como musicos do que no visual gotico ou no mis-en-scene (aqui nao tinha nada, mas eles costumam fazer todo um palco teatral nos show particulares). Amanda no piano e Brian na bateria: dois metaleiros enrustidos fazendo musica de cabaret, virtuoses, e tecnicamente perfeitos. "Coin Operated Boy" eh genial, rola cover de "War Pigs", do Sabbath e mais musicas cantarolantes que com certeza vao me levar a comprar o DVD recem-lancado e me fizeram assistir de novo no Reading.
Fui dar um conferida nos talentos de DJ do MSTRKRFT (metade do DFA 1979), mas fiquei apenas 25 minutos, nao rolou nenhuma mistura dos bons remixes rock que eles fazem. Fui conferir o Be Your Own Pet no palquinho. Cheguei antes do show comecar e era a propria banda que arrumava seus intrumentos. Engracado, a vocalista Jemina Pearl parecia uma menininha perdida, passeando toda fofa em meio aos outros integrantes, que nem davam bola, como se a dizer: "Ah, sai daqui, me deixa em paz". Quando o show comecou, entretanto, parecia possuida pelo demonio. Eu nunca tinha visto antes o que era a personificacao musical de hormonios adolescentes. Toda a furia da puberdade concentrada num show memoravel. Contrario as pessimas gravacoes (as que eu tenho, pelo menos), ao vivo, eh uma puta banda de garagem, com a Jemina (voz otima!!) berrando e se sacudindo, com, perdoem-me o cliche, "atitude" de frontwoman. Eh aquela menina gatinha trash (exu-gatinha) com quem voce sai, ela enche a cara, vomita em cima de voce, derruba sua bebida e chuta seu cachorro. Karen O perde.
Depois veio o The Raconteurs no palco principal. Debaixo de chuva. Comecaram tocando exatamente as seis unicas musicas de que gosto do album deles, incluindo "Steady As She Goes" e "Intimate Secretary". Agora sim o Jack White pode ver o que eh tocar numa banda de verdade. Mas cansei de me molhar e fui pro Marquee esperar a hora dos Twilight Singers. Greg Dulli eh uma das figuras mais importantes do college rock dos anos 90 e esse projeto novo (e otimo) ainda conta com outra figura dos nineties, a voz imponente de Mark Lanegan. Quem ouve os albuns acha que o show eh calminho. Ledo engano. Cheio de riffs e envolvente, comeca com o single novo, "I'm Ready" e continua com uma selecao das musicas agitadas de ambos. Um momento introspectivo la na sexta musica e entra Mark no palco, pra cantar "Black is the Color of my True Loves Hair". Infelizmente, essa eh minha hora de partir. Entre pegar o ultimo trem (o que significaria dormir um pouco pra ir a Londres e Wolverhampton na manha seguinte, pro V2006 e meu aniversario) e ver mais 10 minutos de show e ainda Massive Attack, TV On The Radio e Fear Factory, preferi a primeira opcao. Cansaco eh foda.
Amanha (de Dublin) conto como foi o V2006, meu aniversario, entre outras coisas. Ah, so quero dizer que o Muse no Reading foi, como previsto, o melhor show do Universo. Eu ja sabia. E disse aqui.
Fui.

quarta-feira, agosto 23, 2006

HOT SUMMER, HOT, HOT SUMMER Bom, a musiquinha dos Young Knives e esse refrao meio estridente sao hit na Inglaterra, por causa da propaganda da Virgin, mas de quente mesmo esse verao nao teve nada. Aqui em Amsterdam, por exemplo, está bem frio. E tempo ruim, chove de vez em quando. Amanha estou de volta a Londres bem cedo (para compras), mas me arrependendo um pouco de nao ter ficado mais por estas terras. Poderia ter ido a Leidem ou Edam tirar fotos dos famosos moinhos e descansar mais um pouco. Ao invés disso, só correria. Pois é, caros amigos, todos sabemos que princípios irredutíveis sao um pouco frágeis, às vezes sofrem tentaçoes por anos, mas nao demonstram sinal de sucumbência. E entao, num belo dia, você se vê colocando à prova algo em que acreditava veementemente até entao e acaba cedendo. Todo mundo faz, nao é mesmo? Ainda mais aqui em Amsterdam. Voce vai passar a vida sem ter experimentado isso e nunca vai saber como foi. E a noite inteira de ontem e a manha de hoje a Megan (outra americana fofa de mesmo nome) e a Kamille insistindo pra que eu fizesse. "Vai, é Amsterdam, aqui é quase obrigatório!" Relutei muito, mas afinal me dei conta que já tinha 34 anos e nao poderia passar muito tempo sem fazer isso. Liberdade acima de tudo. Foi entao que, finalmente, decidi alugar uma bicicleta. Ha! Sério agora, eu nunca andei de bicicleta na cidade. Campo Grande nao conta, é praticamente um quintal, ainda mais quando eu era mais novo. Faz mais de dez anos que nao subo em uma bicicleta, que dirá andar em meio ao trânsito de uma cidade, por mais ciclovias e canais que tenha. Por insistência das meninas e vontade de acompanhá-las nas visitas de hoje e perder esse medo besta, passei o dia pedalando. Nao caí, nao fiz merda, nao sofri ou causei acidentes e me diverti à beça, muito melhor do que qualquer onda de maconha. Presumo eu, claro, nem imagino como seja, exceto que eu talvez ficasse mais bobo e insuportável ainda. Mais sobre esta cidade depois. So quis compartilhar isso com vocês, a emoçao de poder dizer que nao sou mais um pedestre. Chuif. Pondo isto de lado, volto a Bruxelas, quinta passada. Acabei pegando o trem das 10 para Kiewit, cidade onde o Pukkelpop aconteceria. Queria chegar cedo, pegar as primeiras bandas e dar uma volta pelo site do festival. É muito importante saber principalmente onde comer. A quantidade de lixo radioativo à venda em festivais europeus e incrível. Por outro lado, tenho "Síndrome do Ventre Preso Fora de Casa" para esses festivais, jamais precisei usar aqueles banheiros imundos. Mas como a comida é cara e mal-feita, todo cuidado é pouco. A organizaçao do Pukkelpop é impressionante. Ja mencionei que o programa com timetable das bandas estava na Internet há tempos. Nao só isso, como ao chegar, ganha-se um programa de graça com os horários (no V e Reading você paga 10 libras, é bonitinho, mas nao vale essa grana). E existem mictórios ao ar livre, distribuídos por tapumes estrategicamente posicionados. É, os belgas parecem entender facilmente que um homem nao vai entrar em fila de banheiro pra dar uma mijada, ainda mais com a bexiga cheia de cerveja. Já que isso é inevitável em qualquer lugar, colocam ao ar livre mesmo. Existe um stand só pra papel higienico, em que as meninas vao lá pegar e nunca acaba. E outro para se lavar as maos, ainda ganhando um bonézinho de presente. Coisa de primeiro mundo. Melhor ainda, no entanto, e a arrumaçao de palcos e bandas. Raros sao os shows bons que disputam horário com outros, porque há intervalos em cada palco. Infelizmente, nao se pode prever tudo, e dois cancelamentos em cima da hora acabaram bagunçando o line-up. O desperdício-de-oxigênio que responde por Pete Doherty nao chegou à Bélgica e o show do Babyshambles no palco principal foi jogado para o fim do palco do meio. Daí, empurraram as bandas para mais tarde a fim de ocupar a lacuna e acabei vendo o Animal Alpha abrindo. Banda norueguesa, meio poseur (vocalista de cara pintada, rasgada e de cabelo loiro desgrenhado, resto da banda de metaleiros), faz um hard rock competente, mas acho que merece arrumar uma identidade. A musica "Bundy" é bem legal, mas está muito verde ainda. Vamos para o palco do meio (Marquee) assistir aos Guillemots, que têm o prestígio de contar com um brasileiro, MC Lord Magrao, como guitarrista. O unico, aliás, que destoa em aparência da banda, um skatista tatuado em meio a caretoes de cartola, fraque ou terno e uma baixista muito da gostosa de vestidinho vermelho. Eu só tinha ouvido a "Trains To Brazil" e nao curtido muito, parecia que o hype criado nao se justificava. Mas o que dizer? E muito difícil ver um show ruim, nao existem bandas mambembes que nem sabem afinar instrumentos aqui, como pipocam Brasil afora e merecem a morte. Acabei gostando do show, logo. Nao é um rock palatável (guitarras à la Radiohead, vocalista nos teclados, contrabaixo acústico e até clarineta), e Coldplay demais às vezes, mas na soma dos fatores, o resultado levanta uma sobrancelha. De volta ao palco principal para o Morningwood, algo que eu já tinha visto naquela manha, quando acordei. Punk-pop descartável até a alma e divertidíssimo assim mesmo. A vocalista Chantal esbanja presença de palco, interage com publico e demais integrantes da banda e nao é que em determinada hora acabou descendo do palco, pulando a grade e vindo para junto de nós (eu estava bem colado) com um saco de confete e regendo a galera no refrao soletrado de "Nth Degree"? Aí veio o que poderia ter sido o melhor momento do show. Ela chama alguém do público pra subir ao palco, supostamente pra tirar a roupa. Aí duas meninas e um rapaz se oferecem. Ela perguntou quantos anos eles tinham. As meninas tinham 16 e o rapaz 17. Entao ela disse que nada feito, tinham que ser maiores de idade. E aí perguntou, afirmando em seguida: "Is 16 legal here? It is?" E eu berrando "É, porra! É legal sim!!" Nao sei se ela ouviu, mas os três subiram. E a música começou. Ela enfiava a cabeca por baixo da blusa dos três e se esfregava. As duas meninas tiraram a blusa, estavam de biquíni e sutia. Mas ficou por isso mesmo. Só o moleque que se agarrou com a Chantal, tirando o cinto e tudo, empolgadao pelo que talvez fosse sua primeira experiência pseudo-sexual. Fim de show. Indo ao palco menor (Club), constatei mais uma notícia ruim: Regina Spektor cancelou sua apresentaçao e as primeiras também foram empurradas pra mais tarde, o que acabaria por me fazer perder o Delays. Como também nao consegui assistir a eles no V2006, acho que foi coisa do destino. Irônico mesmo que eles se atrasassem, está no nome. Sem muito o que fazer, fui contrariado ver o Morning Runner. Aquela coisa, né? Competente, mas sonzinho enjoado, um meio-termo entre college (nao vou mais usar indie pra me referir a musica, o rótulo é muito extenso e enganador) e emo. Tocam bem, e só. Hora do Gomez no palco maior. Sempre fui fa da boa influência do blues no som deles e acho "Liquid Skin" e "Bring It On" ótimos albuns. Show enérgico, algo meio estranho para duas da tarde, sol na cara. Mas o público se empolgou, ainda mais em músicas como "Whippin' Picadilly". Pena que nao levaram "Bring It On" ( a música). Hora finalmente de conferir o The Dead 60's. A gangue pseudo-Clash dos meninos de camisa pólo nao fez feio, deixou em polvorosa o pequeno público que se espremia com sua mistura de pós-punk, ska e dub e fez saltar até o mais incrédulo dos espectadores ao som de "Riot Radio". Seria um ótimo show para esses TIM`s da vida. O que nao posso dizer dos Infadels, no entanto. Gosto de sua mistura de rock com elementos eletrônicos, mas a coisa soa um pouco artificial, sem alma, por mais dançante que seja ( e o show o foi). Show mais pra pista do que pra palco. Quer mais? Só amanha, infelizmente. O tempo hoje foi curto e agora preciso ir ali comer. De Londres eu continuo. Vamos ver. XXX (símbolo de Amsterdam, filmes pornô e "kisses").

terça-feira, agosto 22, 2006

PEDESTRE CARETA
Esse sou eu aqui na cidade da represa do Rio Amstel (Amstel Dam). Como TODO MUNDO aqui fuma maconha e anda de bicicleta, sou o mais outsider do mundo. Apesar disso, nao tenho como nao achar essa cidade linda, a capital mundial do cocô de cachorro, dos museus, do sexo livre e das drogas. É fato que acabarei sendo atropelado em algum momento. Passo o dia a olhar pros lados, desviando-me de bicicletas, bondes, ônibus e carros. Pedestre sofre. E tem plena condiçao de sua situacao de fudido, afinal, até o sinal verde apita apressado, como se dissesse: "vai, filha da puta, atravessa logo essa porra que todo mundo quer passar!" Mas ainda nao é hora de falar sobre este lugar.
Retorno a terça passada, em Barcelona, minha noite de despedida. Tinha terminado o tour por La Pedrera, último e monumental edifício do Gaudi, perto do albergue. Chovia durante o dia e era feriado de Gracia, onde estavamos. Teria festa espalhada por todo o bairro, com concurso de rua mais enfeitada e shows regionais. O Sant Jordi inteiro combinou de ir. Percorri todo o trajeto ao longo das casas dos demais arquitetos catalaes famosos, desde o Parc Guell até lá. Estar na mesma área gerou uma concorrencia deles com o Gaudi por atençao que acabou chamando a regiao de "Manzana de la Discordia". "Manzana" era palavra que significava tanto "bairro" como "maça" (a fruta), surgindo daí o trocadilho. Cheguei cedo, porque tinha marcado de ir com a Suvi e a amiga a um bar de tapas comer algo e tomar um chope em despedida.
Foi aí entao que o temporal desabou. E a Festa de Gracia, ou pelo menos a ida em conjunto do pessoal, foi por água abaixo (sem trocadilhos). Mas fui ao bar de tapas assim mesmo, era perto. Porra, nunca comi tao bem por tao pouco. E com Guinness. A Hazel, que administra o albergue com o Mauro e o Guillermo, apareceu pra se despedir de mim e acabou ficando pra uma sangria. Pronto, três mulheres numa mesa e eu. Começou o papo de baixaria. Pelo menos nao terminou com elas falando de tamanho de pau, algo que é recorrente no Brasil em papo de mulher. Haja saco! (com trocadilho). Entre as histórias do Sant Jordi, comentários sobre os hábitos alimentares espanhóis (a torta de batatas no sanduíche, o pao com tomate tradicional de Barcelona - delicioso - e a ausência de gorjetas) e trocas de experiências sexuais engracadas, fiquei sabendo que a Megan, americana lá do albergue, uma graça de menina e meu alvo daquela noite, estava sendo mais disputada do que qualquer outra que ja colocou os pés lá. "Everybody is trying to get into her pants", disse. Bom, concorrência nunca me intimidou. Mas ela acabaria indo dormir cedo e frustrando os planos de todo mundo.
Algumas das histórias do Sant Jordi contadas na mesa:
- Sabe a festa da piscina domingo?
- O que tem?
- Pois é, a Christina, a americana, e o Matt foram expulsos.
- Mas o que eles fizeram?
- Adivinha.
- Porra, sei lá, o seguranca pegou os dois se drogando?
- Nao. Ela tava pagando um boquete pra ele dentro da piscina.
- ...
- Pois é.
- Mas que diabos esse povo tem de fixaçao oral nessa cidade, hein?!
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- Cara, voce nem imagina, é cada uma que eu tenho que driblar aqui... Um dia, tinha um japonês, chegou pra mim umas duas da manha, sem graça, me disse que tinha um problema no quarto.
- Ahn.
- O cara da cama ao lado dele tinha levado outra menina do albergue pra lá e tava comendo ela na frente do japa. E fazendo barulho.
- Hahahaha, mas o que você fez?
- Ah, fui lá ver, né? Abri a porta e você nao vai acreditar, eles nao tavam nem aí. So via aquela bunda branca subindo e descendo, a mulher gemendo e a cama balancando. Impossível dormir ali.
- hahahahahahaha, coitado. O que você fez?
- O japa tava estressadao. Pô, ofereci uma cerveja pro cara. Putz, velho, ele nao bebia. Aí pensei "e agora?"
- Caralho, que merda!
- Aí me lembrei que ele tinha perguntado umas dicas sobre museus mais cedo, levei ele pra Internet e a gente ficou pesquisando junto no Google e eu explicando pra ele. Ficamos uns 40 minutos la, aí o casal ja tinha acabado de fuder e tudo se resolveu.
- Hahaha, nao adianta, da um computador pra um japonês, ele se empolga logo. Nem pensa mais em sexo!
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Bom, despedi-me da Suvi e foi hora de dizer adeus pro resto da galera, no outro Sant Jordi. Cheguei lá e todos tambem tinham desistido de sair, estavam brincando de "Eu Nunca". Tá, sétima serie de novo, mas tá valendo. Foi engraçado porque cada um tinha que dizer a frase em inglês e francês, se soubesse, por causa da Stéphanie e da Fleur, que nao falavam inglês direito. Ate a hora em que o Luke, um irlandês, acabou se complicando:
Alain: Eu nunca... deixei uma menina enfiar o dedo no meu cu durante a transa.
E o Luke deu um gole na cerveja.
Geral olhando pra ele. Silêncio.
Aí ele vira: "Ué, mas toda menina faz isso, nao?"
Silêncio continua. Alguém levanta pra pegar uma cerveja e a brincadeira acaba. 
Bom, fiquei lá mais alguns minutos e voltei pro albergue. Antes teve troca de e-mails com todos. Olha, se todo mundo que disse que iria me visitar e ficar lá em casa no Carnaval resolver aparecer, vou ter que fazer um bloco pra desfilar em Botafogo. Nao iria rolar de dormir, ja eram quase 3 da manha e eu teria que acordar as 4:30 pra arrumar minhas coisas e partir pro aeroporto. Deixei meu pen-drive enchendo com as fotos da viagem até entao e fui dar uma descansada no sofá do salao. Parti na hora certa, carreguei um peso dos diabos, subi mais mil escadas, mas cheguei a tempo de pegar o voo. Tománocu, Murphy!
Constataçao final sobre a Espanha: eu tinha mil preconceitos, sabe? Espanhol é uma lingua feia, parecida demais com tudo o que se fala aqui na America do Sul, nao tinha mesmo vontade de conhecer. Só acabei indo porque era a única opçao de entrada na Europa com passagem antes do dia 10 (baixa temporada). Mas vou dizer que amei Barcelona. Madri é aquela coisa, legal, divertido e so. Overrated. Mas eu acho que poderia passar uns 6 meses morando em Barcelona. Tem jeitao de cidade mesmo (Madri parece um museu a céu aberto), mil coisas pra se fazer e um ambiente muito com a cara do Rio. Pena que nao deu pra conhecer a praia e La Barceloneta, tava chovendo demais no último dia. E vou sentir falta do pessoal do Sant Jordi, mesmo sabendo que todo mundo ali é nômade. É como se tivessem ficado congelados pra sempre no tempo aqueles 6 dias.
Bom, e lá fui eu pra Bruxelas. Cheguei no aeroporto e já me perdi. Povinho civilizado é foda, nao tem catraca no metrô, a maquina de bilhetes pra se comprar esta lá e você insere numa outra ao lado. Poderia muito bem passar batido direto pra plataforma, como acabei fazendo de cara, antes de perceber. Isso sem contar que lá tambem tem CCTV, o Big Brother tá vendo, malandro. Cheguei no Residence des Ecrins, um hotel/albergue muito legal, luxuoso e caseiro ao mesmo tempo, com um dono simpaticíssimo e desta vez, um quarto só meu. Ganhei um mapa com as principais atraçoes da cidade (dava pra contar nos dedos da mao) e fui dormir umas 3 horinhas, afinal, como já disse, estava virado da noite anterior.
Bruxelas lembra Curitiba, mas desenvolvida, claro. Nao tem muita coisa pra se fazer, exceto quando esta apinhada de turistas, como agora. Ainda assim, é coisa de pub e clube. As lojas fecham às 19h, o que me impediu de gastar muito, mas pelo menos fui visitar o Museu dos Quadrinhos (bandes dessinées). Alguns dos melhores desenhistas e personagens de quadrinhos europeus sao belgas. O Tintin, por exemplo. Lucky Luke. E OS SMURFS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Porra, quase caí pra trás quando vi uma ala dedicada a eles! Fiquei igual a um besta cantarolando "la la la la la la, laaa la la la laaaa" e tirando fotos dos rascunhos do Peyo, bonequinhos e apetrechos imaginados pras criaturas. Volta a infância.
Descobri tambem que a cidade estava recheada de muros e paredes de casas pintados com os personagens belgas de quadrinhos. Foda. Fiz a tour do mapa e vi cada desenho sensacional, painéis gigantes nas casas, interagindo com as mesmas (pendurados do telhado, olhando pela janela, etc.). Salvou o que seria uma tarde e noite chatas, esperando pelo Pukkelpop no dia seguinte. Ah, sim, vi o tal símbolo da cidade, o Manneken Pis, a estátua do menininho mijando. Que coisa mais besta! Pelo menos se justifica com a fama de ter a Bélgica as melhores cervejas européias. Como fa ardoroso de Stella Artois, concordo.
Finalmente, uma noite de sono decente. No dia seguinte, o começo da jornada de shows. Mas essa merece uma descriçao maior e detalhada. Ou seja, vai ficar para amanha. Sao 21:10 já, prometi sair com as meninas de Seattle. Pois é, tem que ser de lá pra dizer "Here we are now, entertain us!" Ui.
Beijos e obrigado pelos scraps de aniversário. Quem esqueceu, nao espere que eu volte a olhar na sua cara feia.

segunda-feira, agosto 21, 2006

EM TRANSITO

Sao 14h da tarde em Londres, Camden Town, e faco hora para o voo de 19:20 para Amsterdam. Passei o finde em festivais na Belgica e Inglaterra (Pukkelpop e V2006) e eis-me aqui, inteiro (mais ou menos), feliz, mais idoso (Do I look 34?), tendo assistido a 48 shows e com mais dois festivais pela frente. A proximidade de minha partida vai me impedir de atualizar o diario como anunciado. Ainda preciso buscar minha mala na estacao de Euston e pegar um trem para o aeroporto de Luton, longe do Centro. Logo, nao vai rolar.

Mas nao desanimem, eh muita coisa pra contar. Isso sem falar nos shows. E ainda tenho videos para fazer upload no YouTube e linkar aqui, quando chegar mes que vem. Por enquanto, so pra dar um gosto, o meu Top 5 de cada festival:

Pukkelpop (17 e 18/08):

1 - Beck
2 - Radiohead
3 - Dresden Dolls
4 - We Are Scientists
5 - Be Your Own Pet

V2006 (19 e 20/08):

1 - Editors
2 - We Are Scientists
3 - Kasabian
4 - The Dears
5 - Hard-Fi

Shows assistidos (alem dos relacionados acima): Dirty Pretty Things, Animal Alpha, Guillemots, Morningwood, The Infadels, Feeder, Mew, Magic Numbers, The Veils, Dead 60's, Gomez, Snow Patrol, Turbonegro, Zero 7, Urban Dance Squad, Scissor Sisters, The Raconteurs, Twilight Singers, MSTRKRFT, The Pipettes (duas vezes!!), White Rose Movement, Razorlight, Hard Fi, The Charlatans, The Beautiful South, James Dean Bradfield, Kula Shaker, Bloc Party, Biffy Clyro, Crimea, BellX1, Cooper Temple Clause, The Milk Teeth, Rushmore, Young Knives, Director, Orson. Eh, acho que foi isso, depois confiro no programa.

See ya soon.

quarta-feira, agosto 16, 2006

I'M TOO OLD FOR THIS SHIT

Bruxelas, 21:30 da noite. Segunda noite praticamente virada em menos de uma semana. Nao tenho mais 20 anos. Foda. Depois de dormir umas 3 horas agora de tarde, rodar o centro inteiro da cidade, vendo os poucos pontos turisticos, eis-me aqui digitando (ou tentando, ja que o teclado belga tem teclas trocadas e falta de acentos) o que talvez seja meu ultimo post da semana. E vai ser curto, to quebrando a cabeça aqui na net pra descobrir como voltar pra Bruxelas depois dos shows. Amanha começa o Pukkelpop, de uma da tarde às duas da manha, o que significa dedicaçao exclusiva. Como parto para Wolverhampton no sabado cedinho e emendo no V2006, so devo escrever de Londres segunda, enquanto meu voo pra Amsterdam nao sai.

Serio, muita gente me pergunta como eu aguento essa badalaçao toda, ainda mais em ferias, batendo perna de dia e caindo na balada de noite, dormindo pouco, e nao parecer ter 60 anos (muito pelo contrario). Nao sei. Mesmo. Sou tenso, hiperativo, ansioso, quem me conhece sabe muito bem disso. Talvez meu metabolismo processe tudo mais rapido. Nem bebado eu tenho conseguido ficar de verdade. De qualquer forma, ontem foi a prova maior disso tudo.

Passei o dia visitando os lugares que faltavam para um turista em Barcelona. Primeiro, a Sagrada Familia. Nao vou discorrer sobre a obra de Gaudi, o que ela significou ou o tamanho da genialidade do cara ha um seculo. Google existe pra isso. Coloquei isto de maneira resumida no post de ontem. Tudo o que vi so comprovou que o limiar entre loucura e talento eh muito tenue, nao da pra ser medido ou sequer concebido quando se depara com estas obras. A Sagrada Familia, no entanto, eh meio decepcionante. Nao que nao seja imponente, monstruosa e sua visao mais ambiciosa. Mas porque nao foi ele quem começou a construi-la e nem sera quem vai terminar, ja que a igreja so ficara completamente pronta em 2010 e, quando ele morreu (em 1926, atropelado por um bonde), so havia uma torre pronta. Mas o respeito a sua visao e projetos originais permanece sendo o principal a ser seguido pelos engenheiros responsaveis. A nave central sustenta-se por pilares que lembram arvores e as pedras utilizadas assemelham-se a corais (uma constante em suas obras, o cara era fixado em natureza, principalmente o mar). So me recusei a ficar duas horas na fila esperando pra subir nas torres. E quase ninguem reparou a cripta discreta no fim, debaixo da qual ele foi enterrado.

Proxima parada: Parc Guell. Gaudi chegou a morar la ate sua morte, numa casa que hoje eh museu. Eh la que esta a famosa estatua-fonte do lagarto, por exemplo. Um parque encomendado pelo cara que o bancava. Muito interessante, mas serviu pra iniciar o que seria o meu "Dia Mundial de Subir Escadas". Escadaria pra chegar ao parque, escada dentro do parque, escada mais tarde em La Pedrera, escada no metro. Alias, o metro mereceria um capitulo à parte. Eu odeio esses metros de cidades como Nova York, Paris, Londres, Madri e agora Barcelona, onde os atalhos, conexoes, escadas pra cima e pra baixo te obrigam a andar quilometros. Qual o sentido disso? Poderia ser tudo igual à estaçao Botafogo. Simples.

Bom, segunda eu faço o post gigante prometido. Ryanair e a viagem infernal, mais historias do Sant Jordi, Bruxelas e o Manneken Pis, smurfs, Barcelona, La Pedrera. Sabado agora eu fico mais velho. Quem nao me der os parabens morre. Tchau.

terça-feira, agosto 15, 2006

Ô Ô, OBINA É MELHOR QUE O ETO'O Aqui em Barça, no entanto, é o Ronaldinho Gaúcho o mais famoso do time. Das camisas vendidas nas lojas de turistas (oficiais chegam a 67 euros, tabajaras a 20) até os performers de Las Ramblas, o brasileiro é o cara. Mas vai dizer que alguém parece com ele, como eu fiz anteontem com o americano lá do outro albergue (já expliquei, vou repetir: o Sant Jordi tem mais uma filial a quatro quadras daqui), pra você encarar o ódio nos olhos de uma pessoa. O cara quase me bateu. Passei meu domingo em Montjuïc (Monte Judeu), área montanhosa, mais alta da cidade, onde está o anel olímpico, complexo em que se realizaram as Olimpíadas em 1992. O Palau Sant Jordi hoje é palco de grandes shows, como o The Who, no mês passado. Começando no Poble Espanyol, espécie de cidade cenográfica construída em 1929 para a Exposiçao Internacional de Barcelona, tem um prédio típico de cada cidade espanhola e seria o povoado ibérico perfeito. Armadilha pra turista, com lojinhas de artesanato, e a pior paella do mundo. Subindo a pé pra desgastar o almoço indigesto, acabei perdendo o que seria meu primeiro cemitério espanhol: no topo da colina, onde está enterrado o Miró. Fechava às 17h, já eram quase 18h. Paciência, pensei. Foi passar o estádio olímpico e chegar à Fundaçao Joan Miró pra acontecer o desastre: acabou a bateria da câmera. Só porque falei que nao gostava do mané, ele resolveu me amaldiçoar. Bom, já está no inferno, abraça o capeta. Resolvi continuar a subida, pra conhecer o castelo. De ônibus, claro. Que nao passava de jeito nenhum, mesmo após meia hora de espera. E fingindo que nao era brasileiro, pois o papo entre as quatro baianas ao meu lado era bizarramente vergonhoso, desde dar calote no ônibus até dar pra dono de restaurante pra pagar o almoço. Nao havia jeito, pelo visto teria que desistir ou subir o resto a pé. Lá fui eu, peregrinando na íngreme ladeira, almejando o castelo de Monjuïc como se fosse a minha Meca, com sede, sem pernas, sem pilhas. Ao chegar no topo, uma vista monumental da cidade, de todos os cantos (o castelo era o ponto perfeito para a defesa medieval da cidade contra invasores bárbaros em geral, com canhoes estrategicamente posicionados) e a minha salvaçao ao comprar água: pilhas alcalinas à venda.
Sentindo-me vingado (Miró, mira aqui, ó!), peguei o ônibus pra descer até a Plaza de España a tempo de pegar o show de luzes da Fonte Mágica, em frente ao Palau Nacional, mais uma das criaçoes de arquitetos para a Exposiçao Internacional . Estava escurecendo, logo o espetáculo foi perfeito. Sensacional. Mas já eram quase 21:30, melhor voltar e me preparar para a pool party.
Mais uma vez, fomos até o outro albergue. O grupo agora era maior, umas 35 pessoas lideradas pelo Mauro, pois era bem longe do Centro. O preço seria salgado: 20 euros pra entrar. Ah, foda-se, já se gasta os tubos pra comer, porque nao uma festa bombada ao redor de uma piscina com a Miss Kittin'? Na pior das hipóteses, com essa turma toda, nao tinha como nao ser divertida.
E foi exatamente assim. Nada de putaria, nada de loucura, mas incrivelmente divertida. Passei a noite com a Suvi e acabei descobrindo que tínhamos mais em comum do que parecia possível. Ela era produtora de arte, DJ, tinha programa de rádio, gostava das mesmas músicas que eu (chegou a perguntar se eu conhecia "Young Folks", do Peter, Björn and John, e se assustou com a afirmativa) e quando esteve no Rio, disse que adorou a Ploc 80´s. Quando eu disse que estaria em Londres semana que vem com o Luciano e a Clarisse, donos da festa (e meus vizinhos de prédio), também se surpreendeu em como o mundo é pequeno. A segunda pista (bom, parte em frente ao bar, já que era uma área de piscina) estava bem melhor, tocou desde remix dos Killers (Jacques Lu Cont) até DFA 1979, com um pouco de eletropop. A Miss Kittin' fez DJ set, mandou mais ou menos, mas terminou com "Girls & Boys", do Blur. Surpresa, e me vi pulando e cantando com a Suvi, aos olhos espantados da galera do Sant Jordi. Pena que acabou cedo, 5:40, por causa das leis malditas desta cidade. E acabou que só a Suvi entrou na piscina. Ainda bem que teve quem esquentá-la depois.
Ontem foi dia de fazer coisas light. Por causa da estragaçao de domingo, geral acordou tossindo e depois de uma da tarde. Fui fazer compras nas lojas de CD e ver os brechós de El Raval e entrei na Casa Battló, aqui ao lado. É incrível como faz 100 anos que uma visao futurista como essa de Gaudí pode ter sido concebida. A casa parecia o interior de um animal marinho (inspiraçao de Jules Verne), uma tartaruga mais especificamente. Nao há linhas retas, porque a natureza nao as têm, segundo o próprio. Tudo sao curvas, formas aparentemente impossíveis de serem esculpidas ou talhadas. Cores em contraste, mosaicos, azulejos. Um gênio à frente de seu tempo, perdoem-me o clichê.
À noite fui jantar com a Suvi num restaurante mexicano e fomos nos encontrar com o resto no outro albergue. Ficamos bebendo vinho, mas eu estava muito cansado pra fazer algo e resolvi voltar pra cá, enquanto a Suvi e a amiga finlandesa que acabara de chegar iriam a uma boate com o bonde do sant Jordi. Foi aí que a Stéphanie pediu pra eu ficar lá com ela, porque a Fleur estava se pegando com um argentino e ela iria ficar sozinha. Ah, les gamines...
Hoje foi meu Gaudía. La Pedrera, Parc Guell e Sagrada Família. Feriado de Grácia, daqui a pouco tem festa de rua e desfile. Arrumaçao de mala, Megan e tapas. Ah, mas só amanha. Post gigante. De Bruxelas. Fui.

segunda-feira, agosto 14, 2006

ENQUANTO ISSO, NA SALA DE JUSTIÇA... *

Histórias do Albergue Sant Jordi:

- Cadê o Oliver?
- Ele nao vai com a gente hoje.
- Por quê? Cansado?
- Nao. Tá com medo. Ontem aconteceu um lance bizarro com ele. Depois eu te conto.
(...)
- Vai, conta aí agora a parada com o Oliver.
- Porra, o moleque bebeu todas e se perdeu na volta pro albergue. Acabou dormindo na rua.
- Putz!
- Nao, escuta essa. Ele acordou e tinha um mendigo chupando o pau dele.
- Putaqueopariu!!!!! Hahahahahahahahaha!
- Aí eu disse "nao quero saber! Nao quero saber!"
(5 minutos de gargalhadas)
- Porra, eu acho que é caô, hein?! Acho que o mendigo tava era comendo o rabo dele!!
- Hahahahaha, pode ser.

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- E aí, Hazel, tudo certo?
- Tudo. Vocês ontem estavam impossiveis, hein?!
- Hahaha, pô, diversao, né?
- Pior foi o Mauro que agarrou mais duas holandesas quando chegou no albergue. Eu nao sei como ele consegue. Eu fiquei nove meses transando só com um cara.
- Bom, namoro é namoro. Concorda, Guillermo?
- Claro. Mas uma vez aqui no Sant Jordi eu fiquei com cinco ao mesmo tempo. Também eram holandesas.
- Cinco????? Porra, eu desisto! Vocês homens nao prestam! E como assim você aguentou cinco meninas??
- O que vocês estao gritando aí?
- O Guillermo pegou cinco holandesas!
- Nao acredito!!
(mais meninas entrando na sala espantadas)
- Gente!!! Cinco?
- Ok, Guillermo, você ganhou. Propaganda assim nao se compra. Prepare-se para agüentar oito da próxima vez!

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- Cara, eu mato o Bruno. o cara estragou tudo com a francesinha ontem.
- Como assim? O que houve?
- Bom, eu divido o quarto com ele, voce sabe. Aí eu tava comendo a menina na cama de baixo, ele entrou no quarto, viu, nem ligou e ainda ficou peidando no meio do quarto.
- Hahahahahahahahahaha!
- Porra, a menina já tava sem graça, acabou indo embora.
- Faz isso com ele quando a Gene estiver aqui.
- Eu nao. Ficar peidando de propósito na frente dos outros é coisa de argentino!!!!


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Bom, vou atualizar mais tarde, na verdade. Isso foi só pra encher linguiça. Tem esses e muito mais diálogos toscos. Cheguei morto da festa da piscina hoje de manha, rodei o dia inteiro e hoje vou só jantar com umas meninas (e nao jantar umas meninas). Mais tarde escrevo. Fui.


* - textos traduzidos livremente para o português

domingo, agosto 13, 2006

ESTIC SORTINT AMB LA GENT DE L'ALBERG
Ou melhor, estou saindo com a galera do albergue, em Catalao. Tudo nesta cidade está escrito nesse dialeto maldito. Isso porque eu nao falava sequer o espanhol. Na hora do almoço, entao, é aquela surpresa, voce nunca sabe exatamente o que está comendo. O que me lembra os ovos flambados de carneiro do filme Top Secret. Tá, é meio esperanto, dá pra adivinhar algumas coisas, mas outras se perdem completamente. Já percebi que amb quer dizer com, que os verbos no imperativo terminam em "eu" ("deixeu sortir" nao é "deixa eu sortear", mas "nao bloqueiem a saída") e todas as palavras que terminam em "io" viram "ig", como passeig e sorteig. Nao, meio aqui é algo como mitja, portanto, "classe mitjana" nao é "classe mijona", mas sim "classe média".
Sao quase 6 da manha e volto da terceira noite seguida de turista estudante em albergue, ou seja, fazendo as programaçoes conjuntas com o resto dos hóspedes que se propoem a acompanhar o nosso guia brasileiro (e hostel master, afinal, é ele que manda), Mauro, de Sao José do Rio Preto. Tá, ontem dei uma escapadinha. A gente comecou a beber cedo, no outro albergue da rede Sant Jordi, perto daqui. O bom é que ele tem os contatos na night e o contexto de levar a gente pra bares com chopp barato (1,30 euros) e entrar de graça em varias das boates maneiras. Assim, já estava razoavelmente alcoolizado lá pela 1 da manha, quando a balada começa a agitar.
Quem acompanhou o post de ontem viu que eu tinha planos de ver o Peter Hook no Razzmatazz. Pois é, acabei me dedicando à prática da língua francesa e a hora passou. Fomos todos ao Jamboree, uma boate na Plaza Real onde toca rock clássico e hip-hop. Bom, Fleur e Stéphanie resolveram partir mais cedo e me vi às 3 da manha cercado de gringos (leia-se "machos"), o que me fez sair pela esquerda e me dirigir à Sidecar, boate indie situada na mesma Plaza Real.
Curioso o lugar. Entrei e tocava "Everyday I Love You Less And Less". Senti-me em casa. Mas a seqüência era surreal. De Blondie, o DJ passava pra Rage Against The Machine, de Pulp a B-52's, de Rammstein pra Franz Ferdinand. Valeu pelo revival dos anos 90 com "Chinese Burn", do Curve, e "Ready To Go", do Republica. Deu até saudade da Bang! Mas a boate quente e lotada só se segurou até umas 5 e 10, quando se acenderam as luzes e geral foi expulso. Foi andar bêbado e sozinho por Las Ramblas, me desviando das prostitutas que me assediavam puxando meu braço e segurando nos meus cojones (nao tô zoando) pra voltar a salvo pro albergue.
Minha cama é ótima, o sol nasce em cima de mim e nao tem cortina. Nem preciso de praia. Mesmo assim, acordei tarde e consegui rodar bastante o Barri Gótic (Bairro Gótico). Lindo, lindo, cheio de ruazinhas estreitas e medievais, igrejas imponentes e lojas da moda. Do teto da Catedral de Barcelona, uma vista do caralho (sem trocadilhos). O museu debaixo da terra na Plaza Del Rei, com as ruínas da primeira civilizaçao romana que inaugurou a cidade, é estonteante, pena que era proibido fotografar. Inclusive, na villa romana exibida, as dependências de fabricaçao de vinho eram infinitamente maiores do que a sacristia e mesmo os quartos, o que diz muito sobre o povo da época.
Infelizmente, caiu um puta temporal no fim da tarde, o que me deixou uma hora plantado na porta de uma igreja esperando a água parar de cair e me fez perder o Museu Picasso e uma volta pelo bairro de El Raval, onde estao os brechós e lojas de CD. À noite, repeti a ida com a turma a uma boate recém-aberta no Port Vell, o cais do porto, mas foi mais pra bater papo do que ouvir música. Passei um bom tempo conversando com a Suvi, finlandesa que esteve no Rio há dois meses, Charles, um suíço gente boa, mas com jeitao de loser (parece o Julinho, mas nao sai agarrando todas que param pra falar com ele, nem solta perdigotos) e que fala thing como sing e everywhere como everyvér, e a Julie, uma gracinha de menina, irlandesa baixinha, com carinha de anjo, uma disposiçao dos diabos pra entornar e uns peitos enormes. Com certeza, morre fácil. Já dizia o ditado: Se estás na Espanha, nada como uma espanhola. Como umas americanas iriam partir agora de manha cedinho, estava todo mundo acordado quando voltamos e ficamos discutindo signos.
É, esse post tá a maior cara de Diário de adolescente, mas tô morto de cansaço, nao torrem minha paciência. Se o tempo ficar bom, irei hoje a Montjuic. À noite é a tal pool party de que o Mauro vem falando desde ontem, supostamente uma putaria dos infernos. Ah, e a Miss Kittin' vai tocar lá. Xau.

sexta-feira, agosto 11, 2006

HEY, MADRI, VAI TOMAR NO C*!
Calma, calma, nao estou amaldiçoando a cidade nem dizendo que nao gostei. Claro que me diverti e vi o que há de belo, interessante, hype e animado, tudo ao mesmo tempo. Mas foi dar uma voltinha em Barcelona, com o clima mais agradável (cidade de praia, né?), as pessoas mais bonitas e simpáticas e a cidade mais linda pra perceber que aqui sim é o lugar pra se deliciar na Espanha. Tô quase virado da noite de ontem, dormi cerca de 40 minutos pra pegar o aviao de manha. Com essa confusao de terroristas em Heathrow, fiquei com medo de haver repercussoes em Barajas e tentei chegar mais cedo.
Com a balada fodástica de ontem, ficou pra segundo plano a fraca noite de quarta, quando fui ao Luke, Soy Tu Padre, que acabou sendo bem cool. Parece mais uma cozinha, com quadros de bandas de Britpop e college rock, em plena Chueca gay. Mas justamente por ser diferente, ou porque era agosto (segundo o bartender), estava bem vazio, umas 15 pessoas. Voltei mais cedo pro albergue e fiquei duas horas batendo papo com a Mariana, uma argentina que mora em Nova York e foi sozinha pra lá.
E aí ontem, depois de passar o almoço gastando os tubos na Fnac, fui tirar fotos da Plaza de Toros de Las Ventas. Que estava deserta, claro, a tourada só acontece no domingo, segunda e terça. Taí uma coisa a que eu jamais assistiria, a nao ser que fosse pra torcer pelo touro, por uma chifrada nos bagos do matador que maltrata animais desta forma.
E ontem eu decidi parar com essa palhaçada de ser o indie alternativo irredutível e fui fazer programa de turista com a galera gente fina do albergue. Depois de jantarmos, fomos eu, o Adam (USA), a Vanessa (USA), a Mariana, a Karina e a Nicky (ambas da África do Sul) ao tal do pub crawl. É assim: você paga 10 euros e o líder do grupo, que marca com vários gringos na Puerta Del Sol (descobri que o cara era brasileiro!!), leva o pessoal a 4 bares diferentes e uma boate. Em cada bar, algo de graça, ou cerveja por uma hora ou shots de tequila. No caso deste, foram todos. Preciso dizer como ficou o estado da galera?
Bom, posso dizer que foi divertido pra caralho, entre zoaçoes e outras coisas que só conto pessoalmente. E nao é que acabei morrendo pela boca (sem trocadilhos)? Fomos parar de madrugada na Chocolateria San Ginés e eu nem passei mal com o chocolate com churros. E as meninas ainda me juraram amores por tê-las apresentado a essa iguaria.
Bom, nao fiz muita coisa hoje em Barcelona. Dormi umas 3 horas assim que cheguei e fui comer algo em Las Ramblas. E nao é que já estou local no albergue? O cara que trabalha aqui de tarde é brasileiro, já me apresentou a todo mundo (a maioria feminina é esmagadora) e até o ajudei com duas francesas que nao falavam ingles ou espanhol. O albergue é perto da Casa Battló, de Gaudi, e chama-se Sant Jordi (Sao Jorge). Inclusive, até me apresentaram ao dragao já, uma menina incrivelmente trash que todos chamam de El Diablo.
Amanha tem mais. Parque Guell e Bairro Gótico pra vocês. E hoje à noite, choppada com a galera do albergue e The Loose Cannons e Peter Hook (New Order) no Razzmatazz. Foi mal aí. Besos.

quarta-feira, agosto 09, 2006

NO LLORES POR MI

19:45 @ Starbucks Fuencarral:

Eu: Queria la llave del asseo, por favor?
Atendente: Si. 0,25.
(silêncio)
Meti a mao no bolso pra tirar 25 centavos.
Atendente: Non, la llave és 25 80 (ochenta) - disse, mostrando pro painel eletrônico com senha na parede atras de mim.
Vai saber porque eu entendi 25 cents. Maldita língua. Mas pelo menos o Coffee Frapuccino diário e essencial em todas as viagens a cidades civilizadas com Starbucks compensa.

Terceiro dia. Sem pernas. Mas antes, ontem à noite. Bom, dei uma passada aqui pertinho do albergue, no Arena, que era do Steven Adler (ex-Guns n' Roses), mas estava bem caído, nenhum show e uma atmosfera Hard Rock Café demais pro meu gosto. Resolvi voltar ao Via Lactea. Mais cheio do que na segunda, mas a trilha sonora de ontem era rock dos anos 60. Ou seja, depois de 20 minutos, meu saco já estava arrastando no chao. A fumaça incomodava demais (o lugar é pequeno, lembra o finado Orbital em Sampa) e já pensava em partir quando o DJ (sic) tocou "Pode Vir Quente Que Eu Estou Fervendo". PQP, pensei, mas meu instinto karaokê foi mais forte e comecei a cantar sozinho num canto. Aí veio uma menina e perguntou se eu era português ou brasileiro. Olha, até começamos a conversar, mas é impossivel se manter uma conversa longa com a língua como barreira (sem trocadilhos). Mas o papo curto me permitiu descobrir (ela me contou, claro) que existe outro bar rock recém-aberto na Chueca, com o peculiar nome de Luke, Soy Tu Padre, o que já é um bom motivo para conferir, nerd que sou, e onde toca desde Velvet Underground até Arctic Monkeys e Sonic Youth. Ótimo.

Ontem o café da manha foi animado. Por ter acordado quase na hora do fim, a cozinha ficou cheia e toda a galera do pequeno albergue ficou batendo papo até 11 e pouco. Duas meninas da África do Sul, um casal do Canadá, um americano, um chinês e uma menina de Valencia. Foi otimo pra trocarmos informaçoes e em uma coisa todos concordamos: Madri nao gosta de turistas. O esforço pra se falar outra língua que nao seja o espanhol é mínimo, ate o dono do albergue insiste na incompreensibilidade (se é que essa palavra existe). Isso sem contar que uma porrada de lojas, restaurantes, boates e outros estabelecimentos está fechada pro verao, com os irritantes avisos de "disculpen las molestias". Ah, e vários pontos turísticos estao em obras. Porra, até a Casa de Lope de Vega, um museu, estava fechada ontem. E a rua (onde também morou Cervantes) toda quebrada. Vai se fuder! Cidadezinha anti-social da porra!

E como agravante nao existe um cemitério decente na cidade. Em cada lugar a que fui, pelo menos um cemitério ilustre é de lei visitar. Nao que eu seja gótico, mas tenho uma certa fixaçao com morte e tragédias, como já disse uma vez nos Diários de Byron Parker originais, quando da minha viagem à Califórnia. Quem nao leu vai ter que esperar, o HPG caiu e nao arrumei outro website para os back-ups. Aliás, se eu fosse gótico, estaria feito aqui. O que mais tem sao lojinhas de roupas emo-gothz, com nomes sugestivos como "La Muerte" e "Touch Me".

Eu tinha dito ontem sobre a culinária espanhola, mas, à exceçao dos pratos citados, é tudo meio nojento e pesado de se comer. Muitas carnes gordas, leitao, carneiro, vários tipos de presunto defumado diferentes, tem até uma rede de restaurantes / casas de venda chamada "Museo Del Jamón" (Museo do Presunto), a que eu e a galera do albergue vamos hoje à noite, saindo depois para um show grátis na Plaza Mayor e um legítimo "pub crawl", de bar em bar. "Presunto", em espanhol, significa "presumido", daí o nome da banda "Presuntos Implicados". Mas na boa, durante o almoço ontem, era difícil escolher de qual das carnes boiando em gordura eu nao iria nem chegar perto.

E por falar em bandas, deparei-me numa lojinha com um CD do Mucky Pup. Do baú essa! Quem se lembra daquele clássico da MTV Brasil nos anos 90, "Hippies Hate Water"? E isso me trouxe à memória também a letra tosca de uma bandinha brasileira dos 90, de cujo nome me esqueci, mas que era:

Puta que pariu
Meu gato pôs um ovo
Mas gato nao poe ovo
Puta que pariu de novo

O albergue onde estou, Mucho Madrid, é bem legal. Calmo, tranqüilo, limpo e caseiro, tem um público sossegado e confiável e é controlado por um casal de coroas, num prédio comercial na Gran Via (a Broadway daqui). O mais legal é ele ser 24 horas, ou seja, sai-se à noite e nao tem toque de recolher (curfew). Pra isso, tem um código no interfone na entrada do prédio para digitar a qualquer hora da madruga. O bizarro é que é o próprio coroa que destranca o portao e abre a porta. Caralho, o maluco é Highlander, nao dorme! Sinistro, medo dele. Mas gostei, recomendo com louvores. E o fato de ser pequeno faz com que todos se conheçam e combinem atividades juntos. Hoje vai rolar.

Sobre o dia de ontem, antes uma pequena introduçao: sempre fui uma pessoa cosmopolita, apesar da minha criaçao em subúrbio. Procurei correr atrás de novidades, o que era atual, moderno e cultuado, mas sem esquecer o contexto histórico e as tradiçoes de cada coisa sobre que pesquisava. E eu sempre adorei História, desde a infância. Só comecei a gostar de arte, no entanto, quando tinha 18 anos (em 1990) e comecei a cursar Aliança Francesa, o que fiz (com curso superior, o Nancy) por mais 10 anos. Daí em diante, nao só a cultura e civilizaçao francesas me excitam, mas também é comum eu ir a museus e galerias de arte com um conhecimento prévio e sabendo bem o que me agrada. Assim, posso dizer que sou fa de arte moderna e contemporânea, salvo raras exceçoes. Odeio arte abstrata e encaro com reservas tudo o que é pretensioso demais. Tenho uma queda por impressionistas e mestres da pop-art, mas sei apreciar coisas belas de qualquer época, em especial clássicos como Michelangelo, El Greco ou Rembrandt. O único que acho uma porcaria é o Miró, nao adianta, nao consigo engolir. Já tive a felicidade de ver de perto algumas das maiores obras de arte do mundo, como a Vênus De Milo, a Mona Lisa e o Pensador, entre muitas outras. Acho que ano que vem, quando for a Roma, terei fechado o circuito. E espero que alguém devolva O Grito de Munch até lá.

Deu pra perceber que ontem foi meu dia de ir aos museus da cidade: Prado, Reina Sofía e Thyssen-Bornemisza. Seguindo o ditado, este último foi o primeiro, uma coleçao particular de uma família rica, praticamente um namecheck de todos os pintores da História. Tem um quadro de cada um, pelo menos. 800 obras, mas nada muito impressionante, a nao ser a coleçao em si, supostamente a segunda maior do mundo, só perdendo pra Rainha Elizabeth. Próxima parada, o famoso Museu do Prado. Bom, arte muito antiga nao me traz alegrias em particular, mas eu queria conferir As Meninas, do Velásquez e, obviamente, La Maja Desnuda, o famoso quadro de Goya (a Maja Vestida nao tem graça, hehehe). O museu também tem ótimas obras de El Bosco (Hyeronimus Bosch), Caravaggio (que nao significa "caralho" em italiano) e Tintoretto e estava, conjuntamente com o Reina Sofía, com uma exposiçao especial de Picasso, para comemorar os 25 anos da volta da Guernica a Madri, depois de anos em Nova York.

Isso porque o regime do filho da puta do Franco sublimou toda a arte espanhola, fez com que escritores se exilassem e obras de arte ficassem protegidas no exterior à espera da volta da democracia. Inclusive, quando Franco morreu em 1975, a década seguinte ficou conhecida pelo restabelecimento da arte de uma forma geral (música, cinema, teatro, pintura) e do surgimento da noite madrilenha, com o nome de "la Movida".

Bom, após tirar algumas fotos e ficar puto porque nao consegui posar ao lado da Maja, já que ela foi destacada para a exposiçao do Picasso (ele fez uma versao dela), fui dar uma dormida no Parque Del Buen Retiro, o Central Park daqui. Ganhei fôlego para o que seria minha experiência mais tocante desde que cheguei. Antes, entretanto, um pulo na estaçao de Atocha, uma das principais bombardeadas nos atentados de 03/2004 e onde havia uma estufa gigantesca dentro, espécie de floresta tropical.

E aí chegou a hora do Reina Sofía. A arte moderna e contemporânea está toda lá, mas a exposiçao do Picasso, em salas separadas, era a vedete do museu.

INTERLÚDIO: Chorar diante do Picasso, um Picasso enorme, sentir o peso do Picasso, esboços (bocetos) de Picasso e por aí vai. Pronto, esgotei os trocadilhos de Quinta Série antes do relato a seguir.

Nao tenho como expressar em palavras o que foi ver a Guernica de perto, uns 15 minutos sem tirar o olho, analisando cada detalhe. Foi de tirar o fôlego. Nao só pela imponência do gigantesco painel, mas por saber o que ele significou na época, um protesto ímpar contra a Guerra Civil Espanhola e a simpatia de Franco com os regimes fascista e nazista que o ajudaram a bombardear o pequeno vilarejo de Guernica. Na exposiçao, outros quadros de Goya e Manet que inspiraram Picasso, em lados opostos da sala, o que dava um sensacional panorama se você ficasse parado no meio do salao olhando todos os quadros, um de cada lado. Também, todos os desenhos e esboços para a composiçao final do quadro, além de estudos sobre mulheres chorando e outro quadro dele sobre fuzilamento na Guerra da Coréia.

Sério, sentir todo o peso histórico e a influência de uma obra dessas, além de emocionante, me deu a verdadeira noçao do que é deixar sua marca para a humanidade. Justifica-se para toda a eternidade a necessidade da arte como forma de expressao.

Bom, já escrevi demais. Hoje é meu último dia aqui. Mas ainda tem Plaza de Toros, Nuevos Ministerios, estádio do Real Madrid e a balada conjunta com o pessoal do albergue. Ah, depois eu conto sobre a noite de ontem no Luke... e sobre o papo com Mariana.

Hasta luego. Escrevo agora só de Barcelona.

terça-feira, agosto 08, 2006

OUI, LOS QUIERO. THREE, POR FAVOR.

A frase acima foi pronunciada por mim ontem e é o que dá se chegar num país onde você nao fala a língua materna e tem que ficar enrolando com as semelhanças com o português e as outras que falo no estrangeiro. É um franco-anglo-portunhol de segunda e gerou duas sobrancelhas levantadas ontem pela pobre garçonete da simpática cervezeria do mais simpático ainda bairro de La Latina, onde fui começar a noite (ou acabar a tarde, já que só escurece umas 21:30), comendo montaditos (sanduíches de tapas) com o amargo e forte chopp espanhol. Aliás, comer é meu passatempo predileto aqui, além de comprar e bater perna feito louco. Talvez alguma destas fixaçoes justifique as outras duas.

Só o início do que prometia ser uma noitada e tanto, mas acabou encurtada pela minha chapaçao de só ter dormido uma hora de tarde (e nenhuma de domingo pra segunda). Embrenhando-me pelo underground de Madri, o bairro de Malasaña, cheguei à Plaza del Dos de Mayo, onde se concentram os roqueiros, indies ou nao. Em frente à Pizzeria Maravillas (de que o Piccoli já havia me falado) várias mesinhas lotadas praça adentro. Numa rua ao lado, o bar La Via Lactea, de que tinha lido mais cedo. Entrei e tocava Blur. Logo depois, The Cramps. Aí, Magnapop. Ecletismo e tanto, mas nenhuma música de 1998 pra cá. Estiloso, parecia com a Mariuzinn, um inferninho de neon, mesa de sinuca, alguns jovens gringos, mas todos em grupos. Tomei duas Coronas e o sono bateu. Em menos de duas horas, estava encerrada minha noite.

Terça-feira, martes, e o clima seco continua. De quando acordei até agora é acabar uma garrafa e já dá sede novamente. E haja protetor solar e hidratante! Bom, no café da manha no albergue comecei a conversar (eu, sempre o mais sociável com estranhos) com um casal em francês, pois tinha ouvido a menina (linda) falar com o namorado. Na verdade, eram de Bruxelas e, olhem só a coincidência, também iriam ao Pukkelpop semana que vem! Combinamos de fazer algo lá e já me indicaram o melhor chocolate belga pra se comprar. Também concordamos que o festival era o mais organizado do mundo (user-friendly, o único dos quatro a que vou com horários das bandas na net há quase um mês e intervalo pra você conseguir acompanhar quase todos os shows em palcos diferentes) e que prometia bastante. Preciso mesmo começar a temporada com calma.

De cara dei um pulo no Monastério das Descalças Reais, onde as freiras viviam em clausura e vários tesouros reais e obras de arte eram lá armazenados. Infelizmente, a visita do momento estava encerrada e a próxima, só em uma hora. Desisti. Desci no subsolo da praça onde havia lojas de CD e aí sim encontrei o verdadeiro tesouro: CD duplo do My Vitriol por 3 euros!!! DVD do Violent Femmes por 8 euros!!!! Outro CD do Fun Lovin´Criminals por 4 euros!!! Ah, esses guias de viagem nao sabem de nada!

Bom, o resto da manha foi dedicado a visitar o palácio Real por dentro. Antes uma passada para o clássico chocolate con churros na Chocolateria San Ginés, que fica aberta a madrugada inteira e é o point da galera baladeira na volta pra casa. Muito bom, mas, na boa, comer isso depois de uma bebedeira é sinal certo pra passar uma hora no banheiro se borrando. Quanto ao Palácio Real, realmente os Bourbons souberam construir algo decente quando o alcazar que ali existia ruiu em chamas, mas em matéria de luxo e grandiosidade ninguém supera Louis XIV. Versailles dá de 1000. Nem cama tem nessa porra, onde é que neguinho dormia? A Armeria Real foi bem mais interessante, com cavaleiros medievais e armaduras mil.

A tarde foi reservada para um retorno a Malasaña pra pegar as lojinhas style abertas e dar um pulo na Chueca, o bairro alternativo e gay daqui. Se Malasaña é o Lower East Side madrileño, La Chueca é Chelsea. Interessante. Após compras, eis-me aqui na Internet, oito da noite (15h no Brasil), pronto para começar a entornar. Mais tarde, ainda nao sei meu rumo, talvez a Dos de Mayo novamente. Ah, mais sobre comida: Vir a Madri e nao tomar um gazpacho, um jerez ou comer uma paella é impossível. Quem nao gosta de sopa gelada de tomate, vinho doce bagarai e arroz misturado com um monte de mexilhao (traduzindo pro popular) nao sabe nada de gastronomia.

Hasta Luego!

segunda-feira, agosto 07, 2006

EL MATADOR

Pois é, aqui estou, final de tarde. Quando deveria estar numa terrazza tomando uma caña (chopp) com tapas (nada de violência, só as coisinhas de comer mesmo), estou num cybercafé. O sol queima forte em Madri, mas o calor nem chega perto do fantasma anunciado. De manha fez até um friozinho no aeroporto, devia estar uns 18 graus. Agora, uns 33, suportável, mas nao esperava que fosse tao seco assim, parece Brasília!! Litros de água já foram consumidos e meu rosto parece o do Godzilla.

É, já deu pra perceber que eu desisti de tentar achar o til neste teclado. Se alguém descobrir como, me manda por e-mail.

A viagem foi a pior possível. Nao dormi uma hora sequer, apenas cochilei em momentos díspares ao longo da noite (ou terá sido do dia, nao sei, cinco horas foram consumidas do meu metabolismo). Pela idéia de jerico de antecipar o vôo pro meio da tarde, pela maldita criança de dois anos que chorou a viagem inteira (!!!!!!!!) e os moleques me dando chutes do banco de trás. Agora é oficial: ODEIO CRIANÇAS! MORRAM! Como resultado, fui obrigado a fazer a siesta às duas da tarde.

Pelo menos já andei por todo o centro velho e até no Mercado Fuencarral, uma Galeria Ouro Fino daqui, já fiz comprinhas. Mesmo abrindo tarde e com um monte delas fechada pro verao, já localizei as lojas de CD de rock alternativo, já conferi as promoçoes na Fnac e já achei o lugar onde há bares e boates de indie rock. Hoje vamos à la movida. É, e a mala nao vai dar.

Madri é bonita pacas, imponente, mas achei que fosse mais moderna em termos de arquitetura. Mantiveram muita coisa intacta, dá a impressao de que a cidade inteira foi tombada. Acho que o Franco era saudosista. E eu quero lugares com mais histórias violentas. A Plaza Mayor, onde havia decapitaçoes, fogueiras, entre outros eventos, é um lugar tranquilo, nada sombrio, cheio de mesas com turistas e um palco montado pro festival de verao. Quero sangue. Quero o lugar onde o Torquemada torturou centenas, por exemplo. Tinha até filial do Ben & Jerry, a famosa sorveteria de San Francisco. Claro, fui obrigado a provar um cone do notório Cherry Garcia, em homenagem ao finado líder do Grateful Dead.

E presenciei ainda há pouco meu primeiro acidente de carro. Esperava pra atravessar no sinal perto da Ponte de Segóvia, um furgao parado e outro carro vindo na transversal, inexplicavelmente, nao viu e nao conseguiu frear. Assim, na minha frente, bateu em cheio. Emocionante. Ninguém se machucou, claro. Senao, teria sido trágico. Além de emocionante.

Bom, vou lá. Hasta mañana. (Sim, o til só vem junto com o n).
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